Capítulo 9

115 3 0
                                    

          A partir daquele chá em casa de Luciana, Maria Helena permitia que a filha fosse visitar a professora, pelo menos uma vez por semana. E, era em casa de Egle, rodeada pela aprovação e o carinho das duas, que Maria Lúcia começou a encontrar a alegria de viver.

Ria, brincava, tocava piano, vestia os vestidos de Luciana, participava de jogos, entretendo-se agradavelmente. Todavia, ao retornar para a casa, invariavelmente, a moça voltava às suas roupas e assumia a antiga postura.

— É uma questão de tempo, papai, — afirmava Luciana a José Luiz, em uma de suas visitas.

— Por que aqui ela mostra-se tão diferente?

— Não sei. Acredito que um dia ela entenderá que não precisa mais esconder-se atrás de uma simulada indiferença. Maria Lúcia é muito diferente do que quer parecer. É moça inteligente, apaixonada, emotiva e sensível. Eu diria que sua sensibilidade étanta que percebe e sente muito mais do que diz.

— Isso me surpreende. Até João Henrique percebeu que ela está diferente. Falou qualquer coisa com Maria Helena.

— Comigo também. Uma tarde, quando eu saía, encontrei-o no jardim. Cumprimentou-me e disse-me atencioso:

— Pode conceder-me alguns minutos?

— Certamente — respondi.

— Gostaria de falar um pouco sobre Maria Lúcia. Seu método deve ser muito bom. Está dando resultado.

— Por que diz isso?

- Porque ela conversou comigo, questionou, expôs idéias, considerações. Nunca aconteceu antes. Surpreendeu-me muito. Confesso que duvidava do seu êxito. Não por sua culpa é claro, mas porque não acreditava que ela mudasse. Poderia explicar-me como procedeu?

— Não foi nada especial. Ela era insegura sentia-se incapaz, rejeitada, preterida

— Em casa sempre teve toda atenção, conforto os melhores professores nada lhe faltou da mesma forma que eu tive.

- Longe de mim a idéia de negar esse fato. O problema estava nela, na maneira como ela olhava para o mundo, de como se posicionava frente aos outros. Fechou-se ainda mais e estabeleceu um círculo vicioso onde seu comportamento provocava mais insegurança e aumentava seu sentimento de rejeição.

— É estranho Como as pessoas são diferentes. Eu nasci dos mesmos pais, fui criado igual a ela e não Sou assim.

- É verdade Deus é muito fértil e criativo.

Ele sorriu interessado

— Mas você, permite que a chame assim, está conseguindo romper o círculo vicioso em que ela se envolveu.

— A receita é simples. Ela não enxergava as belezas da vida. A Perfeição da natureza, a utilidade abençoada do próprio Corpo. Procurei mostrar-lhe isso. Dei-lhe afeto, O amor está muito ligado ao sentimento de segurança Agora, estou tentando fazê-la perceber que tem tanta Capacidade de inteligência como qualquer pessoa.

— Acredita mesmo nisso?

— Certamente Maria Lúcia é arguta e observadora. Pode crer que ainda se surpreenderá com ela. — Como vê, papai, eu já sabia disso.

— Você consegue milagres, João Henrique não é dado a conversas em casa. Fala mais com a mãe.

— Pois comigo ele tem se mostrado atencioso. Tem me procurado para conversar e sinto que ainda seremos amigos.

— Sobre o que ele COnversa? É sempre tão evasivo Comigo!

— Geralmente sobre Maria Lúcia. Problemas Psicológicos e de educação. É muito inteligente, Ainda ontem disse-me que tem procurado conversar Com Maria Lúcia, dar-lhe mais atenção e carinho. Senti que ele acredita mais no Que eu disse e deseja Cooperar.

QUANDO A VIDA ESCOLHE - Zibia GasparettoOnde histórias criam vida. Descubra agora