Sentado em seu gabinete, tendo um projeto estendido sobre a mesa, o coronel Albuquerque debruçava-se interessado, ouvindo com a atenção as explicações de João Henrique.
Marianinha, sentada ao lado, estava muito interessada.
— Precisamos ter consciência de que a nossa cidade, uma das mais belas do mundo, precisa ser cuidada, valorizada, amada — dizia João Henrique com entusiasmo.
— Por certo — admitiu o coronel com satisfação. —Precisamos convocar os homens públicos e o próprio governo a que se decidam a trabalhar. Estou convencido de que só o esforço conjunto vai poder mudar este estado de calamidade em que vive nossa cidade.
Pérola entreabriu a porta e entrou dizendo com um sorriso:
— Permitam-me interromper. Estão aí há horas. Já chega. Vou servir o jantar.
— Desculpe, D. Pérola. Não notei o tempo passar. Espero não haver causado muitos problemas. Já estou de saída. Continuaremos um outro dia.
— De forma alguma. Não permitirei que saia agora. Você janta conosco. Já coloquei seu prato à mesa.
— Não se preocupe, D. Pérola. Vou para casa.
Desta vez o coronel interveio:
— Não nos fará uma desfeita dessas...
— Desfeita?
— Claro. Roubando-nos o prazer de continuarmos conversando — insistiu ele.
— Nesse caso, terei também muito prazer em ficar.
Marianinha aproximou-se e segurando o braço de João Henrique, disse:
— Vamos agora dar uma trégua. Fazer uma pausa para outros assuntos. Há uma revista que recebi de Viena que gostaria de mostrar-lhe.
João Henrique sorriu encantado. O jantar decorreu agradável e depois do licor, Mariana e João Henrique sentaram-se lado a lado no sofá para verem a belíssima revista, repleta de gravuras de arte
e das novidades da Europa. O coronel fumava seu charuto conversando com Pérola, e Ester entretinha-se lendo.
O ambiente calmo e agradável foi interrompido quando um criado apareceu assustado.
— Coronel, tenho uma notícia para o senhor.
— O que foi, Antônio?
— O moço fugiu da cadeia.
O coronel deu um salto.
— Fugiu? Como? Quem disse?
— O Brás! Passou na delegacia e havia um corre-corre. O Afonso foi encontrado amarrado, e o moço escapou.
Pérola olhou assustada para Mariana:
— Meu Deus! E agora? — disse. — E se ele voltar aqui?
— Não se atreveria! — esbravejou o coronel.
— Vá chamar meus homens para guardar a casa. Dois ficam aqui, e dois vão comigo, pegar aquele safado.
João Henrique levantou-se rápido.
— O que posso fazer?
— Fique aqui até que eu volte. Ficarei mais tranqüilo com você aqui. Nunca se sabe o que aquele maluco pode tentar.
João Henrique abanou a cabeça:
— Não creio que venha aqui. Com certeza vai tentar escapar.
— Não deixarei que isso aconteça. Vasculharei a cidade se preciso for, hei de trazê-lo de volta. Posso contar com a sua cooperação?
— Claro, coronel. Estarei atento e esperarei pelo seu regresso.
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QUANDO A VIDA ESCOLHE - Zibia Gasparetto
RomanceO homem acredita numa grande ilusão: que a vida seja algo separado dele, mas a realidade mostra que cada um é a própria vida se tornando gente. Portanto, quando você escolhe é a vida escolhendo em você. A vida jamais erra. Assim seja qual for a deci...