QUANDO A VIDA ESCOLHE - Zibia Gasparetto

Capítulo 7

Sentada na sala luxuosa de estar, Maria Helena, Luciana e Maria Lúcia saboreavam o chá. Naquela tarde, após a aula, Maria Helena insistira e Luciana julgara indelicado recusar. Na mesa auxiliar, guloseimas servidas pela criada impecável.

Maria Helena conversava com Luciana, enquanto Maria Lúcia permanecia na postura costumeira. Mas Luciana percebia que, sob aquela atitude de indiferença, os olhos da moça, de quando em vez, refletiam um interesse que ela se apressava em esconder.

Conversavam sobre arte e Maria Helena encantou-se com a erudição e a ponderação de Luciana. Depois, interessou-se por sua vida pessoal, perguntando sobre sua avó e seus pais.

Com naturalidade, Luciana contou-lhe em rápidas palavras a morte de sua mãe e do avô.

_ E quanto a seu pai? _ inquiriu ela.

_ Morreu antes de meu nascimento.

Julgava a curiosidade de Maria Helena inoportuna e, delicadamente, contou a história costumeira que, até pouco, acreditava ser verdadeira.

_ Ah! Por certo deixou-lhe bens. Vejo que recebeu excelente instrução.

Luciana concordou com a cabeça.

_ Minha mãe e minha avó sempre fizeram questão de que eu cursasse bons colégios e tivesse boa formação. Estudei na Inglaterra, como sabe.

_ Sei...

Nesse momento, a porta abriu-se e João Henrique entrou acompanhado por dois amigos. Vendo Luciana, olhou-a admirado.

Maria Helena levantou-se. Seu rosto iluminou-se vendo o filho. 

O moço beijou a face da mãe, que estendeu a mão aos dois rapazes, dizendo:

_ Ulisses e Jarbas, que prazer!

Os moços curvaram-se, beijando delicadamente a mão que ela lhe estendia.

_ Desejo apresentar-lhes a senhorita Luciana, professora de Maria Lúcia. Este é João Henrique e seus colegas de faculdade, Jarbas e Ulisses.

Luciana fez gracioso aceno com a cabeça olhando para os três rapazes.

_ Encantado _ disse Jarbas.

_ Prazer _ disse João Henrique.

_ Como vai? _ disse Ulisses.

Maria Lúcia continuava de olhos baixos, sorvendo seu chá. João Henrique ignorou-a. Os outros dois disseram um "Como vai, Maria Lúcia?", mais por hábito, sem esperar nenhuma resposta.

_ Chegaram em boa hora _ disse Maria Helena. _ Acomodem-se e tomem um chá conosco.

Os rapazes aceitaram de bom grado.

Ao ver João Henrique, Luciana compreendeu por que a mãe admirava-o tanto. Era uma figura alta; elegante; de rosto fino e benfeito; de cabelos fartos, naturalmente ondulados com belo tom castanho dourado, a emoldar seus olhos brilhantes e magnéticos.

"Deve ter força de vontade e sempre consegue o que deseja", pensou ela. Era parecido com a mãe, embora os cabelos se assemelhassem aos do pai.

Jarbas era moreno, alto, cabelos escuros também ondulados, lábios benfeitos e sorriso agradável, mostrando dentes alvos e bem distribuídos. Ulisses, estrutura mediana, louro, olhos claros e sonhadores, barba bem cuidada ao redor dos lábios rosados.

Os três eram bonitos, elegantes. Conversando alegremente, procuravam disfarçadamente observar Luciana.

De onde viera aquela beldade? Nenhum deles se lembrava de tê-la visto nos salões ou nos teatros. Onde se escondera?