27- coração de vidro

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  Acordei um pouco mais cedo do que deveria apenas para ficar observando Lorenzo dormir.
O rosto dele está tranquilo e livre de preocupações. Agora eu consigo ver quem ele é.

  Estiquei a mão e toquei o rosto dele, desenhando sua pele com a ponta dos dedos.
É estranho querer ficar aqui pra sempre?

  Lorenzo me encarou com os olhos azuis. Eu recolhi minha mão com vergonha, não esperava que ele acordasse tão rápido.

— você está me observando dormir?— ele perguntou com um pequeno sorriso no rosto.

— só estou gravando esse momento em minha mente caso hoje...

— não vai acontecer nada hoje— ele me interrompeu— vamos estar juntos. Vamos conseguir e você vai poder voltar para a formatura.

— é sério isso?— eu ri.

  Lorenzo me deu um selinho e sussurrou um "sim".

— vamos ver como estão todos lá fora— levantei da cama e peguei minhas roupas do chão.

  Lorenzo resmungou alguma coisa, mas eu não consegui ouvir porque já estava no banheiro pra tomar banho.
Tomei um banho demorado. Quando eu saí do banheiro Lorenzo já tinha ido.
Vesti a roupa que Troy Auream me deu na mansão dourada. É uma calça e uma blusa com mangas compridas de cor preta. Calcei meu par de coturnos e prendi meu cabelo.
Saí do quarto e fui procurar minha irmã, ela está na cozinha comendo. Juntei-me a ela.

  Peguei uma xícara de café e uma torrada, sentei-me ao lado dela na ilha da cozinha.
O Julian está com Samira na mesa traçando algumas linhas em um mapa da cidade, minutos depois Lorenzo se juntou a eles.

— aqui dentro tá vazio— comentei.

— Tyler e Alec estão treinando os lobisomens, Vanessa e Ezequiel estão com Álvaro perto da clareira...— Catelyn citou— como você pode ver, eles estão fazendo o plano B caso o A falhe— ela apontou para os três na mesa— Peter e Cody estão carregando as armas com os que sobraram de humanos.

— temos até às 6 da tarde, dá tempo— falei.

— espero que sim.

  Terminei meu café e fui atrás de Cody. Ele estava no fundo da casa com os outros.

— você vai querer uma dessas?— ele me perguntou quando eu me aproximei.

  Olhei para a submetralhadora e recusei.

— vai com apenas dois punhais para uma guerra?— Cody ergueu uma das sombrancelhas.

— isso me basta.

  Cody deixou as armas de lado e segurou minha mão. Ele me guiou até um tronco seco que estava debaixo de uma árvore, distante o bastante para conversar sem ninguém ouvir.
Sentamos no tronco e ficamos observando o sol se erguendo no céu, as pessoas mexendo em munições. Até deu pra ouvir os lobisomens treinando na frente da casa.

— vamos ficar aqui parados?

— sim— Cody respondeu apenas— vamos aproveitar um pouco aqui. Merecemos isso.

  Encostei minha cabeça no ombro dele e continuei em silêncio. Vimos quando Peter e os outros terminaram com as armas. Vimos Ezequiel e Vanessa voltarem da mata, minutos depois, Álvaro. Eu até parei de ouvir o treinamento, presumi que acabou.
Ficamos apenas parados tempo o suficiente para todos terminarem o que estavam fazendo... e foi bom.

— o céu está lindo hoje— abri os olhos e vi Tyler se aproximando— aqui é um lugar legal. Tranquilo.

  Ele sentou no chão na nossa frente.
Minutos depois vieram Alec, Vanessa, Cate, Enzo, Peter e Ezequiel e se sentaram também.
Enzo sentou do meu outro lado. Eu segurei a mão dele e sorri por um momento.

— então aqui estamos nós, um bando de jovens tentando salvar a cidade— Tyler disse.

— a gente pode contar histórias enquanto esperamos— eu sugeri.

— boa ideia, Kathzinha. Eu quero saber a primeira vez que você ficou cara a cara com o Enzo— Tyler falou encarando o irmão.

— eu esbarrei nele no corredor— contei— estava bisbilhotando Vanessa um pouco antes de tudo. Inclusive, por que exatamente você não gostava de mim?— perguntei a Vanessa.

— porque eu sou lobisomem, você é caçadora. E porque eu não concordava muito com o meu pai.

— entendi.

— eu ainda não gosto de você— ela deixou claro.

  Rimos com muitas das histórias contadas. Ezequiel contou como acabou morando com Samira e como ele sente saudades da Alemanha. Cate contou histórias da nossa infância e Tyler até contou como ele e os irmãos mais novos cresceram. Peter contou várias histórias sobre Vermilion e eu acabei lembrando da falta que eu sinto dos meus pais.

— era para ela estar aqui— Cody murmurou— Jeannine.

  Todos ficamos em silêncio em respeito a Jean. Ela merecia mais.
Tenho uma dívida com ela que nunca poderei pagar​.

  Julian e Samira vieram nos chamar.
É a hora.

  Nós nos levantamos e nos entreolhamos. Foram dias difíceis, não foi fácil se esconder.
Voltamos para dentro da casa onde os outros estão reunidos.

— você deveria falar alguma coisa— Samira​ falou e Enzo concordou.

  Subi dois degraus da escada e respirei fundo. Olhei para cada um alí e percebi que encontrei o que eu precisava. Uma nova família que se importa comigo.

— eu queria agradecer a vocês...— comecei meu discurso improvisado— que mesmo depois do que aconteceu na mansão dourada não desistiram. Sinto muito por cada perda, pois elas foram minhas também. Eu vim para Long Beach com um propósito, proteger pessoas e é o que eu vou fazer— uma lágrima escorreu pelo meu rosto— estivemos juntos por muitos dias e vamos permanecer juntos até o anoitecer.

  Limpei meu rosto e saí.
Cody ligou o carro, Lorenzo sentou ao meu lado no banco traseiro.
Eu fiquei olhando para trás até ver a casa desaparecer, depois disso pude olhar para frente.

— tem certeza disto?— Cody perguntou.

— sim, vamos para o instituto.

  Cody acelerou e não demorou muito até chegarmos na cidade. Ele pegou uma rota alternativa para o instituto, minha ansiedade aumentou muito. Consegui escutar as batidas do meu coração.
Quando Cody entrou no estacionamento eu perdi quase todo o ar.
Peguei o celular e mandei uma mensagem para Catelyn.

...

— Catelyn.

  O meu celular vibrou e eu vi o aviso de Katherine, ela chegou no instituto.
Avisei a Peter e ele dirigiu para o centro da cidade em alta velocidade.
O plano é que Peter, Tyler, Ezequiel e eu distraia os caçadores até minha irmã conseguir encontrar e salvar o Sr. Pierce.

  Peter entrou em grande estilo. Ele bateu nosso carro em outro que estava estacionado, antes ele atropelou vários caçadores.

  Descemos do carro e ficamos parados no meio da rua. Alguns caçadores vieram correndo da outra rua até aqui.
Agora não tem volta.

— se caso eu morrer, joguem minhas cinzas no Atlântico— Tyler pediu— e sirvam tequila no meu funeral.

— faremos isso se eu viver— falei.

— pode vim, galera!— Tyler gritou e os caçadores vieram em nossa direção o mais rápido possível— é hora do show.

ANOITECER: os caçadores de lobisomens (1° Versão - Rascunho)Onde histórias criam vida. Descubra agora