Capítulo 10

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Eu serei um bom rei, Ilí?

Ilícia e eu estávamos em Frogmore Cottage, a cerca de uma hora de Buckingham, aproveitando um lapso de tempo livre para relaxar. Provavelmente não deveríamos estar atirados na grama dos jardins, mas isso não estava importando muito.

— Considerando que você não foi criado para isso, eu acho que sim, está se empenhando muito, Louis.

O tempo nublado não era uma novidade, mesmo que estivéssemos na primavera. Aqui chovia a maior parte do ano e, quando o aguaceiro não estava desabando sobre nossas cabeças, as nuvens estavam prontas para desabá-lo.

— Minha irmã com certeza seria uma rainha me...

— Minha irmã também seria uma assessora mil vezes melhor que eu estou sendo — ela me interrompe — mas, não podemos ter tudo que queremos, Majestade, então agora todo mundo vai ter que se contentar com a gente.

Ilícia oscilava entre ser a menina mimada, birrenta e afrontosa que todos achavam que ela era ­— incluindo a própria irmã — e a menina doutrinada, calada e sufocada pela educação deturpada que recebeu dos pais. Eu gostava mais da versão intempestiva. Acho que o fato de eu dar a ela a proteção e a liberdade suficiente para que ela se expressasse da maneira que achasse melhor dava mais confiança a garota.

— Você ainda não disse onde se enfiou depois que sumiu com Cosmic da recepção. — Sorrio malicioso. — Será que eu devo ligar para Leonard e avisar que ele ganhou um cunhado?

Foi tão rápido que eu só me dei conta quando ela já recolhia a mão. Ilícia acertou, com uma força que eu nem sabia que ela tinha, um baita tapa na minha cabeça enquanto me chamava pelos mais afetuosos nomes que ela conhecia.

— Vou fazer pior da próxima, troço irritante — ameaça e eu gargalho. — Se for por isso, o que você e Deimants tanto conversaram? Tenho certeza que não foi só política.

Seguindo minha teoria sobre aguaceiros, gordas gotas de água da chuva começaram a despencar. Bastou um movimento languido da minha mãe para que elas se desviassem de nós, criando uma espécie de bolha no nosso pequeno espaço na grama.

— Ela tem um novo pretendente, um príncipe metido a besta que assediou sua irmã no debute dela, também conhecido como um herdeiro escandinavo. Deimants o detesta.

Só de lembrar das palavras que ela usou para descrever o homem, meu sangue esquentava nas veias e meus punhos formigavam pela vontade de acertá-lo.

— Não entendo porque vocês não podem ficar juntos. Você é um rei, Louis! Ela podia abdicar para Cosmic e ficar com você, tenho certeza que depois de tanta coisa acontecer para que pudessem ficar juntos, ninguém a jugaria. — Solto um suspiro.

— Eles julgariam sim, Ilícia, você deu a sorte de crescer longe dessa gente gananciosa e mesquinha, Deimants nasceu e foi preparada para ser a governante principal do país, para escolher o melhor dos pretendentes, casar com um país e não um homem, não ter coração... essas coisas esquisitas que esperam que levemos ao pé da letra e tudo mais.

Ilícia se afunda em pensamentos e eu brinco um pouco com a água. Queria encontrar uma resposta para a pergunta que a grã-princesa da Rússia tinha me feito no Natal, matutava uma resposta há meses e nada. Como minha irmã e meu pai, hidrocineticos que dominaram com perfeição as próprias respirações, morreram afogados? Por que meu pai não convocou as águas para protegê-los? Eram tantas dúvidas...

— O que... O que vai acontecer quando chegar a minha hora? — Encarei-a confuso. — Minha hora de noivar, de casar, de precisar escolher um pretendente.

O Rei - Livro 3 da trilogia WindsorsOnde histórias criam vida. Descubra agora