Capítulo 1

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Louis Windsor

No limiar dos pensamentos humanos, o amor é uma constante.

Quando somos crianças, dizer as malditas três palavras é a coisa mais fácil do mundo. Elas nos escapam dos lábios em todos os momentos possíveis. Amigos, pais e ademais são os alvos dessas palavras tão carregadas de sentimentos, palavras essas que aos poucos tornam-se difíceis de serem proferidas.

Meu caso sempre foi diferente, afinal, quando se tem Helena Di Savóia Windsor como mãe, alguma coisa deve ser diferente.

Eu era apenas uma criança quando meus tios nos deixaram, levando consigo os únicos amigos que eu tinha: Leonard e Christian Windsor, os príncipes de York. A seletividade de Helena para autorizar minhas amizades sempre foi um incomodo, e com os dois partindo para o desconhecido, eu fiquei sozinho.

Não muito diferente da situação em que eu me encontrava naquele momento, mesmo tantos anos depois do recuo de David e Alexsandra. Se sentir inveja de mortos era pecado, eu estava imerso neles até o pescoço. Mary Amanda teve a chance de amar e ser amada, querida, desejada. Ela morreu sabendo que era amada pelos amigos, pelo namorado. Eu nunca tive essa certeza.

Helena sempre deixou claro que eu era um inútil. Nem de longe, eu tinha o necessário para ser um verdadeiro rei. Eu estava confinado a uma medíocre existência de consorte onde achassem que eu devia. Mesmo a grandiosa Eton College não me preparou para a vida pública que eu devia desempenhar com facilidade.

Eu era fraco. Inútil. Quebrado.

Não sei se podia culpar minha mãe por tudo. Ela não pediu um filho inútil e doente. Assim como eu não pedi uma mãe com maquinações malévolas.

Helena não conseguiu controlar Mary Amanda, então a mandou para Wodrood, piorando todo o contexto. Sua falta de pulso em cima de sua herdeira do trono a deixou rebelde e suscetível a tomar as piores decisões possíveis, do ponto de vista da matriarca da família.

Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, hiperfoco, transtorno bipolar e, o pior de todos, transtorno explosivo intermitente. Sucessíveis problemas que surtariam qualquer mãe, ainda mais uma que exigia perfeição de todos ao seu redor.

É a maior das obviedades que Helena nunca deixou ninguém saber de tudo isso. Por que a grande princesa permitiria que descobrissem que seu caçula era um poço de problemas mentais? E, então, por que eu assumiria o trono sabendo que eu era completamente despreparado e inelegível para ele? Nem sempre pertencer a uma casa real e ter um poder é tudo que um herdeiro precisa para ser rei.

Minha mãe era uma assassina, uma pessoa perversa mais interessada em seu benefício próprio que com a saúde e bem-estar dos próprios filhos. Meu pai, alienado ou não, suscetível aos domínios de minha mãe por seus fortes sentimentos ou não, era tão criminoso quanto ela, cúmplice de todos os seus crimes.

Minha irmã morreu por causa disso. Foi torturada e morta por causa da sede de poder desenfreada de uma mulher que já tinha tudo.

Minha família agora era inexistente. Como eu podia considerar família as pessoas que me deixaram sozinho com uma louca? Pessoas essas que sabiam do risco que ela representava ao mundo. Tão culpadas pela morte da minha irmã quanto meus tios, os pais de Antoine e o casal imperial russo. Se eles tivessem feito o certo e denunciado minha mãe, nenhuma desgraça teria acontecido. Eu poderia não existir, mas o mundo estaria mais seguro.

Tudo isso veio à minha cabeça no lapso temporal em que minha consciência se adaptava ao meu corpo. O cheiro que emanava do lugar e os bips de maquinas entregavam que eu estava em um hospital. Nada inesperado considerando os recentes acontecimentos. Meu ombro latejava, assim como minhas costelas. Podia sentir a tipoia no braço

O Rei - Livro 3 da trilogia WindsorsOnde histórias criam vida. Descubra agora