Capítulo 20

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João Henrique estugou o passo, dizendo a Jarbas:

— Vamos que não é delicado chegarmos atrasados. Logo ao jantar! É horrível.

Jarbas sorriu e considerou:

— Foi você quem demorou para se arrumar. Agora fica me apressando!

— Os Albuquerques são pessoas de classe, estão nos fazendo uma gentileza.

— Você parece muito animado com este jantar. Faz tempo que não o vejo tão bem-disposto.

— Minha mãe ensinou-me as normas da boa educação. Esse jantar é em nossa homenagem.

— Está bem. Vamos lá. Tocaram a sineta e o criado abriu, convidando-os a entrar.

Na sala de estar, o coronel e Pérola apressaram-se em abraçá-los.

— Sejam bem-vindos, meus filhos. Que prazer! — disse Pérola com alegria.

— Espero não estar muito atrasado! — desculpou-se João Henrique.

— Não está não. Aceita um estimulante?

— Obrigado, coronel. Aceito.

Ele os serviu com prazer. Era especialista em vinhos e adorava apreciá-los com os amigos.

— Sentem-se por favor. Os dois acomodaram-se e a conversa fluiu agradável.

Minutos depois, Marianinha e Ester apareceram na sala. Os rapazes levantaram-se para cumprimentá-las.

— Então — perguntou João Henrique — já se recuperou?

— Estou tentando. Não nego que foram maus momentos. Gostaria de poder esquecê-los.

— Marianinha sempre foi a corajosa e eu, a medrosa — dis­se Ester com um sorriso — Mas agora, ela não gosta de dormir sozinha no quarto.

— Depois do que ela passou, é natural, — disse João Henrique.

— Se fosse comigo, nem sei como estaria! Só de pensar nisso, fico apavorada.

— Não há perigo de nada — garantiu o coronel. — Ulisses está preso e cuidarei para que não saia de lá tão cedo.

— Pelo menos até que ele esqueça o que aconteceu — dis­se Jarbas.

— Por que diz isso? — indagou Mariana.

— Ulisses não gosta de perder. Sempre vai à forra. Desta vez chegou a perder até a liberdade. Pelo que sei sobre ele, é bom mesmo que fique lá, pelo menos até esquecer o que houve.

— Pensa que ele tentaria alguma coisa mais? — indagou Pérola, assustada.

— Não sei, D. Pérola. Pode ser que a lição tenha sido sufi­ciente. Em todo caso, é bom não facilitar.

— Pode crer que estou vigilante. Ficará lá por uns tempos.

— garantiu o coronel determinado.

— Falemos de coisas mais agradáveis — propôs João Henrique. — Esqueçamos aquele lamentável incidente.

— Não esquecerei nunca — disse Mariana com um brilho emocionado nos olhos. — Foi isso que nos aproximou e fez-me perceber quem são os meus verdadeiros amigos.

— Tem razão — aduziu Pérola. — Pelo menos, esse foi o lado bom. Recebemos vocês dois em nossa casa e nos tornamos verdadeiramente amigos.

Os rapazes sorriram satisfeitos. O ambiente dos Albuquer­ques era tão agradável que eles se sentiram muito bem lá. O jantar foi magnífico e João Henrique pensou em sua mãe. Ela sabia escolher muito bem seus amigos.

QUANDO A VIDA ESCOLHE - Zibia GasparettoOnde histórias criam vida. Descubra agora