Capítulo 5

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Sobraçando sua pasta de música, Luciana tocou a sineta da bela casa de José Luís. Faltava um minuto para as quatro, e, enquanto era introduzida na sala onde Maria Helena a esperava, ouviu as quatro badaladas do grande relógio que havia no saguão.

Maria Helena olhou-a enquanto dizia:

_ Vejo que é pontual.

Luciana olhou o rosto da esposa de seu pai e curvou ligeiramente a cabeça, dizendo:

_ A pontualidade é uma qualidade que procuro cultivar.

_ Sou Maria Helena.

_ Sou Luciana. Recebi seu convite para esta entrevista.

Maria Helena olhou-a atentamente. Luciana estava muito bem-vestida e muito bonita.

_ Sente-se, por favor. Foi um amigo de meu marido quem me recomendou a senhorita como preceptora de piano para minha filha. Por acaso dá aulas para muitas moças?

Luciana sentou-se na poltrona que lhe era oferecida, colocando sua pasta no colo.

 _Não, senhora. Eu realmente não faço da música um meio de vida. Gosto de tocar, gosto de ensinar. A música é um prazer que enriquece o espírito.

_ É idealista. Eu pensei que desse aulas para viver.

_ Se eu precisasse, talvez, mas eu e vovó temos uma renda suficiente.

_ Então não compreendo.

_ Gosto de ensinar.

_ Se eu a contratar, preciso pagar.

_ Concordo. Entretanto, eu me reservo o direito de dar aulas só para alunas muito bem escolhidas, coisa que quem luta pela subsistência não pode fazer.

Apesar de admirada, Maria Helena gostou da firmeza e da segurança de Luciana. Por certo, deveria ser muito eficiente, pensou ela.

_ A senhorita estudou em que conservatório?

_ Fui educada em Londres e estudei piano na Harmony House.

Maria Helena fitou-a com respeito. Seu sonho sempre fora estudar naquele local. Por certo estava diante de uma grande virtuose.

_ Poderia tocar para mim?

_ Por certo, senhora.

Maria Helena conduziu-a à sala vizinha, abrindo o piano. Luciana, com segurança, escolheu a partitura e colocou-a no piano. A outra, em pé ao lado, observando-a.

Luciana começou a tocar. Colocou toda a alma na peça que executava. Saiu perfeita.

Maria Helena deu-se por satisfeita.

_Muito bem. Gostaria de contratá-la. Acertar os detalhes.

_ Primeiro, antes de aceitar, desejo conhecer sua filha.

_ Desde já posso descrevê-la para a senhorita. Ela tem dificuldade de aprender. Você precisará de muita paciência com ela.

_ Poderia apresentar-me? Não posso aceitar sem saber se ela me aceitará.

_ Minha filha faz o que eu quero. Obedece. Mas não vejo inconveniente em chamá-la.

Ela tocou a sineta e ordenou à serviçal que fosse buscar a filha. Maria Lúcia apareceu alguns minutos depois. Cabeça baixa, entrou na sala, mal olhou para Luciana.

_ Esta é Maria Lúcia. Esta é Luciana, professora de piano.

Luciana levantou-se e estendeu a mão para a moça.

QUANDO A VIDA ESCOLHE - Zibia GasparettoOnde histórias criam vida. Descubra agora