Capítulo 6

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Decidir abandonar seu título e por consequência dar as costas a seu sangue e sua linhagem não estava nos meus planos, mas se tornou parte deles.

A necessidade latente, acompanhada de recomendações dos melhores profissionais que já tinha me tratado foi incentivo o suficiente para que eu procurasse o secretário real e pedisse os papeis da abdicação. Não era puro capricho como Elisabeth gostava de fazer parecer, qualquer pessoa que tivesse acesso ao meu prontuário médico poderia ter a mais plena certeza de que essa era a decisão correta a se tomar.

Existiam prós e contras a se pesar na balança, obviamente, eu não estava me importando em sair de vilão naquela história, e é claro que eu sabia que eu seria o vilão. Elisabeth era a princesa inocente e altruísta que abdicou de sua vida pela pura infantilidade do primo mimado. Essa é a história que as futuras gerações ouviriam, como a brava e bondosa Elisabeth Windsor recomeçou a linhagem britânica do trono.

Ninguém se importaria em perguntar o porquê de o príncipe ter renegado as honras e privilégios, ou como ele se sentia fazendo isso. Nem os que estavam vivendo comigo aquela fase se davam a esse trabalho, porquê aqueles que só ouviriam a história sendo passada se importariam?

Uma história sempre tem dois lados, porém, quem se importava em conhecê-los? Elisabeth já tinha um histórico de tomar decisões sempre prestar atenção no contexto geral da história. Se ela tivesse ouvido de fato meu tio, não teria voltado a Europa, e se ela tivesse ouvido Carter, não estaríamos aqui. Porque se Elisabeth não tivesse voltado para esfregar na cara de todos o quanto agia com perfeição, minha mãe não teria pressionado Mary Amanda.

A vida na realeza era um intrincado jogo de xadrez, entretanto, às vezes, tudo se tornava um dominó e a mudança de uma única peça poderia desencadear o desabamento de todo o jogo. Tudo naquela vida de aparências era delicado demais e, se Elisabeth não aprendesse a medir seus atos, ela geraria cada vez mais desabamentos.

E eu não queria estar ali para assistir.

A promessa de aniquilação feita por meu tio ainda pairava no ar como uma névoa mortal. Elisa parecia alheia a tudo isso, como se em seu mundinho colorido não houvesse necessidade de pensar no massacre que ela provocou. O que custava que ela ficasse quieta? Qual era a verdadeira necessidade daquele show? Elisabeth transformou nossa família, minha família em uma atração internacional de circo e, por mais que ela não quisesse admitir, sabia que o reino estava indo de mal a pior, principalmente na economia.

Tudo virou uma questão de necessidade. O que era preciso para reerguer meu país? Tirar meu nome da lama? Devolver a casa Windsor seu prestígio?

Sabia que assim que aqueles papeis fossem assinados, uma verdadeira bomba explodiria dentro daquele palácio. Os olhos do mundo estariam de volta para as paredes envelhecidas de Buckingham, não que estivessem muito distantes desde a reunião na Alemanha, e eu seria interpelado incessantemente até revelar meus motivos. E ninguém acreditaria neles.

Eu só tinha uma opção: Christian Windsor Baranoski.

Meu primo tinha me dado a certeza de que, se preciso fosse, ele enviaria alguém para me resgatar daquele inferno e em nenhum outro momento essa ajuda era tão oportuna. Eu tinha dinheiro, muito dinheiro vindo da herança de meus avós, tanto maternos quanto o paterno, meus pais e até o dinheiro de Mary acabou parando em minhas mãos, comprar alguém para me ajudar não seria difícil.

Eu já tinha olhado e voltado naquele contato tantas vezes que tinha decorado os números de telefone do meu primo. Disquei sem pressa enquanto minha mente voava até Deimants. O que ela me diria quando eu abdicasse? Ou pior, qual seria sua reação quando eu desaparecesse do mapa? Talvez fosse a hora de lhe entregar aqueles documentos que eu guardava a sete chaves e que continham o nome dela como destinatária.

O Rei - Livro 3 da trilogia WindsorsOnde histórias criam vida. Descubra agora