O Rei - Livro 3 da trilogia Windsors

Capítulo 11

CHRISTIAN BARANOSKI

Realidade e ficção eram coisas que facilmente poderiam se confundir na minha cabeça e, não, não era porque eu estava com uma pré-síndrome de esquizofrenia causada por uma antepassada perturbada que resolveu congelar uma penca de cadernos superimportantes para toda a monarquia e esqueceu de descongelá-los depois. Talvez a convivência com o vocabulário peculiar de Justino estivesse realmente afetando a minha forma de falar.

A questão agora é que eu precisava urgentemente voltar a Inglaterra porque o que eu descobri poderia ser a diferença entre a vida e a morte de Louis em um conflito que chegaria mais dia menos dia. E eu obviamente me alistaria ao exército britânico para servir ao lado dele, principalmente se considerar que essa guerra foi provocada pela minha irmã.

Justino estava preparando tudo para nossa viagem de volta as cortes reais. Não seria uma coisa nada amigável, já que assim que Leonard descobrisse que foi o conde que me ajudou a fugir, a cabeça dele ficaria a prêmio. Leonard sabia ser um péssimo irmão às vezes, bem rancoroso também. Cabia a Sophie me proteger da fúria que meu irmão com certeza vinha deixando amadurecer desde a breve aparição em seu casamento esquisito.

E eu ainda precisava encontrar uma nova noiva.

Não é como se eu tivesse superado por completo Anne, mas uma hora ou outra eu precisaria encarar o fim do meu noivado de cabeça erguida e esquecer que o pai dela foi um filho da puta conosco. Ou apenas comigo. Não sabia ao certo se Anne estava feliz com seu novo relacionamento. Eu me lembrava muito bem de como aquele príncipe tinha assediado Elisabeth e meu ódio por ele borbulhava em meu coração gelado.

E quanto a uma noiva, eu tinha arranjado uma candidata. E, não, não importava que eu só a conhecesse há poucas semanas, na realeza tudo acontecia de forma rápida e pratica. Quanto mais depressa engatássemos um relacionamento, mais rápido as duas partes ficariam felizes e as coisas desenrolariam no tempo certo.

Nora Audrey apareceu na minha vida enquanto eu e Justino seguíamos pistas dos cadernos perdidos de Dexter Pyros até a Áustria, onde mais cadernos dele estavam escondidos. Dele e da minha antepassada perturbada, Irina, com detalhes incríveis dos nossos poderes. Justino não gostou de ser usado como cobaia para testar até onde as descobertas estavam realmente certas, mas ele sobreviveu, então, é isso que importa.

Nora foi uma pequena descoberta enquanto sondávamos o empréstimo de um palácio no interior. Ao que tudo indicava, ele estava desocupado, porém, tivemos uma agradável surpresa ao descobrir que a princesa morava lá. Ocupante da décima oitava posição na fila do trono e escondida por ser muda. Era fascinante como minha antipatia por famílias reais crescia mais a cada dia. Esconder uma princesa real simplesmente porque a garota teve o infortúnio de nascer surda?

A questão é que precisávamos estar naquele maldito palácio porque, ao que tudo indicava, era nele que estavam os cadernos remanescentes de anotações, já pelas palavras da primeira e única imperatriz russa de direito, que por algum motivo desconhecido por mim — e por todo mundo — decidiu banir as mulheres da linha sucessória.

Não podíamos dizer a Nora o que realmente estávamos indo fazer ali, porém, eu precisava ter a certeza de que as coisas que eu precisava estavam mesmo na porcaria do castelo. E era muito difícil se comunicar com ela porque eu não sabia língua de sinais nem em inglês, que dirá em austríaco. Então, passamos a nos comunicar por cartas.

Mesmo naquele momento, onde eu estava a caminho da Inglaterra depois de duas semanas na Áustria em sua companhia e mais um mês trocando e-mails e mensagens, eu ainda conseguia me lembrar do brilho dos olhos castanhos. O sorriso doce no rosto meigo. A sombra de tristeza que ela tentava esconder.