Seus dedos se esticaram de modo lento até seu telefone — sendo este um Nokia 6110, comprado a alguns anos atrás — dizia seu pai que era o lançamento da década, e, por conta disso, San precisava do mesmo. Em sua humilde opinião, era apenas pretexto para que mais dinheiro fosse gastado de modo, aparentemente, leviano. Se questionava se devia mandar uma mensagem para Goeun e explicar a situação, porém ao pensar nisso, deixou quieto; conversaria pessoalmente com esta, e assim poderia debater com mais cuidado acerca da atual situação.
A ansiedade dominava cada pedaço de suas veias, olhava para todas as roupas que tinha mas nenhuma lhe agradava cem por cento. Um suspiro cansado escapou por entre os lábios, se sentindo pressionado cada vez mais — e era apenas uma escolha de roupas, nada tão sério assim — e enquanto devaneava sobre, escutou batidas na porta e teve de interromper sua linha de raciocínio para abrir a mesma.
Encontrou Jongho do outro lado, um sorriso adornava seus lábios e ele segurava uma sacola com, aparentemente, lanches. San permite sua entrada, além de abraçar rapidamente o mesmo, e voltar para o quarto.
— Aconteceu algum coisa? — o mais novo pergunta, indo até o outro cômodo. Ele observa San analisar duas camisetas em mãos, o olhar indo e vindo tão rápido que Jongho deduzia que uma dor de cabeça logo mais chegaria.
— Ah, você não faz ideia. — sussurrou com sua atenção ainda voltada para as roupas. Enquanto olhava para a blusa de tom pastel, começou a analisar qual calça escolheria. — Qual calça?
— A mais escura, por quê? Mas, diz, o que aconteceu?
Segurou a calça citada juntamente a blusa que havia gostado, o conjunto encantando seus olhos. Ele nunca foi alguém que ficava nervoso com facilidade, mas quando se tratava de Jung Wooyoung era totalmente o oposto. Podia sentir as mãos molhadas devido a umidade excessiva; sentia, também, os lábios ressecados; e, claramente, sentia seu coração bater tão rápido que parecia que sairia por sua boca.
Vestiu o conjunto escolhido de maneira contida — ainda que aparentasse estar apressado — e se olhou no espelho do quarto, o mesmo exibindo sua aparência, ainda que o reflexo se encontrasse parcialmente sujo. Tentou sorrir de maneira a aliviar o clima, mas isso apenas serviu para que ficasse mais nervoso ainda.
— Wooyoung está vivo, Jongho. — conta para o irmão, soltando a respiração que nem sabia estar prendendo. Dizer isso em voz alta assustava bem mais do que a possibilidade de seu ex amado estar, de fato, vivo.
Jongho se sobressalta com tal notícia, por longos anos presenciou o mais velho sofrer com o ocorrido. O via chorar na data que tudo aconteceu, ficava isolado do mundo nesse dia e evitava qualquer investida de interação social. Nada parecia funcionar, então Jongho optou por deixar San vivenciar a dor que apenas ele sentia. E agora, dez anos depois, o garoto dizia que Wooyoung estava vivo?
— Como? Você mesmo me disse que viu um túmulo e que era dele. — abismado, ele responde. De fato, era uma dor somente de San, porém aquele evento marcou a vida de Jongho, o levando a ver o irmão com outros olhos. A antiga alegria que existia no mesmo já não era mais vista, tudo havia sido levado embora quando Wooyoung morrera.
Soubera do caso de ambos após tudo, embora desconfiasse de que alguém — ainda sem saber quem — fazia o mais velho feliz. Enquanto ômegas e betas tentavam chamar a atenção de San, parecia que alguém já tinha feito isso e de uma forma mais certeira.
— É isso que vou descobrir agora. — explica-se para Jongho momentos depois. — Vai dormir aqui hoje? — um aceno positivo, e, diante disso, San sorri. — Beleza, vou ver se Goeun pode fazer o mesmo e vamos todos conversar sobre. Sem bagunças, ok? Se cuida, até mais tarde.
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Retro.
Hayran KurguEnquanto o sol ardente de noventa queimava, ambos os corações queimavam juntos. A década de noventa se tornou um marco quando, pelo acaso, uniu dois garotos com sobrenomes que, infelizmente, se odiavam entre si. E, embora semelhante a um conto Shake...