Capítulo 11

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- Quero que se mude para cá - Cole disse sem rodeios.
Surpresa, Lili arregalou os olhos e entreabriu os lábios, um suspiro escapando entre eles.
- Mas, Cole...
- Sem mas - ele respondeu com firmeza. - Não teremos um relacionamento de meio período, Lili. Nem será segredo.
Consternada, ela franziu a testa e balançou a cabeça.
- Mas não quero que ninguém saiba! Não é que esteja com vergonha de você, não é isso.
Mas isso é pessoal. Não quero que nosso relacionamento, do jeito que ele é, se torne público!
Ele se inclinou para frente e beijou a testa de Lili.
- Não será público, querida. Sobre alguns aspectos, não farei alarde. Mas quero você aqui comigo, vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. Acho que o contrário, eu ir para sua casa, não seria uma boa ideia.
Ele esperou que essas palavras e seu significado se assentassem na cabeça de Lili e percebeu o instante em que ela entendeu.
- Claro - disse baixinho. - Não pensei bem. Claro que não vai querer ficar na casa onde morei com Brett. Não seria justo com você.
- Ou com você - Cole disse gentilmente. - Isto é um novo início, precisa ser. E para isso, você deve se libertar do passado para seguir em direção ao futuro.
- É que é tão repentino! - ela murmurou. - Já aconteceu tanta coisa e tão rapidamente! Nem tive tempo de processar tudo.
- Dar mais tempo só iria fazer com que você desistisse. Não permitirei isso. Já esperei demais, não vou deixar você escapar agora. Não quando estou tão perto de ter tudo o que sempre quis. Talvez seja egoísmo da minha parte, mas não ligo, se você também não ligar.
Ela sorriu tristemente, seus olhos iluminados fixos nele.
- Não ligo. E o que mais? É só me mudar para cá, com você?
- Para começar, sim - Cole disse. - Depois que você estiver aqui, nos aprofundaremos nos aspectos físicos, e emocionais, do nosso relacionamento. Vai descobrir que sou um homem bem exigente, Lili. Espero que esteja preparada. Não vai ser fácil. Não terei pena.
A pulsação dela acelerou.
- Não quero que tenha - disse, com a voz rouca.
- Ótimo. Por que então não vamos à sua casa para você pegar umas coisas? Não precisa pegar tudo hoje, só o que vai precisar nos próximos dias. Podemos sempre voltar depois.
O que Cole não disse era que temia que ela saísse correndo o mais rápido possível, uma vez que os dois embarcassem em uma odisseia sexual na casa dele. Que ela voltasse para casa e se esquecesse dele para sempre. Rezava para que ela fosse tão forte como pensava que era e que quisesse de verdade o que disse que queria.
Ele não tinha nenhuma dúvida de que poderia dar a ela tudo o que quisesse ou precisasse e muito mais. A questão era se ela realmente sabia o que queria.
- Preciso contar para Chessy e Kylie - Lili comentou. - Vão ficar preocupadas. Elas sabem sobre você, quero dizer, sobre nós. Mesmo assim, vão ficar chocadas de saber que vamos morar juntos assim tão rapidamente. Vou ouvir um sermão da Kylie.
- E da Chessy, você acha que não? - ele perguntou, em tom divertido.
Lili sorriu e balançou a cabeça.
- Não, Chessy apoiou minha decisão de ir atrás do que eu quero. Estava preocupada, não me entenda mal. Mas entendeu e me encorajou a seguir em frente.
- E a Kylie?
- Bom, ela disse que eu perdi a cabeça e estava com muito medo disso em que eu estava me metendo.
- Então, ela vai se sentir melhor de saber que você não está com um estranho qualquer que não se importa nem um pouco com você.
- Kylie ficou chateada em saber que você gostava de mim enquanto eu estava casada com Brett - Lili revelou, baixinho. - Acho que se sentiu como se você tivesse traído o irmão dela.
Cole ficou zangado.
- Eu nunca o traí. Ele sabia e ainda assim éramos amigos. Brett confiava em mim, sabia que eu nunca tentaria nada com você. Era meu amigo!
- Eu sei - Lili disse gentilmente. - Kylie é muito oito ou oitenta, ela tem uma visão bem restrita do mundo. Ficou surpresa e não lida muito bem com isso.
Cole fez uma careta, sabendo que a substituição de Brett por Jensen seria outra surpresa não muito bem-vinda para Kylie.
- Por que está com esta cara? - Lili perguntou. - Está bravo por Kylie ter ficado aborrecida?
Cole balançou a cabeça.
- Não, estava pensando na outra coisa que preciso discutir com você. E com Kylie.
Lili ficou preocupada e ele se apressou em tranquilizá-la, pois não queria que nada perturbasse o clima entre eles. Não quando as coisas estavam tão... boas.
- Talvez você saiba que, antes da morte de Brett, discutimos sobre aceitarmos outro sócio. Não sei quanto o Brett falava com você sobre os negócios. Sei que ele estava determinado que você nunca precisasse trabalhar ou se preocupar com dinheiro.
Lili ficou preocupada na mesma hora.
- É dinheiro, Cole? Os negócios não vão bem? Eu posso voltar a trabalhar. Mesmo tendo parado um ano depois do casamento, porque Brett insistiu, mantive meus certificados e assisti aos cursos necessários para manter meu diploma de enfermeira. Posso voltar a trabalhar. Não quero ser uma preocupação financeira para você. Faça o que for preciso para manter os negócios: é o que Brett iria querer que você fizesse.
Cole colocou um dedo nos lábios dela, a amando mais do que nunca. Lili era tão abnegada e generosa! Muitas mulheres ficariam horrorizadas em pensar que as finanças estivessem menores. Mas Lili era diferente: estava disposta em voltar a trabalhar. Ele se lembrou de que Brett levou um ano para convencê-la a parar. Eles não precisavam do salário dela, nem um pouco, mas Lili insistira, não queria depender de Brett. Ele a admirava por isso.
- Não tem nada de errado com os negócios, querida, e a verdade é que Brett não ia querer que você voltasse a trabalhar. Precisa saber disso. Brett só queria que você ficasse segura, feliz e sem preocupações. E se assegurou disso deixando uma porcentagem da empresa para você. Não se preocupe. Os planos são expandir e tornar os negócios mais lucrativos do que nunca. É fato que, depois da morte de Brett, as coisas tiveram algumas falhas. Minha cabeça e meu coração não estavam nos negócios e isso afetou as transações no primeiro ano. Mas já acertei tudo. O que eu queria contar para você e para Kylie é que estou aceitando outro sócio.
Brett e eu já tínhamos planejado expandir a empresa, mas deixei para tomar esse passo só depois de ter certeza de que a operação seria vantajosa, e agora chegou o momento certo de aceitar outra pessoa. Não consigo fazer tudo sozinho, nem quero. Quero me concentrar em outras coisas: você. E não poderei fazer isso se estiver preso ao escritório ou viajando o tempo todo.
Lili piscou, surpresa.
- Você está substituindo Brett?
Cole estremeceu porque, embora soubesse que Kylie chegaria à mesma conclusão, esperava que Lili não pensasse dessa maneira.
Como se lendo a mente dele, Lili se inclinou, determinada, seus olhos mostrando entendimento.
- Não foi o que quis dizer, Cole. Não estou aborrecida que você esteja "substituindo" Brett. Acho que não tinha percebido como os negócios exigiam tanto. Sei quanto tempo Brett se dedicou à empresa, o que eu não sabia era que você tinha tomado muito mais responsabilidades para que Brett se desembaraçasse e ficasse comigo. Obrigada, Cole. Sei que se sacrificou muito, e sempre serei grata que você tenha dado isso a ele. A nós. Por isso, pudemos ficar bastante tempo juntos, antes que ele morresse. Sempre vou ter essas memórias em grande estima: as viagens, os dias em casa juntos.
Seus olhos se encheram de lágrimas, mas ela não se permitiu chorar. Parecia que estava fazendo um grande esforço e seus lábios tremiam.
- E se outro sócio vai permitir que você relaxe e tenha uma vida que não gire em torno dos negócios, então você tem meu apoio. Você deu muito para mim e Brett. É justo que agora seja sua vez de colher os frutos do seu sucesso.
Caramba, esta mulher o fazia feliz! Estava tão orgulhoso dela! Só esperava que Kylie também aceitasse as notícias tão bem quanto Lili. Mas não esperara menos dela: nem por um instante achou que ela ficaria ressentida ou que se oporia. Claro que tinha pensado que seria perturbador. Isso era normal. Tinha amado o marido, um amor pelo qual muitos homens morreriam e, se pudessem ter o tipo de amor e devoção de uma mulher como Lili, não iriam querer mais nada na vida.
Era o que desejava agora. Muito. Estava obcecado por isso e por ela. Faria qualquer coisa para torná-la feliz de novo. Iria provar que um raio pode cair duas vezes no mesmo lugar durante a vida de uma pessoa. Ela mencionara mais de uma vez, de passagem, que não esperava encontrar um grande amor de novo, pelo menos não como o que sentira por Brett.
Que diabos, ela tinha se resignado ao fato, tinha aceitado!
Que merda! Se ela lhe desse uma chance, ele provaria que ela podia, sim, voltar a ser feliz.
Que um outro homem poderia dar o mundo, a amaria e cuidaria dela. Ele a embrulharia em cetim e a protegeria de tudo que pudesse machucá-la.
- Já decidiu quem será o substituto? - Lili perguntou, com calma.
Cole colocou sua mão sobre a dela e a apertou.
- Querida, não vou substituí-lo. Ninguém poderia fazer isso. Brett construiu a empresa e por causa dele a consultoria se transformou no que é hoje. Eu ajudei, claro, mas a visão de negócio era dele, o talento era dele. Brett era um homem de negócios brilhante.
Ela sorriu.
- Já resolveu quem será o novo sócio? Ou você ainda está pensando?
- Sim e não - respondeu. - Conheci Jensen alguns anos atrás quando Brett ainda estava vivo. Aliás, nós dois discutimos a possibilidade de trazê-lo como um terceiro sócio no próximo ano, mas isso foi antes da morte tão inesperada dele.
- É esse o nome dele? Jensen? Eu o conheço?
Ela franziu a testa, pensativa, fazendo esforço para se lembrar. Ele quase riu: como se ela alguma vez tivesse prestado atenção em outro homem quando Brett estava por perto. Era uma das coisas que mais tinha inveja de Brett: a devoção absoluta e a fidelidade de Lili quando o assunto era seu marido.
Quando estavam juntos, Lili não tinha olhos para ninguém. Seu foco era ele e seu amor, evidente no calor do olhar. Mais de um homem invejara Brett. E o pior era que ela não percebia como era atraente. Não fazia ideia de que, quando estava numa sala cheia de homens de negócios, todos os olhares se voltavam para ela. Com desejo. Mordidos de ciúmes por Brett ser tão sortudo.
- Provavelmente ele esteve em uma ou outra festa a que você e o Brett foram. Mas acho que não foram apresentados formalmente. Ele sabe quem você é, como você é, mas duvido que você o conheça. Ele não é uma pessoa espalhafatosa, que chama atenção. É quieto, gosta de ficar no canto dele, observando. É o que o torna uma opção incontestável para os negócios.
Tem um bom olhar para as pessoas e instintos fantásticos.
- Quando vai contar para a Kylie? - Lili perguntou.
Novamente Cole fez uma expressão de preocupação.
- Logo. Falei com ele hoje para finalizar as coisas. Depois pedi alguns dias antes de tornar essa decisão pública e trazê-lo para nós. Queria contar para Kylie, e para você, pessoalmente.
Não queria que ela ficasse sabendo assim de repente, lá no trabalho.
- Você acha que ela não vai aceitar muito bem - Lili murmurou.
Cole balançou a cabeça.
- Certamente não tão bem quanto você.
Lili suspirou.
- Kylie é muito leal. Mas ela também é, como eu já disse, muito oito ou oitenta. Não existe meio-termo. Ela e Brett eram muito próximos. E ele era tudo o que ela teve por muito tempo, quando ambos viviam naquele inferno, com os abusos do pai. E, sim, eu concordo, acho que num primeiro momento ela não vai aceitar bem a novidade. Só depois de um tempo para pensar e absorver a notícia, vai mudar de ideia.
- Espero que esteja certa - Cole disse. - Porque já é negócio fechado, não tem como voltar atrás agora. E é o melhor para a empresa. Com o tempo, ela vai entender.
Desta vez, foi Lili quem apertou a mão dele.
- Vai, sim. Ela é muito inteligente e Brett disse que era incrível como gerente do escritório. Ele costumava dizer que Kylie mantinha vocês dois na linha: organizados e eficientes.
Cole riu.
- Sim, certamente, é o que ela faz. Espero que esteja certa. Vou odiar perdê-la por causa disso. Era importante para Brett que vocês duas ficassem bem financeiramente e não gostaria que Kylie fosse trabalhar em outro lugar.
- Não deixe que ela tome nenhuma decisão precipitada e imprudente - Lili disse. - Se ela quiser pedir demissão, não aceite. Dê-lhe tempo para pensar. Tenho certeza de que vai acabar aceitando.
Cole assentiu.
- Não se preocupe. Não tenho a menor vontade de treinar um novo gerente para tomar conta do escritório.
- Você sabe que, se precisar de ajuda, tudo o que tem a fazer é pedir. Não sei muito sobre os negócios, mas aprendo rápido.
Ele a beijou novamente, deixando os lábios um tempo maior na têmpora dela, inalando seu doce perfume.
- Eu sei, querida, mas gosto da ideia de você não trabalhar. Gosto da ideia de ter todo seu tempo. Sou um idiota egoísta. Não quero dividi-la com ninguém, muito menos com um emprego.
Ela sorriu e depois suspirou, com certa perturbação no rosto quando ele trouxe a conversa de volta para o relacionamento deles.
- Você acha mesmo que é uma boa ideia eu me mudar para cá? Não acha que é cedo demais? Iria odiar nos sabotar antes mesmo de começarmos.
- Deixe que eu me preocupe com isso - falou gentilmente. - Quero você aqui, Lili. No meu espaço, na minha vida, na minha cama. Há alguns aspectos que não vou forçar e serei infinitamente paciente. Mas outros... Você se mudar para cá e ficar comigo o tempo todo? Sim, vou insistir porque é o que quero e sempre vou atrás do que desejo. Nunca perco, Lili. E tenho absoluta certeza de que não vou perder você.

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