Na semana seguinte, ao chegar para a aula, Luciana, com a pontualidade que fazia questão de manter, encontrou Maria Lúcia na postura de sempre. Contudo, percebeu que ela vestira um vestido cor-de-rosa.
Aproximou-se dela, beijando-a na face.
_ Como vai? _ indagou atenciosa.
_ Bem _ disse ela. _ Você hoje demorou!
Luciana respondeu com naturalidade:
_ Senti saudade de você. O tempo custou a passar. Hoje, vamos aproveitar bem nossa aula.
_ Aqui nesta sala há muitas coisas que foram feitas pelas mãos. Enquanto esperava, fiquei contando.
_ Assim não vale. Você vai ganhar. Ainda não observei nada!
Maria Lúcia sorriu e seus olhos brilharam. Num gesto carinhoso, Luciana passou a mão pela face da moça.
_ Você tem covinhas encantadoras quando sorrir. Já percebeu isso?
Maria Lúcia corou. Luciana fingiu não ver. Continuou:
_ Nós, mulheres, precisamos descobrir nossos encantos para realçá-los.
_ Você é muito bonita _ disse Maria Lúcia.
Luciana passou o braço sobre os ombros dela.
_ Faço o possível para parecer melhor. Não acredito em feiura. A beleza está em todas as pessoas. É preciso cultivá-la.
Maria Lúcia abanou a cabeça negativamente.
_ Não concorda?
Ela baixou a cabeça sem responder. Luciana não insistiu.
_ Vamos nos sentar aqui, neste sofá, para nossa aula.
Maria Lúcia obedeceu e, como Luciana não dissesse nada, levantou os olhos curiosa. Luciana detinha nas mãos uma pasta de couro.
_ Você trouxe o livro?
_ Trouxe.
Com calma, tirou-o da pasta, colocando-o sobre uma mesa lateral.
_ Hoje estou em desvantagem. Você pensou no assunto, eu não. O que mais tem aqui feito pelas mãos?
Com certa ansiedade, Maria Lúcia começou a enumerá-las e Luciana percebeu que a menina havia conseguido mais do que esperava. Sentiu-se feliz.
_ Você viu tudo. Não deixou muita coisa para mim. Ganhou longe. _ Tomou a mão de Maria Lúcia e continuou: _ Sinta como nossas mãos são preciosas. Eu, às vezes, quando as movimento, agradeço a Deus por possuí-las. Se eu quiser, poderei fazer muito mais coisas com elas. Não é uma beleza?
Maria Lúcia olhava suas mãos admirada.
_ Há também os pés. _ A outra olhou-a curiosa. _ Acha que eles só servem para andar?
_ É _ fez Maria Lúcia. _ Nunca olhei para eles.
_ Sente-se aqui, perto de mim, vamos ver no livro.
Abriu uma página em que havia uma sapatilha de balé.
_ Você gosta de balé?
Ela deu de ombros.
_ Não sei...
_ Nunca foi ao teatro assistir a um balé?
_ Nunca.
Luciana virou a página em que havia um quadro retratando uma bailarina.
_ Essa foi uma das melhores bailarinas do mundo. Quando dançava, encantava pela graça, leveza e arte. Vendo-a em cena, as pessoas choravam de emoção tocadas por seu talento. Gostaria de conhecer sua história?
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QUANDO A VIDA ESCOLHE - Zibia Gasparetto
Roman d'amourO homem acredita numa grande ilusão: que a vida seja algo separado dele, mas a realidade mostra que cada um é a própria vida se tornando gente. Portanto, quando você escolhe é a vida escolhendo em você. A vida jamais erra. Assim seja qual for a deci...