Maria Helena entrou no quarto do filho com um sorriso nos lábios e disposição. Enquanto abria as janelas, foi dizendo:
— Bom dia, meu filho. Está um lindo dia, cheio de sol. É hora de você sair desse quarto. Chega de cama. Vamos, levante-se.
João Henrique levantou a cabeça contrariado, passou a mão pelos cabelos e tornou a mergulhar no travesseiro.
A voz de Maria Helena tornou-se súplice:
— Vamos, meu filho. Não deixarei que fique deitado nem mais um minuto. Você nunca foi preguiçoso.
— Deixe-me em paz — resmungou ele.
— Você não pode continuar fechado nesse quarto. Precisa reagir. Vamos, levante-se.
Ela tentou puxar as cobertas.
— Pare com isso — disse ele com raiva. — Se insistir, vou para a rua e não volto mais. Deixe-me em paz.
Maria Helena sentiu que ele falava sério. Fez um gesto de desalento e sentiu vontade de chorar. Controlou-se a custo. Saiu do quarto sentindo que não conseguia reter as lágrimas.
Luciana e Maria Lúcia a encontraram prostrada, na sala de estar.
— D. Maria Helena, a senhora está triste. Aconteceu alguma coisa?
— João Henrique não quer sair do quarto. Tentei ajudá-lo, mas ele ameaçou ir embora de casa. Ele está transtornado! Aquela mulher desgraçou nossa vida!
— A senhora não acredita nisso — esclareceu Luciana.
— Jamais vi meu filho desse jeito. Está acabado.
— De forma alguma! — A voz de Luciana era enérgica. —Não deve deixar-se abater. Afaste de seu coração esse pensamento. Ele vai reagir, por certo.
— Eu quero ajudar.
— É preciso dar um tempo para que ele amadureça. E isso é só ele mesmo quem pode escolher.
— Ele não vai sair sozinho dessa mágoa. Está ferido.
— A verdade machuca, mas sempre é mais proveitosa do que a ilusão. Vai chegar a hora em que ele, esgotada essa fase, desejará sair dela e tudo se resolverá.
— Não posso ficar de braços cruzados enquanto meu filho sofre sozinho.
— Ele não quer dividir sua dor. É um processo interior que ninguém tem o direito de intervir.
Maria Helena, num súbito impulso, levantou-se e segurou as mãos de Luciana com força:
— Luciana! Ajude-me! Sei que você pode! Peça à sua mãe. Ela foi tão boa. Sem ela talvez não o tivéssemos encontrado. Dizem que as almas podem nos ajudar. Você a vê! Peça-lhe esse favor. Ela é mãe, sabe como me encontro. Temo que ele fique seriamente doente.
Luciana retribuiu o aperto de mão, e seus olhos brilharam quando disse:
— Está bem. Irei vê-lo. Tentarei falar com ele mais uma vez.
Dirigiu-se ao quarto do moço e vendo que as duas a seguiam, voltou-se dizendo:
— Quero vê-lo a sós.
— Está bem, estaremos esperando na sala.
Luciana entrou no quarto. João Henrique fechara novamente as janelas, correra o reposteiro e deitado de costas, olhos fechados, parecia dormir.
Luciana parou diante da cama e silenciosamente estendeu as mãos sobre ele, em prece. Com amor, imaginou João Henrique cheio de vitalidade e bem-estar. Com alegria, percebeu que Suzane aproximava-se colocando-se à cabeceira dele, estendendo sua mão direita sobre sua testa. Dirigiu-se a Luciana, pedindo:
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QUANDO A VIDA ESCOLHE - Zibia Gasparetto
RomansaO homem acredita numa grande ilusão: que a vida seja algo separado dele, mas a realidade mostra que cada um é a própria vida se tornando gente. Portanto, quando você escolhe é a vida escolhendo em você. A vida jamais erra. Assim seja qual for a deci...