Capítulo 18

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Luciana acordou cedo e bem-disposta. Satisfeita, levantou-se, vestiu-se e foi tomar seu café na copa. Vendo-a, Egle não escondeu a alegria.

— Como você está bem-disposta está manhã! Corada.

— Sinto-me feliz, vovó. Tenho vontade de cantar, dançar. Já notou como os passarinhos cantaram hoje cedo?

Egle balançou a cabeça.

— Acho que sei porque essa alegria toda... Tem a ver com os Fontes.

Luciana corou mas concordou sorrindo.

— É verdade, vovó. Nesses dois meses que Maria Lúcia está fora, eles têm sido companheiros ideais.

— Vocês não se largam. Todos os dias, nunca vi coisa igual!

— É que eles são mesmo especiais. Adoro Margarida. Nunca conheci ninguém como ela. Seu Otimismo, sua inteligência, sua bondade, me comovem e ajudam. Tenho aprendido muito com ela.

— Eu sei. Margarida é uma mulher duzentos anos na frente da nossa época. É original, espirituosa e você tem razão. Muito bondosa.

— Sinto-me muito bem ao seu lado. Desde aquele domingo maravilhoso que fomos almoçar lá, minha vida se transformou.

— Você agora me parece mais feliz.

— Estou, vovó. Eu vivia bem. Mas agora, sinto-me ainda melhor. Havia muitas coisas que não conseguia entender. Margarida tem me mostrado aspectos que eu nunca havia notado e que modificaram muito minha maneira de pensar.

— É verdade, Luciana. A mim também ajudou.

— Você?

— Sim. Desde que Suzane morreu, e você ficou comigo,

sempre receei ter que partir e deixá-la só no mundo. Temia a

crueldade dos outros, pensava que eu necessitava estar aqui, a

seu lado, para protegê-la.

— Você nunca me disse!

- Não queria preocupá-la. Mas, apesar de saber que a vida continua, que a morte é uma ilusão, temia ter que ir, deixando-a no mundo. Quando José Luiz apareceu, fiquei mais aliviada. Contudo, ele tem família que desconhece o passado. Sempre me perguntei como Maria Helena receberia a verdade. Margarida mostrou-me o quanto estava enganada. Se eu precisar ir amanhã, irei em paz.

Luciana levantou-se e abraçou a avó com carinho.

— Não fale assim. Você ainda ficará muito tempo comigo.

- Eu gostaria de ficar, mas se precisar partir, não será um drama.

— Margarida faz milagres. Como foi?

— Sabe Luciana. nossa educação, a sociedade, a posição da mulher em nosso mundo, a religião que sempre procurou nos dominar pelo temor e não pelo amor, as ilusões das pessoas, acreditando no mal como solução de suas dificuldades, tornou o nosso mundo muito triste e cruel. A bondade confunde-se com a fraqueza, a dignidade com o orgulho, o amor com a paixão, a honestidade com aparência. Tudo isso vem confundindo nossos sentimentos e, por isso, colocamos os medos em nossas vidas. Sentimos medo de viver, de morrer, das pessoas, da natureza e até do castigo de Deus. O medo tem atormentado nossas vidas e impedido que enxerguemos a verdade. Ele deturpa os fatos, paralisa nosso desempenho, escurece nossas decisões.

— É verdade, vovó. Já notei isso.

— Margarida fez-me compreender que isso tudo não passa de ilusão, de mentiras nas quais acreditamos ao longo de nossas vidas. São crenças profundas que determinam todas as nossas atitudes no dia-a-dia.

QUANDO A VIDA ESCOLHE - Zibia GasparettoOnde histórias criam vida. Descubra agora