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Quando Lilientrou na cozinha na manhã seguinte, Colepercebeu que não dormira bem, se é que dormira. Mas nem ele. Como poderia, se não parava de pensar nela no quarto ao lado?
Tão perto e, ao mesmo tempo, tão longe. Inalcançável. Ele tinha ficado na cama, olhando para o teto, agradecendo e, ao mesmo tempo, amaldiçoando o destino.
Estava tão perto de conseguir o que seu coração desejava! Ficou pensando se isso era uma brincadeira que o destino estava pregando. Mostrando a cenoura na frente do seu nariz e afastando, cruelmente. E se Lili desistisse? E se tivesse agido por impulso e depois de pensar bastante, mudasse de ideia?
Ele não iria conseguir lidar com isso. Já era ruim antes, quando ele sabia que não tinha chance alguma com ela. Mas agora que a tinha beijado, sentido seu gosto, abraçado? Não iria aguentar se a perdesse, antes de tê-la pelo menos uma única vez.
Não que uma vez só fosse suficiente. Com ela, não. Com outras mulheres? Uma vez estava bom. Cole nunca quis ter um relacionamento sério, e isso, por si só, era uma tortura. Ele via Lili e Brett juntos e se sentia torturado pelo que tinham e por saber que nunca teria a mesma coisa.
Muitas vezes engolia em seco e aceitava. Nas noites em que não conseguia, que se sentia sozinho e triste pelo que nunca teria, ia até o The House, satisfazia suas necessidades e voltava para o purgatório onde ele mesmo tinha se colocado.
Cole esperava que isso tivesse acabado. Para sempre. Era sua esperança. Se querer fosse poder, ela já estaria em sua cama. Amarrada, para nunca mais partir.
Desespero? Isso nem chegava perto de descrever como ele se sentia. Nem de longe.
Ele não tinha nenhum orgulho quando se tratava de Lili. E ele não dava a mínima.
Serviu o café favorito dela e colocou a xícara no balcão, enquanto ela se sentava. Lili estava vestindo uma das camisetas dele, o que o deixava extremamente feliz, e calças de pijamas, que ela amarrou bem para que não caíssem. Não que ele se importasse...
- Você não dormiu, meu bem - disse gentilmente.
Ela hesitou e fechou os olhos, não sem antes demonstrar uma grande tristeza.
- Não me chame assim, por favor - murmurou.
- Claro, falei sem pensar, me desculpe - respondeu, baixinho.
Brett sempre a chamara assim.
- Há muitas outras formas para chamá-la, querida.
Ela abriu os olhos e estampou um sorriso.
- Assim está melhor. A noite não foi tão ruim, não é?
Ao dizer estas palavras, ele se deu conta de que provavelmente tinha sido. Para Cole, fora um inferno, e ele não tinha passado por um choque tão grande como o dela. Ainda por cima, no aniversário da morte de Brett. Estremeceu, mas se lembrou de que o tempo nem sempre era seu aliado. E não ia deixar de fazer alguma coisa porque era a data da morte de seu melhor amigo. O destino - e Lili- o haviam levado até ali.
- Tive de processar muita coisa - ela admitiu, pegando a xícara.
Tomou um gole de café e fechou os olhos, o prazer momentâneo aliviando as rugas de cansaço em seu rosto.
- Você está me mimando - disse, colocando a xícara no balcão.
- Ainda não, mas pretendo.
- A noite passada não foi um sonho, então.
Ele se apoiou no balcão para ficar de cara com ela, seu olhar fixo.
- Foi um sonho. Meu sonho. Agora tudo o que temos a fazer é transformá-lo em realidade.
- Você faz tudo parecer tão simples - murmurou.
- E é. Ou não. Será o que escolhermos. Sou um cara direto e você sabe disso. Já esperei tempo suficiente e desculpe minha impaciência agora que o que quero está a meu alcance.
- Como isso vai ser, Cole? Passei a noite toda pensando - imaginando - o que isso tudo significa. Antes, era surreal, abstrato, irreal. Eu fantasiava. Imaginava. Até pensei em várias situações. Mas agora que é real e está na minha cara, não sei o que fazer, o que esperar.
- Por que nós dois não comemos algo? A gente conversa enquanto toma café e eu respondo tudo o que você quiser saber. Mas, como avisei ontem à noite, se não estiver preparada para a resposta, melhor nem perguntar.
Ela balançou a cabeça.
- Não, quero a verdade. A realidade. Preciso saber o que isso significa, o que significa estar com você.
Cole apertou a mão dela.
- Vá lá para a mesa. Vou pegar os pratos e já vou.
Ele a observou arrastando os pés, segurando a caneca de café entre as mãos, como se quisesse se esquentar. Para ele, seria melhor se enrolar nela. Ele daria todo o calor que ela quisesse e muito mais.
Tenha paciência, não estrague isso, cara. Não quando está tão perto. Você esperou muito tempo por isso.
Ele controlou sua impetuosidade e não teve pressa para pegar os pratos e ir até a mesa onde Lili estava sentada. Parecia que ela era... a pessoa certa. Na casa dele, usando as roupas ainda amassadas pela noite, com os cabelos arrumados depois do banho. A única coisa que poderia ser melhor seria se ela tivesse saído da cama dele.
Em breve.
Ele colocou o prato na frente dela, viu quando seus olhos se arregalaram, um sorriso largo nos lábios.
- Meu predileto - disse, com voz rouca.
Ele também sorriu.
- Claro! Achou que serviria outra coisa? Waffles com muita manteiga e melado. Pode avançar e aproveite! Vou pegar o leite e o bacon.
Lili suspirou.
- Também adoro, mas não posso comer sempre. Muito calórico!
Ele balançou a cabeça, enquanto trazia a bebida e o prato com bacon.
- Não tem absolutamente nada de errado com sua aparência. Perfeição completa do alto de sua cabecinha linda até os rosados dedos dos seus pés.
Ela enrubesceu, seu rosto quase da mesma cor rosada dos dedos dos pés.
- Não consigo entender... essa mudança em nosso relacionamento. Estou me sentindo desequilibrada. Ontem mesmo o plano era me desprender de você tanto quanto de Brett. E agora...
Lili levantou as mãos, espantada, e novamente as deixou cair no colo.
- Isso não ia acontecer. Talvez você tenha pensado que ia se livrar de mim, querida, mas não vou a lugar algum. Esperaria o tempo que fosse necessário, mas em algum momento eu tentaria dar o primeiro passo, sem dúvida nenhuma. Só que você deu primeiro.
Ele a observou enquanto processava essa informação, seu rosto consternado. Como se quisesse ainda entender o que ele tinha jogado em cima dela nas últimas 24 horas. Lili baixou o olhar, interrompendo sua silenciosa meditação.
Começou a comer os waffles enquanto Cole observava como ela estava satisfeita com o café da manhã que ele havia preparado. Comia com naturalidade, como fazia com todo o resto.
Sem timidez. Sem peso na consciência. Era uma mulher sem medo de demonstrar prazer, mesmo com as coisas mais simples. E ele queria dar a ela muito mais prazer que simples waffles para o café da manhã. Pensou em milhares de formas de mimá-la.
- Você quer saber como isso vai ser - disse. - O que exatamente você quer saber?
O garfo que ela estava levando à boca parou no ar. Ela o colocou novamente no prato, lambendo os lábios, agitada.
- Eu preciso saber... Quero dizer, agora você sabe que tudo isso é novidade para mim. Falei o que preciso, mas você não. O que espera. O que quer de mim. O que fará comigo.
Ela estremeceu ao dizer a última frase, e Cole esperou que ela estivesse imaginando o que faria com ela. E que essas imagens aumentassem sua curiosidade e seu desejo, como faziam com ele.
- Acho que a questão é: o que você quer que eu faça para ou com você.
Os olhos dela se encheram de impaciência, uma emoção que ele conhecia bem.
- Por favor, Cole, sem joguinhos comigo. Isto é importante.
Nesse instante, ele ficou bem sério. Aproximou-se dela, seu olhar penetrante.
- Isso não é um jogo. Não penso nisso nem por um minuto. O que eu sinto por você e o que eu quero fazer com você não é um jogo. Nem de longe.
- Então me ajude - ela suplicou. - Estou perdida, sem um norte. Preciso de sua sinceridade, saber o que está pensando. Preciso saber como acha que isso vai acontecer.
- Eu acho - ele começou com cuidado - que se vamos falar das particularidades do nosso relacionamento, prefiro ir até a sala, onde posso tocá-la enquanto revelo minhas expectativas e você diz o que você quer.
- E se eu não souber o que eu quero?
Cole podia sentir que ela estava nervosa, bem próxima de começar a desmoronar. Sua impaciência e urgência em reivindicar o que ele queria há tanto tempo não importavam agora.
Lili precisava ser tratada com delicadeza e toda segurança e firmeza que ele pudesse dar. Ele não podia - não queria - que ela escapasse por entre seus dedos quando finalmente estava exatamente onde ele queria.
- Sabe, querida - disse gentilmente. - Ontem você estava decidida. As coisas não mudaram só porque não está mais lidando com um estranho. No mínimo, você deveria estar se sentindo mais livre, mais desinibida. Quero saber tudo o que se passa nessa sua cabecinha linda. E você vai saber sobre a minha também. Isso eu garanto.
Ela se levantou, impaciente e nervosa.
- Então vamos. Eu quero saber. Preciso saber antes de tomar uma decisão.
Ele pegou a mão de Lili e puxou-a para perto, querendo tão apenas tocá-la, como quis no momento em que ela entrara na cozinha. Acariciou seu rosto e viu quando seus olhos se encheram de prazer. Cole se lembraria desse olhar pelo resto de sua vida, porque finalmente ela estava olhando para ele de verdade.
Ele a levou para a sala e se sentou no sofá de couro, antes de puxá-la para si, para seus braços. Lili estava um pouco resistente e ele esperou. Então, ela relaxou e simplesmente se acomodou nos braços dele, colocando a cabeça em seu ombro.
Cole sentiu o cheiro do xampu e um pouquinho da umidade que restava nos cabelos dela.
Gostava do cheiro dele nela. Por ele, ela teria o cheiro dele o tempo todo. Fechou os olhos, saboreando o momento e o pensamento de que finalmente ela seria sua. Não, ela ainda não tinha se decidido, mas ele se perguntou se ela sabia que seus olhos já tinham dito sim.
Claro que estava nervosa, mas em seus lindos olhos azuis ele via também consentimento. A expectativa devorava seu corpo todo, espalhando-se da virilha até que seus testículos doessem.
Ela inclinou a cabeça, olhou para ele e, para sua surpresa, o tocou, traçando a linha do seu rosto. Era um toque tão suave quanto a asa de uma borboleta e, mesmo assim, dava para senti-la até na alma. Sua pele ficou em fogo, o corpo inteiro vivo de prazer com o toque dela.
- Cole, seja sincero comigo. O que significa pertencer a você? O que espera de mim?
Preciso saber essas coisas e o que tenho de fazer, o que você quer que eu faça.
- Significa... tudo - ele suspirou. - Para mim e espero que para você também. Você será minha em todos os sentidos. Minha e de mais ninguém. Vou satisfazer suas necessidades. Dar o que quiser. Pela sua submissão, lhe darei o mundo numa bandeja. Vou cuidar, proteger, mimar você sem fim.
- Isso parece um acordo maravilhoso para mim. Mas e para você, Cole? O que terá em troca?
- Você - ele respondeu. - Só você. E acredite quando digo, isso é suficiente. É tudo o que quero, tudo que preciso. Só você.
O desejo no olhar dela o deixou sem fôlego. Ela não tinha exagerado. Ela sofrera tanto e se sentira tão só quanto ele nesses três últimos anos.
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Rendição
RomansLili encontrou perfeição uma vez, e ela sabe que não vai encontrá-la novamente. Viúva, ela procura a única coisa que seu amado marido, Brett, não pôde dar a ela: dominação. Solitária e em busca de uma saída para seu luto, Lili encontra um clube excl...