Capítulo 3

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Cole Sprouse estacionou o carro na frente do The House e ficou sentado um instante, pensando novamente por que tinha vindo. Normalmente, no aniversário da morte de Brett, Cole passava o dia - e a noite - com Lili. Ele ficava muitos outros dias com ela também, mas nos primeiros dois anos ele havia passado o dia todo ao lado dela, abraçando, confortando e dando apoio.
Aquele era o inferno pessoal dele.
Era horrível estar apaixonado pela mulher do melhor amigo, e Cole se sentira culpado durante todo o casamento dos dois. Brett sabia. Tinha percebido, apesar das tentativas de Cole de esconder seus sentimentos. Mas seu melhor amigo era observador e o conhecia mais do que ninguém. Não eram apenas sócios nos negócios, mas praticamente irmãos, embora Cole não tivesse passado pelo inferno que Brett e Kylie enfrentaram na infância.
A família de Cole era o oposto da de Brett. Se é que alguém poderia chamar aquele idiota, o pai dele, de família. Os pais de Cole ainda eram apaixonados um pelo outro do mesmo jeito que eram quando se casaram, há quarenta anos. Tiveram cinco filhos: os dois mais velhos, Cole e as duas meninas mais novas, que eram protegidas e mimadas pelos irmãos.
Aquela família enorme e unida surpreendera Brett desde o primeiro momento, pois ele não sabia como se comportar em um ambiente familiar normal e bem ajustado. Mesmo assim, eles receberam de braços abertos Brett e depois Lili, quando os dois se casaram. Até mesmo Kylie foi acolhida, embora ela fosse mais reservada e cautelosa do que Brett.
Cole suspirou novamente, saiu do carro e se encaminhou para o The House. Nem estava muito interessado em fazer alguma coisa hoje, mas se sentia agitado e nervoso. Não conseguia parar de pensar em Lili o dia inteiro desde a ida até o cemitério, quando percebera algo diferente nela.
Não sabia explicar o motivo daquela mudança repentina. Ela saiu de casa vestida com calça jeans e camiseta e estava tão linda e jovial que o peito de Cole doía só de lembrar.
Quando chegaram ao túmulo, Lili pediu para ficar a sós e permaneceu um bom tempo conversando com Brett. Quando voltou, o comportamento dela parecia mudado. Em seguida, Lili começou com aquele discurso sobre não precisar dele. Pedindo desculpas, pelo amor de Deus, por ser um fardo pesado, por tomar tempo da vida de Cole! Que diabos, ela nem percebia que sua vida era ela. Ou que, pelo menos, é o que ele queria que fosse.
Cole fez o check-in na entrada e deu uma volta pelo térreo, onde ficavam os ambientes sociais. Era lá que as pessoas se encontravam, bebiam um bom vinho e conversavam antes de subirem para a sala comunitária ou para uma das suítes privativas.
Havia muitas mulheres lindas e muitos olhares interessados. Já fazia tempo que ele não aparecia por lá para aliviar a tensão. Em geral, Cole resolvia ir depois de passar um tempo com Lili. E fingia que quem estava com ele era ela, o que fazia dele um cafajeste. Mas ele cuidava bem das mulheres para que não desconfiassem que não passavam de pobres substitutas da mulher que ele não podia ter.
Será que finalmente Lili estava virando a página? Naquele discurso no carro ela pareceu dolorosamente direta e isso tinha sido difícil para ele. Cole viu a pura emoção nos olhos dela quando disse que Brett não voltaria mais, que era preciso aceitar isso e seguir em frente.
Será que estava falando sério?
Cole tinha medo de ter esperanças e acabar tomando a atitude errada. Não podia estragar tudo, forçando a barra. Ela o via como um amigo e se considerava um fardo para ele. Alguém de quem ele tomara conta durante o luto, sem jamais perceber que ele vivia à espera dos momentos que passava ao lado dela.
Brett sabia que seu melhor amigo estava apaixonado por sua esposa. Sabia e aceitava.Cole temera que isso estragasse não apenas a amizade, mas também a sociedade nos negócios.
Só que Brett tinha entendido tudo e confiava em Cole, acreditava que ele jamais tentaria alguma aproximação - chegou até a arrancar de Colea promessa de que, se algo acontecesse a ele, o amigo tomaria conta de Lili.
Que droga! Seu melhor amigo confiara a esposa a seus cuidados se algo acontecesse.
Para piorar, essa promessa tinha sido feita apenas algumas semanas antes do acidente, como se Brett soubesse. Será que ele tinha tido algum pressentimento de que Lili logo se tornaria uma jovem viúva?
Na época, Cole fez questão de não pensar muito nisso.
Se algum dia algo acontecer comigo, cara, prometa que vai ficar ao lado da Lili. Sei que você a ama. Se chegar o dia em que não poderei mais estar aqui, quero que você prometa que vai cuidar dela e amá-la tanto quanto eu.
As palavras ecoavam em sua mente. Seria uma espécie de profecia ou apenas uma coincidência?
Naquele tempo, a promessa era apenas uma lembrança dolorosa de tudo o que Brett tinha e Cole não. Lili era... linda. Não só fisicamente. Ela conseguia iluminar qualquer lugar apenas com sua presença. Tinha um sorriso gentil capaz de conquistar o coração mais duro. E nunca nem olhara para outro homem enquanto estivera com Brett. Sabe Deus quantos homens querem seduzir a mulher de outro homem! Mas Lili agia como se não soubesse o efeito que tinha sobre eles, e isso a tornava ainda mais desejável para Cole.
Depois de dar uma espiada nas salas sociais, ele pegou uma taça de vinho - Damon Roche só servia o melhor - e subiu para a sala comunitária.
Escapadinhas sexuais de diversos tipos estavam acontecendo ali, como de costume, na grande sala aberta. Não havia divisórias físicas - somente os participantes, entretidos em suas atividades, dividiam o espaço.
Uma mistura de sons e aromas deu as boas-vindas a Cole. O barulho de tapas, carne sobre carne, o estalo de um chicote, os suspiros, gemidos e gritos de êxtase. Alguns de dor. Outros de prazer. O ar estava impregnado com cheiro de sexo.
Brett atravessou a sala, observando os ocupantes e torcendo para que Tate e Chessy não estivessem presentes. Não que ele fosse pudico, mas testemunhar o sexo de outros amigos não era sua prioridade. A princípio isso não deveria ser uma preocupação, porque os dois haviam sumido do The House já fazia alguns meses. E, nas poucas vezes em que encontrara o casal, ficou pouco tempo porque não queria constranger a Chessy.
Ela era uma mulher muito especial e Tate era um filho da mãe de sorte por ter a perfeição em pessoa: submissa e linda, confiando completamente em Tate. Não havia presente mais precioso do que a submissão de uma mulher.
Era o que Cole queria também e sempre procurara em todos os seus relacionamentos. Mas por Lili, se ela assim quisesse, ele negaria esta parte tão profunda de si mesmo só para poder ficar com ela. Conhecendo o passado de Brett, Cole tinha certeza de que eles nunca haviam experimentado este tipo de ousadia.
Depois que conheceu Lili, todos os relacionamentos de Cole se limitaram a sexo casual.
Desde que ela entrara em sua vida como um furacão, não houvera outra mulher para ele. Ele satisfazia suas necessidades e as de sua parceira e depois seguia em frente, sem nunca querer se comprometer, só porque Lili era inatingível. Mas isso não era mais verdade. Ela estava livre. Será que conseguiria amar outro homem como amara Brett?
Esta era a pergunta do dia. E será que Cole ficaria satisfeito com apenas uma parte do coração dela?
A resposta, sem dúvida alguma, era afirmativa. Claro que sim, ele aceitaria qualquer coisa dela. A questão era: quando tomaria uma atitude?
Hoje ele tivera o primeiro raio de esperança em três anos: Lili dera sinais de que estava pronta para deixar o luto e voltar a viver. Ele tinha sido paciente e oferecido o apoio de que ela precisava, mas queria ser muito mais do que isso.
Dirigindo-se até um dos cantos da sala, Cole recusou educadamente, com um sorriso gentil, uma mulher que queria lhe servir. Numa outra noite, ele até poderia aceitar, fechar os olhos e abraçá-la bem forte, imaginando que fosse Lili. Mas hoje ele só pensava nela e não conseguiria fingir, como já tinha feito tantas vezes antes.
Sua família pensava que ele era um tolo por não ter tomado uma atitude muito tempo atrás, mesmo assim, apoiara-o nesses três últimos anos. Seus irmãos perguntavam quando ele iria agir, mas Cole sentia que a hora ainda não tinha chegado. Não naquele momento. Mas e agora?
Sentiu uma ponta de esperança quando esteve com Lili naquela manhã, pois notou a diferença nos olhos e na atitude dela. Mas depois veio aquela droga de pedido de desculpas por ser um fardo, com insinuações de que ela não queria mais esse tipo de aproximação.
Diabos! Se ela achava que ele iria se afastar, estava muito enganada.
Com um entusiasmo cada vez menor, Cole observou mais um pouco o ambiente, sem saber por que estava ali. O que queria mesmo era estar com Lili: assistir a um filme e tentar fazer com que ela esquecesse sua dor. Ou seja, fazer exatamente o que tinha feito nos dois últimos anos - e muitas outras vezes também. O dia não acabara como ele esperava. Tinha liberado sua agenda e atendido seus clientes para poder dedicar o dia a Lili.
Ele não esperava ser dispensado após a visita ao cemitério.
Neste momento, percebeu quando um casal entrou e precisou olhar de novo para confirmar.
Que merda é essa?
Não conseguia parar de olhar, incapaz de acreditar no que estava vendo: Lili, ao lado de um homem que Cole conhecia do The House. Ele a abraçava pela cintura, a mão possessivamente sobre o quadril dela, deixando nenhuma dúvida sobre sua... posse. Ou posse iminente.
Ela estava com um vestido preto bem justo, que desenhava cada curva do seu corpo perfeito. Os sapatos eram altamente sensuais, implorando que qualquer homem transasse com ela naqueles saltos até que ela gritasse o nome dele sem parar.
Seu cabelo estava preso, só alguns cachos caindo preguiçosamente no pescoço esbelto, chamando atenção para a delicadeza de suas feições.
Parecia que Lili estava morrendo de medo.
Cole começou a atravessar a sala antes mesmo de pensar sobre o que estava fazendo. Aliás, que diabos ela estava fazendo ali? Em um maldito estabelecimento que se dedicava a todo tipo de prática sexual?
E o homem que a acompanhava vivia no The House, tinha várias mulheres submissas e raramente ficava com a mesma mulher duas vezes. Apesar disso, lá estava ele, abraçando possessivamente Lili, com um olhar cheio de luxúria.
Que droga ela achava que estava fazendo?
A apenas alguns metros dele, Lili ergueu os olhos e ficou chocada, surpresa, mortificada em vê-lo. Encheu-se de pânico e se afastou de Dylan, o homem que a acompanhava.
Dylan rapidamente a puxou de volta e isso enfureceu Cole ainda mais. Cole segurou Lili pelo braço e a trouxe em segurança para seu lado.
- Que diabos, Sprouse? - Dylan perguntou, segurando a outra mão de Lili.
Cole imediatamente se colocou entre Lili e Dylan, protegendo-a com seu corpo.
- Afaste-se dela - Cole mandou. - Agora.
As sobrancelhas de Dylan se arquearam e ele ficou observando os dois um instante, antes de desistir, levando as mãos para o alto. Nada característico de um homem como Dylan, um dominador que não se entregava a ninguém. Mas, ao julgar pelo olhar de cautela que ele deu, Cole sentia que estava parecendo um louco, pronto para explodir. E Dylan fazia bem em ser cauteloso: Cole estava bem próximo de perder controle.
- Vou procurar outra companhia para esta noite - Dylan murmurou.
- Boa ideia - Cole resmungou entre os dentes. - E nunca mais cometa o erro de chegar perto dela ou eu acabo com você. Deu para entender?
- Claro, cara, eu entendi.
Dylan desviou de Cole- e Lili- antes de seguir em frente.
Cole se virou para ver o rosto pálido e chocado de Lili e praguejou baixinho. Agarrou a mão dela e a arrastou pelo corredor. Ela não disse uma palavra. Seu rosto estava aflito e parecia tão humilhada que Cole sentiu vontade de esmurrar a parede. A última coisa que ele queria era envergonhá-la, mas que droga! O que mais ele poderia fazer se ela resolveu aparecer ali; uma mulher que qualquer homem morreria para ter? Uma mulher que ele morreria para ter.

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