Capítulo 14

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Maria Helena apanhou a xícara de chá que Egle lhe estendia.

— Beba, D. Maria Helena. Seu filho ficará bom, tudo vai passar.

— O que teria acontecido? — indagou ela não escondendo a preocupação.

— O médico acredita que ele tenha sofrido alguma emoção forte. Está em choque. O calmante que lhe deu o fará dormir algumas horas e quando acordar, tudo terá passado.

Maria Helena colocou a xícara sobre a mesinha próxima e apanhando a mão de Egle disse comovida:

— Nunca esquecerei o que estão fazendo por nós. Luciana tem sido o anjo bom que transformou nossa casa. O que ela fez hoje foi inacreditável. Como podia saber onde ele estava?

— Há pessoas que possuem a faculdade de perceber além dos cinco sentidos físicos.

Luciana tem sensibilidade.

— Nunca pensei que isso existisse. Agora sei. O que aconteceu foi um verdadeiro milagre.

— Deus ajuda sempre. Seu filho é um moço bom.

Maria Helena ainda estava trêmula. Apesar do médico haver dito que ele parecia ter apenas um abalo nervoso e que logo estaria bem, ela sentia-se angustiada. Só se acalmaria quando o visse em seu estado normal. Fez menção de levantar-se e Egle pediu:

— Descanse um pouco. Tome mais chá. Far-lhe-á bem. João Henrique dorme, Luciana e Maria Lúcia estão velando. Qualquer coisa nos avisarão. A senhora está muito nervosa. Procure recuperar-se.

Maria Helena obedeceu. Precisava ficar bem para cuidar do filho.

— Tenho certeza de que aquela cantora lhe pregou uma peça. Vai ver que viajou e sequer o avisou. Ele saiu ontem tão animado! Tenho certeza de que ignorava a partida dela.

— Pelo que sei, ele estava muito apaixonado.

— Obcecado, D. Egle. Só pensava nela. Tanto eu como José Luiz pressentimos que esse noivado não ia dar certo. Mas ele quis e com tal veemência que resolvemos contemporizar.

— Sábia decisão. A paixão tolda a razão. A vida sempre corrige nossos enganos, mas a desilusão é difícil de superar. João Henrique precisará de todo apoio e carinho.

— Por certo. Depois do que ela lhe fez, o rompimento será inevitável.

— O tempo cura todas as feridas. Um dia ele encontrará um amor de verdade e será feliz.

— Deus a ouça. É só o que eu peço, sua felicidade.

No quarto de João Henrique, enquanto ele dormia, as duas moças velavam, trocando idéias em voz baixa.

— O que terá acontecido? — conjeturou Maria Lúcia. —Papai disse que Antonieta viajou e ninguém sabe para onde. Suspeita-se que tenha deixado o Brasil. Ontem à noite saiu um vapor rumo à Europa. Ela pode ter seguido nele.

— Pobre João Henrique, que desilusão! — considerou Luciana. — Ele é louco por ela.

— Tem paixão. E agora, como vai ser?

— Ele é um homem. Sofrerá, mas há de superar. Talvez tenha sido melhor assim. Um casamento com Antonieta não ia dar certo. Eles são muito diferentes. A separação seria inevitável.

A criada havia ido ao banheiro apanhar a roupa de João Henrique para lavar e apareceu no quarto com alguns objetos.

— Estavam nos bolsos — disse — colocando-os sobre a cômoda.

Maria Lúcia aproximou-se dizendo:

— Veja Luciana, há uma carta amarrotada. Vamos ver o que diz.

QUANDO A VIDA ESCOLHE - Zibia GasparettoOnde histórias criam vida. Descubra agora