O Rei - Livro 3 da trilogia Windsors

Capítulo 7

Ignorar Deimants não era uma coisa que eu fazia com frequência, mas desde que eu anunciei o noivado firme de Elisabeth e a data da minha coroação, isso se tornou um hábito bem comum na minha vida.

As chamadas se acumulavam no meu registro de chamadas e pensava se realmente valia a pena que eu me prestasse a esse papel. Ignorá-la naquele momento não iria impedir que ela me confrontasse em algum momento, principalmente porque havia uma visita de Estado marcada para acontecer em poucos dias, logo depois do aniversário de Elisabeth e as festas de ano novo.

Às vezes eu não a ignorava de propósito, apenas realmente não tinha tempo para conversar com ela. Minha agenda como monarca estava apertada, principalmente com a coroação marcada para abril. Tudo que estava sendo preparado para a coroação do meu pai em janeiro foi mantido, apenas a data foi trocada para logo depois do início da primavera londrina. Seis meses de luto era o mínimo para qualquer espaço de tempo entre reinados.

É claro que eu sabia todo o protocolo que eu seguiria naquele dia exaustivo. Como membro sênior da família real e segundo na linha de sucessão ao trono, eu também tinha minha cota de coisas a fazer dentro daquela cerimônia, incluindo o juramento de servidão eterna. Em pensar que agora eu é quem estaria no centro daquele juramento, me arrepiava os cabelos da nuca.

Mas a mudança que mais me assustava era a de patente. Ironicamente não era o título imenso, ou o peso de ser do Reino Unido que me assustava, mas sim o fato de que, aos 18 anos, eu era o mais alto comandante dos exércitos britânicos. Eu tinha acabado de me formar na real academia quando meu avô faleceu, realmente fora apenas duas semanas depois da minha formatura e o esperado era que, em agosto, eu seguisse para um treinamento especializado na aeronáutica, mas os acontecimentos de julho impediram que eu seguisse o meu destino.

Eu era um simples soldado e, de repente, tinha pulado todas as linhas da hierarquia e estava no topo. Podia lembrar dos meus colegas de academia que sempre me lembravam que logo eu seria superior a eles simplesmente por ter sangue real. Não que dentro da academia eu recebesse algum privilégio por ser um Windsor, mas, no final, eu ainda seria do mais alto escalão porque meu pai e minha irmã governariam a Inglaterra.

Já era evidente a diferença da época em que eu estava no auge do treinamento do exército e meu atual momento. Os cabelos mais compridos, a barba por fazer e a perda dos músculos eram a principal evidência. O que me levava a lembrar que dentro da minha rotina tumultuada, precisava encontrar tempo para me exercitar. Meu médico ainda estava reticente em me deixar assumir o trono, principalmente, sem comunicar ao resto da minha estrutura de governo das minhas condições delicadas de saúde.

Não era como se fosse fazer muita diferença, afinal, eu era o único na linha de sucessão. Ingleses não são exatamente férteis ou sortudos, então, haviam poucas outras pessoas que pudesse reinar, uma estava noiva e longe do nosso alcance, o resto eram parentes distantes demais para considerar.

A solução do médico foi que eu me casasse o mais depressa possível e desse continuidade a linhagem. De preferência com uma esposa que tivesse pulso para me apoiar e reger o país ao meu lado. Eu sabia exatamente quem deveria ser essa esposa, mas não podia pedir a Deimants que abandonasse seu país e viesse viver ao meu lado. Era egoísmo demais. Principalmente com Cosmic que nada tinha a ver com essa situação.

O que resumia minhas singelas opções a revelar ao meu tio, pai de Elisabeth, minhas condições e pedir que ele ficasse ao meu lado no governo. E era por isso que eu estava ligando para ele na esperança que ele gentilmente entendesse meu caso e abrisse mão de sua vida sossegada no Brasil para voltar ao Reino Unido.

E eu realmente não o queria por perto porque ele sempre me olhava buscando semelhanças entre mim e minha mãe, exalando uma desconfiança pungente. Estava realmente pisando em meu orgulho e minha dignidade para isso.