ANOITECER: os caçadores de lobisomens (1° Versão - Rascunho)

31- acho que é hora de sair

   É mais fácil chorar no banho. Aqui ninguém pode ver meus olhos vermelhos, lágrimas escorrendo e olhar de desespero.
Falta umas 2 horas até o enterro do Enzo começar, e pra mim essa ficha ainda não caiu.
Eu tive esperança ontem, depois, senti raiva. Eu até cogitei a ideia mais insana do mundo... Cogitei o impossível.
Mas, agora, eu só sinto uma tristeza intensa. Eu sei que ele nunca vai voltar e isso dói tanto.

  Eu soquei a parede com tanta força que os azulejos quebraram em volta da minha mão.

— Katherine? Tá tudo bem?— Cody perguntou do outro lado da porta. Respirei fundo.

— sim, foi só o shampoo que escorregou.

  Escutei Cody se afastar. Eu desabei no chão e me encolhi no canto. Continuei chorando baixinho para ninguém me ouvir.

  Quando escutei Catelyn me chamar, levantei e me recompus. Terminei o meu banho e fui me vesti.

  Coloquei o vestido que usei no funeral dos meus pais, ele é preto simples e opaco. Coloquei o único par de salto alto preto que eu tenho e prendi meus cabelos. Passei bastante corretivo para disfarçar meus olhos inchados, Enzo não ia querer ver meu rosto tão triste.

  Catelyn levantou do sofá quando me viu, ela está muito bem vestida. Cody está de terno e com os cabelos penteados para trás. Ele veio até mim e segurou minha mão. Sei que esse dia também não vai ser fácil pra ele, o instituto ligou mais cedo. Vão cremar o corpo de Jeannine hoje.

  Minha irmã vai dirigir, acho que ela é a mais apta neste momento.
Passamos na casa do Peter e só depois seguimos para o cemitério de Long Beach.

   Minha irmã e o Peter saíram do carro e foram na frente.

— você consegue fazer isso— Cody falou, segurando minha mão— hoje e amanhã será difícil, mas eu estarei aqui para tudo que você precisar.

— eu também vou estar aqui pra você sempre.

  Saímos do carro e entramos no cemitério. Todos estão na capela, se Cody não estivesse segurando minha mão acho que eu não conseguiria fazer isso.

  O caixão está aberto ainda, quando eu vi o rosto do Lorenzo tão pálido e sem expressão alguma eu não consegui conter as lágrimas.

  Ezequiel veio até mim e me abraçou. Ele disse algumas coisas, mas eu não entendi nada. Não consegui parar de olhar para o Enzo.
Ezequiel se afastou e uma mulher se aproximou.

— Katherine Whittmore— ela segurou minha mão— eu sou a mãe do Lorenzo e do Tyler, é uma pena nos conhecermos nessa situação.

— é realmente uma pena, mas estou feliz em conhecê-la— falei.

— eu não era tão presente na vida do meu filho, mas eu sei que ele gostava muito de você— ela sorriu gentilmente— espero que consiga seguir em frente, Katherine.

  A mãe do Enzo voltou para perto do Tyler, a alcatéia dela toda está aqui.
O Sr. Parker foi ao lado do caixão para falar algumas palavras.

— Lorenzo era um jovem com compaixão, sempre tentava fazer o certo. Ele via um bem nas pessoas que eu, sinceramente, não consigo ver. Ele cuidava de quem amava... ele era o meu filho querido— Sr. Parker olhou uma última vez para o filho e se afastou.

  Foi a vez de Vanessa falar.

— Lorenzo e eu nem sempre tínhamos a mesma opinião, mas isso nunca mudou o meu amor por ele. Lamento não ter dito muito isso enquanto eu tinha tempo. Ele era um homem de honra e a falta que ele vai fazer será incurável.

  Vanessa deu espaço para Alec, que falou coisas bonitas e se despediu do irmão, logo após a Sra. Casanova falou suas últimas palavras para o filho.
E por fim, Tyler.

— Lorenzo era uma das melhores pessoas que eu conheci, era sonhador e a melhor companhia que alguém poderia ter. Ele nunca sentiu nada pela metade, ele ficava triste pra valer, ficava com raiva pra valer... Ele amava pra valer— Tyler pausou, olhou para o rosto do irmão, e secou uma lágrima solitária na sua bochecha— eu vou sentir sua falta, irmãozinho. Não haverá sequer um dia na minha vida que eu não pense em você e nos nossos momentos bons. Eu te amo, cara.

  O Sr. Parker fechou o caixão e depois veio até mim.

— eu quero te pedir que os acompanhe— ele pediu.

  Eu me aproximei do caixão, Vanessa e eu iremos segurar na frente enquanto Alec e Tyler irão carregar a parte de trás.

— você consegue— Vanessa sussurrou segurando o outro lado do caixão.

  Saímos da capela e levamos o caixão até a cova. Os coveiros o enterrou ao lado dos outros da família Parker.
“Lorenzo Casanova Parker (2000-2019) amado irmão”, escreveram isso na lápide dele.

— recumbent cum Licaon— a alcatéia disse em coro.

— descanse em paz, meu amor— eu sussurrei.

  Todos nós deixamos uma flor no túmulo. Foi difícil fazer tudo isso.
Quando a cerimônia terminou, Tyler, Peter, Alec, Vanessa, Ezequiel, Catelyn e eu acompanhamos Cody. Passamos no instituto e pegamos as cinzas de Jeannine, depois fomos para o píer.

— ela merecia mais— Peter falou.

— ela disse que você é um bom amigo— eu sussurrei para Peter.

  Cody se aproximou da beirada e derramou as cinzas no oceano.

— sua luta acabou, mas seu legado não— Cody disse— venatu prospere consummata— Cody, Cate, Peter e eu dissemos juntos.

— descanse em paz, Jeannine Roosek— Tyler falou quase sussurrando​.

  Ficamos​ um tempo no píer. Os Parker foram os primeiros a irem para casa, um tempo depois Cate e Peter se foram também.
Eu estava pronta para ir também.

— antes dela ser pega ela me disse que você era a pessoa mais importante da vida dela.

— e ela era a mais importante pra mim— Cody falou— vamos ficar bem algum dia?

— hoje vai doer, amanhã também, mas algum dia nosso coração vai ter cicatrizado.

  Deixei Cody no píer e voltei para casa caminhando. Fazer isso foi um pouco reconfortante. Tive tempo para pensar.

  Caminhar por ruas vazias me fez lembrar que tudo passa muito rápido, não podemos parar por um segundo sequer, ou então perdemos tudo. Esse lugar, essa vida... tudo é tão passageiro e fácil de desaparecer. Long Beach sofreu com perdas e a maioria das pessoas nem sabem o que aconteceu aqui.
A minha missão aqui acabou, não há mais Gigante apavorando a noite, não há mais o projeto Leopardo. É hora de deixar Long Beach. Tudo que me prendia aqui foi enterrado hoje.
É hora de arrumar as malas.