A partir daquele chá em casa de Luciana, Maria Helena permitia que a filha fosse visitar a professora, pelo menos uma vez por semana. E, era em casa de Egle, rodeada pela aprovação e o carinho das duas, que Maria Lúcia começou a encontrar a alegria de viver.
Ria, brincava, tocava piano, vestia os vestidos de Luciana, participava de jogos, entretendo-se agradavelmente. Todavia, ao retornar para a casa, invariavelmente, a moça voltava às suas roupas e assumia a antiga postura.
— É uma questão de tempo, papai, — afirmava Luciana a José Luiz, em uma de suas visitas.
— Por que aqui ela mostra-se tão diferente?
— Não sei. Acredito que um dia ela entenderá que não precisa mais esconder-se atrás de uma simulada indiferença. Maria Lúcia é muito diferente do que quer parecer. É moça inteligente, apaixonada, emotiva e sensível. Eu diria que sua sensibilidade étanta que percebe e sente muito mais do que diz.
— Isso me surpreende. Até João Henrique percebeu que ela está diferente. Falou qualquer coisa com Maria Helena.
— Comigo também. Uma tarde, quando eu saía, encontrei-o no jardim. Cumprimentou-me e disse-me atencioso:
— Pode conceder-me alguns minutos?
— Certamente — respondi.
— Gostaria de falar um pouco sobre Maria Lúcia. Seu método deve ser muito bom. Está dando resultado.
— Por que diz isso?
- Porque ela conversou comigo, questionou, expôs idéias, considerações. Nunca aconteceu antes. Surpreendeu-me muito. Confesso que duvidava do seu êxito. Não por sua culpa é claro, mas porque não acreditava que ela mudasse. Poderia explicar-me como procedeu?
— Não foi nada especial. Ela era insegura sentia-se incapaz, rejeitada, preterida
— Em casa sempre teve toda atenção, conforto os melhores professores nada lhe faltou da mesma forma que eu tive.
- Longe de mim a idéia de negar esse fato. O problema estava nela, na maneira como ela olhava para o mundo, de como se posicionava frente aos outros. Fechou-se ainda mais e estabeleceu um círculo vicioso onde seu comportamento provocava mais insegurança e aumentava seu sentimento de rejeição.
— É estranho Como as pessoas são diferentes. Eu nasci dos mesmos pais, fui criado igual a ela e não Sou assim.
- É verdade Deus é muito fértil e criativo.
Ele sorriu interessado
— Mas você, permite que a chame assim, está conseguindo romper o círculo vicioso em que ela se envolveu.
— A receita é simples. Ela não enxergava as belezas da vida. A Perfeição da natureza, a utilidade abençoada do próprio Corpo. Procurei mostrar-lhe isso. Dei-lhe afeto, O amor está muito ligado ao sentimento de segurança Agora, estou tentando fazê-la perceber que tem tanta Capacidade de inteligência como qualquer pessoa.
— Acredita mesmo nisso?
— Certamente Maria Lúcia é arguta e observadora. Pode crer que ainda se surpreenderá com ela. — Como vê, papai, eu já sabia disso.
— Você consegue milagres, João Henrique não é dado a conversas em casa. Fala mais com a mãe.
— Pois comigo ele tem se mostrado atencioso. Tem me procurado para conversar e sinto que ainda seremos amigos.
— Sobre o que ele COnversa? É sempre tão evasivo Comigo!
— Geralmente sobre Maria Lúcia. Problemas Psicológicos e de educação. É muito inteligente, Ainda ontem disse-me que tem procurado conversar Com Maria Lúcia, dar-lhe mais atenção e carinho. Senti que ele acredita mais no Que eu disse e deseja Cooperar.
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QUANDO A VIDA ESCOLHE - Zibia Gasparetto
RomansaO homem acredita numa grande ilusão: que a vida seja algo separado dele, mas a realidade mostra que cada um é a própria vida se tornando gente. Portanto, quando você escolhe é a vida escolhendo em você. A vida jamais erra. Assim seja qual for a deci...