Capítulo 3

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O dia que Elisabeth assinaria o atestado de óbito do meu povo chegou. Não povo dela. Elisabeth poderia se tornar rainha desse país, mas eles jamais seriam seu povo.

Ela era uma estrangeira em todos os sentidos. Não pertencia a lugar nenhum porque o que deveria ser seu reino nem chegou a ser formado, a ideia fora dizimada junto com a família ancestral que carregava seu poder. Não importava o quanto ela tentasse, jamais seria de terra ou povo algum. Uma princesa sem reino, sem domínio.

Mesmo os consortes encontram seus próprios títulos, mas minha prima seria eternamente a princesa de fogo. Todos se tornariam majestades ao seu redor, menos ela própria. Não duvidava que até mesmo a irmã de Elisabeth se tornasse alguém, uma imperatriz a sua maneira. Se Elisabeth parecia especialmente poderosa, sua irmã era muito mais. Eu tinha visto nos olhos, tão cristalinos que se tornavam apavorantes, o quanto deveria se temer aquela criocinética.

Ilícia Baranoski era uma verdadeira pérola desconhecida. Obviamente, era difícil medir o poder que corria por suas veias com dois irmãos e uma prima para ofuscar completamente qualquer ação dela, mas bastava estar no mesmo cômodo que a caçula da família para sentir o quanto ela era fria. Se Elisabeth exalava calor, Ilícia congelava até os átomos ao seu redor.

Eu tinha recuperado pouco de peso que eu perdi.

Nos primeiros dias, a comida tinha que ser leve. Na verdade, quase um mês depois, coisas muito pesadas ainda não eram recomendadas para mim, mas ingeria sucos e caldos com muito mais frequência do que já tinha feito antes. Não soube se Mackenzie comentou com minha prima o ocorrido, ele não voltou muitas vezes para me ver e minha avó passou longe das portas duplas entalhadas com meu brasão.

O frenesi em pensar no meu reencontro com Deimants veio cedo. Sabia que ainda estava parecendo um cadáver ambulante, mas não tinha muito a fazer quanto a isso. Conviver com quem eu sou de verdade nunca fui um problema grave para mim.

Talvez eu estivesse agindo como um filho da puta cheio de rancor, mas não podia evitar ser esquivo com quem se aproximasse de mim. Estava atirando em cima de Elisabeth toda minha frustração pelo que aconteceu, não que ela não merecesse uma parcela de culpa por agir como se eu fosse o vilão da história, porém, ela não merecia toda a carga que eu estava atirando sobre ela.

Sua negligência ainda me enojava. A forma egocêntrica com que ela via o mundo também, como se apenas ela fizesse sacrifícios, quando era obvio que outros também tinhas suas cotas de dor e sofrimento para carregar. Perguntei-me mentalmente se alguma vez ela perguntou a Antoine se ele estava bem, se ele estava precisando de alguma coisa antes de transformá-lo em seu cão de guarda.

Ela não se importou se abalou o relacionamento de Carter de alguma forma. Da mesma forma como ela não quis ser envolvida no problema de Mary Amanda, envolveu tantos outros que não tinham nada a ver com a história. Leonard e Sophie não pediram por aquilo, muito menos o próprio Grace que, ao meu ver, se não pusesse limites em Elisabeth, passaria a vida inteiro como capacho de seus delírios.

O lorde ainda tinha muito a aprender sobre o intrincado jogo do poder político. Assim como eu. Mesmo que não tivesse a mínima pretensão de algum dia realmente fazer parte desse jogo. Sabia que estava adiando a renúncia por comodismo. Assim que eu assinasse aqueles papéis, seria um estranho a minha terra e o que sobrou da minha família, obrigado a sair do país e viver em exílio pelo resto da minha vida.

Mas os títulos não me importavam, muito menos o estilo de tratamento ou a riqueza. Se fosse para ser apenas Louis Windsor, eu o faria com prazer. Eu tinha 18 anos, não seria difícil dar um jeito de arrumar um trabalho.

Podia ser adestrador, professor de etiqueta, de montaria, trabalhar como mordomo. Trabalhos simples, mas que me sustentariam. No entanto, ainda estava preso naquela imagem de menino rei que me recusava a tornar permanente.

O Rei - Livro 3 da trilogia WindsorsOnde histórias criam vida. Descubra agora