Capítulo 1

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Nervosa, Lili Reinhart deu uma olhada no espelho para ver como estava, mesmo sabendo que ninguém iria reparar nela. Exceto Cole. Apesar de não ter confirmado, ela sabia que ele viria, como havia feito nos dois últimos anos, e a levaria ao cemitério para visitar o túmulo do marido e enfeitar o lugar com algumas flores.

As flores estavam no balcão ao lado, à espera que ela as pegasse e levasse consigo. Mas ela hesitou porque este ano... Este ano era diferente. E, embora apreensiva, Lili estava decidida.

Ela tinha de seguir com sua vida. Tinha de libertar-se. E isso doía, mas, ao mesmo tempo, trazia um certo alívio, como se um grande peso tivesse sido retirado de seus ombros. Já estava na hora. E a única coisa que faltava era visitar o túmulo de Brett e ficar em paz com sua decisão.

Ela ajeitou sua camiseta e alisou a calça jeans. Não era o que normalmente vestiria para ir ao cemitério no aniversário da morte de seu marido. Nos últimos anos, sempre se vestira de preto porque achava que uma roupa mais descontraída poderia ser desrespeitosa ou dar a impressão de que aquela visita não tinha importância.

Mas ela sabia que Cole não ia querer que ela vivesse assim: ao contrário, ele sempre quis a felicidade dela, e insistir naquele luto tão profundo certamente o deixaria triste.

Com um suspiro, Lili passou o brilho discreto nos lábios e rapidamente prendeu seus longos cabelos em um rabo de cavalo, deixando parte deles solta, em um coque desarrumado.

Esta era a verdadeira Joss. Sem frescuras. Mais à vontade em uma calça jeans e camiseta básica do que usando os vestidos caros, as joias, os mimos que Brett adorava lhe dar.

Somente debaixo da roupa ainda vestia a lingerie sexy de que ele tanto gostava.

Fechou os olhos, tentando não se lembrar do passado e de como se sentia quando as mãos dele acariciavam seu corpo, que ele conhecia até melhor do que ela. Brett sabia como agradá-la, como tocá-la, como beijá-la, como fazer amor com ela.

Ele deu tudo o que ela sempre quis. Amor, respeito - tudo mesmo, exceto a coisa de que ela mais precisava, algo que ela nunca poderia lhe pedir, pois o amava demais para pedir algo que ele não poderia dar.

Lili sacudiu a cabeça para afastar aquele pesado véu de tristeza, determinada a terminar aquele dia e a começar uma vida. Sua nova vida.

Pegou as flores, suas favoritas, e as cheirou, fechando os olhos para sentir melhor o perfume. Brett adorava presenteá-la com aquelas flores, nos aniversários dela ou do casamento deles. Ou então a qualquer momento, sem motivo específico. Hoje era a vez dela:

colocaria as flores no túmulo e iria embora - desta vez para sempre.

Ela não precisava de uma lápide de mármore com as datas de nascimento e morte para preservar a lembrança de seu marido. Não era assim que pretendia se lembrar dele e não queria mais sofrer com a tortura de visitar o cemitério e sentir saudades toda vez que respirava.

Brett moraria para sempre dentro do seu coração e da sua alma e, no futuro, seria lá que o visitaria, não no pedaço de terra e grama que cobria seu caixão.

Lili rapidamente se dirigiu até a porta de entrada e, quando saiu, o brilho repentino do sol ofuscou sua visão. Embora ainda fosse primavera, o tempo em Houston já estava quente e ela ficou feliz por ter escolhido a camiseta de manga curta e não o vestido preto que costumava vestir.

E lá estava Cole, encostado no carro, esperando por ela como havia previsto. Ele se endireitou assim que a viu, e Lili percebeu um breve lampejo de surpresa em sua feição antes de ele se recompor e estender a mão para ela.

Ela roçou seus dedos nos dele, apertando sua mão com delicadeza. Não era preciso dizer nada: ambos sentiam a falta de Brett, marido e melhor amigo.

- Você está linda, Lili- disse Cole, enquanto a conduzia até o carro.

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