Sentado na pequena sala da delegacia, Ulisses esperava. Aqueles dias na prisão haviam sido um pesadelo. Embora houvesse recebido um tratamento especial pelo nome de sua família, e o delegado simpatizasse com o seu drama de apaixonado (ele continuava no papel), não o libertara.
O coronel Albuquerque era muito influente e estava realmente empenhado em punir o rapaz exemplarmente. A prisão suja, a cama dura, a comida horrível, a humilhação e a raiva, eram insuportáveis.
Mandava comprar comida fora, e a tia conseguira-lhe um advogado a quem encarregara de tirá-lo dali. Esperava-o com impaciência.
O dr. Antero chegou sobraçando sua pasta de couro, e Ulisses levantou-se ansioso. Quando o guarda fechou a porta, e ele sentou-se do outro lado da pequena mesa que estava em sua frente, Ulisses o cumprimentou e antes mesmo de tornar a sentar-se indagou:
— E então?
O advogado colocou a pasta sobre a mesa, tirou o chapéu e colocou-o sobre ela.
— Bem, — começou ele, escolhendo as palavras — preciso ter calma.
— Calma? Ficar aqui nesta prisão infecta e você pede calma? Quero saber quando vai me tirar daqui. Sou de classe. Não posso ser tratado como uma pessoa qualquer.
— Ficar nervoso não vai facilitar as coisas. Você está encrencado. O coronel é influente e está empenhado em mantê-lo aqui.
— Ele não pode fazer isso. Afinal, ninguém saiu ferido.
— Ele não esquece o vexame da filha e o susto que passaram.
— Preciso sair daqui. Não agüento mais isto.
— Estou fazendo o que posso.
— Também tenho amizades influentes. Minha tia não lhe deu as cartas para procurá-los?
— Deu. E eu fui.
— E então?
O advogado coçou a cabeça indeciso.
— Fale. O que eles disseram?
— Bem... se recusaram a intervir, O doutor Menezes disse que não moverá uma palha para libertá-lo, e o dr. Campos disse que você teve o que mereceu.
— E o Ernesto Gomes?
— Que foi bem feito.
— Bandidos! Em resumo...
— Ninguém quis ajudar. Ao contrário, preferem vê-lo preso. Disseram que o riscaram da lista de amigos. E se quer saber, não o receberão mais em casa.
— Que súcia de traidores!
— A coisa anda feia. Na sociedade, nos clubes, nas casas de família, estão todos contra você.
Ulisses levantou-se e começou a andar de um lado para outro preocupado.
— Nesse caso, precisamos usar outros meios. O dinheiro compra tudo. Vamos dar um jeitinho, talvez o delegado ou o próprio carcereiro, facilitem minha saída.
— Pensa em fugir?
— Pelo menos por algum tempo. Esconder-me até que esqueçam.
— Seria pior. A lei é dura para o infrator reincidente. Se o apanham, a pena dobra. Depois, para onde iria? Sua casa, impossível, e todos estão contra você. Não teria como esconder-se e logo seria descoberto. O coronel moveria céus e terra.
— O problema é meu. O seu papel é facilitar minha saída.
— Como arranjará o dinheiro? Sei que está quebrado. Sua tia está passando dificuldades.
VOCÊ ESTÁ LENDO
QUANDO A VIDA ESCOLHE - Zibia Gasparetto
RomanceO homem acredita numa grande ilusão: que a vida seja algo separado dele, mas a realidade mostra que cada um é a própria vida se tornando gente. Portanto, quando você escolhe é a vida escolhendo em você. A vida jamais erra. Assim seja qual for a deci...