Desesepero

3.9K 331 98
                                    

Ricardo on---

Descemos a escada em direção à nova divisão, escura e com cheiro a mofo. A Santos vai à frente, seguida por mim que carrego o William às minhas costas. Descemos uns 9 degraus e quando piso o chão sinto-o frio, mesmo com sapatos.

- Onde está a luz disto?- pergunta a Iolanda, atrás de mim, enquanto grava com a câmera.

- Achas que eu é que sei?- fala a Santos.

- Eu tenho uma lanterna na minha mochila!- digo, lembrando-me, passando-a à Santos. Retiro também a lanterna do William e passo-a à Lela, ficando assim duas lanternas a iluminar o local.

Assim que ligamos a lanterna vemos que existem várias prateleiras partidas e com pó. Algumas têm frascos e outras livros muito velhos. Um espaço um pouco pequeno, mas parece muito maior com toda a tralha que está lá guardada.

- Está ali um lençol gigante, branco...- diz a Lela apontando para um lençol branco, que vai do teto até ao chão. Está esticado e suspenso por uma corda mas não se vê nada do outro lado.

- Acham que devemos ver o que está lá atrás?- pergunto, temendo a resposta.

- Sim... Acho que é melhor...

Recomeçamos a andar até ao pano. A santos descobre outra lanterna na sua mochila e liga-a também, passando-a à Iolanda. Apenas se vê sujidade, uns sofás e caixas. Chegamos cada vez mais perto, e mais perto. Estou na frente mas arrependo-me disso, pois o que vi vai perseguir-me a mim e a todos os presentes naquele local.

Todos gritamos mas todos temos reações diferentes; a Santos desmaia, a Lela corre para fora da cave e a Iolanda fica a olhar, tal como eu para o que está à nossa frente, deixando cair o William no chão. Existe uma corda com o nó para a forca e uma pessoa pendurada nela, a balançar, com os olhos bem abertos e com sangue no nariz.

- A.... a.. m..Mariana Tavares... morreu?- pergunta a Iolanda, gaguejando.

- N....não.....p...pode ser. Ela....

A Iolanda atordoada com o acontecimento agacha-se ao pé da Santos e tenta acorda-la. Depois de a Santos acordar ela senta-se numa cadeira ali perto e pergunta.

- O que.. o que vamos fazer?- pergunta, com medo na voz- não a podemos deixar ali.

- Pois não. Mas o que fazemos?- pergunta a Iolanda ao meu lado.

- Porque não a deixa-mos aqui. Mas com algo a cobri-la. Ela nao pode ficar assim.

- Tu estás estúpido?! Não a podemos deixar a... aqui a apodrecer!- grita a Santos a chorar ainda mais.

- Eu sei que não podemos mas não existe outra forma! ELA MORREU, PERCEBESTE?! MORREU! E NÃO A PODEMOS TIRAR DAQUI PORQUE NEM NÓS CONSEGUIMOS SAIR DESTA CASA! AGORA CALA A MERDA DA BOCA E AJUDEM-ME A TIRA-LA DALI!-grito o mais que posso sem me importar com mais nada.

Estou farto de tudo e de todos. De sobreviver, de mistérios. Quero ir para casa, quero sair daqui.

Elas ficam caladas a olhar para mim, mas aceitam a minha ideia; limpam as lágrimas e depois retiram o lençol branco enquanto eu encarrego-me de retirar a Mariana dali de cima. Corto a corda com uma faca de cozinha que estava numa caixa ali perto, e deixo que o corpo dela cai ao chão, mole.

- Io, vem me ajudar a carrega-la até aí.- peço, pois não sou capaz de carrega-la sozinho.

- Ok. - diz ela num sussurro enquanto se aproxima de mim.

Depois de o corpo estar deitado num colchão esfarrapado cobrimo-la com o lençol e ficamos em silêncio.

Porque isto nos está a acontecer a nós? Porque mataram a Tavares? Temos de sair desta casa, mas como saímos de algo que está fechado?

A CasaOnde histórias criam vida. Descubra agora