Eu não quero ir nesse churrasco!

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*Um presentinho de natal para meus antigos leitores e os novos também*

*Leiam as notas finais*


19h12min: Som estridente da campainha.

Argh! Uma coisa que eu realmente odeio é ser acordado. E ser acordado pelo barulho da campainha me faz desejar comprar uma pistola e deixá-la guardada debaixo da minha cama e bem carregada. E o que me faz ter vontade de usar uma pistola bem carregada, sem arrependimentos e hesitações, é saber que quem toca a campainha é meu melhor amigo muito empenhado em me arrastar para uma festa de véspera de aniversário "surpresa", com a desculpa de que é só um jantar com churrasco de porco para os amigos da empresa.

Claro que eu não queria ir! Eu estava com uma puta ressaca. Queria aproveitar o resto do sábado dormindo e só acordar quando os filmes de terror da madrugada estivessem passando na TV a cabo. Eu me serviria de um copo de suco de laranja e um sanduíche de peito de peru. Tudo bem light para compensar o estrago da sexta à noite. E se minha dor de cabeça passasse, uma taça de vinho não me mataria. Mas só uma taça! Talvez duas.

A campainha continuou, insistente e irritante.

Nota mental: 1 – Fazer aulas de tiro. 2 – Conseguir licença para porte de arma de fogo. 3 – Comprar uma pistola (de preferência se for pequena, como a do James Bond).

– Baekkie, eu sei que você está aí!

O inconveniente do outro lado da porta era Luhan, o meu favorito dos meus três melhores amigos. Os outros dois eram Zi Tao e Yixing (este apelidado de Lay). Todos chineses. Isso porque eu moro há anos em um bairro vizinho a um bairro chinês. Nos conhecemos na escola, fizemos faculdades separados, mas sempre festejando às sextas-feiras em bares e baladas. E agora que trabalhamos na mesma empresa, isso se repete nos finais de semana. Costumávamos conversar sobre homens, pegação e solteirice até Tao arrumar um namorado e Luhan arrumar um caso "escondido" - só Luhan achava que estava sendo discreto - com um de nossos amigos em comum. Para mim, parecia mais um relacionamento aberto ou um quase namoro. Assim, só sobrando Lay e eu de solteirões deprimidos do grupo.

Luhan não parava de tocar a maldita campainha e gritar o meu nome. Meus vizinhos já estavam mais do que acostumados com escândalos na minha porta, mas minha cabeça não estava mais aturando aquele barulho insuportável.

Foi com muita dificuldade e esforço que me levantei da cama e calcei minhas pantufas em formato de coelhinhos - infantil, mas eu amo bichinhos. Minha cabeça latejava como um pênis excitado e o gosto amargo na minha boca me fez pegar uma balinha de menta no pote de balinhas que eu deixava na sala.

Chutando as roupas e bingas de cigarro jogadas no meio do caminho, cheguei à porta. A expressão de Luhan era animada quando a abri, ele foi me empurrando e invadindo a minha casa como o bom intrometido que é.

– Dormiu até agora? – Era mais uma afirmação que uma pergunta.

– E pretendia dormir até as oito horas.

– Nada disso! Você vai agora tomar um banho, lavar essa cara amassada, depois passar uma maquiagem nessas olheiras de panda e vestir uma roupa bem sexy. – Ele me viu reclamar e continuou com um tom mais autoritário: – Você vai, sim, para a casa do Kris. Lá é bem espaçoso e ele faz um Toeji Kalbi Kui melhor do que qualquer coreano. E caso você não aguente, podemos dormir por lá mesmo. É até melhor, porque já estaremos juntos para comemorar o seu aniversário amanhã.

– Eu não vou dormir na casa do Kris. E não vou comemorar meu aniversário amanhã.

Sua risada de escárnio até me assustou.

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