taste ☾ norenmin

ɪɴᴇᴠɪᴛᴀʙʟᴇ ʙᴏʏs ;;

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Há apenas duas coisas inevitáveis na vida: o amor e a morte. O amor, não necessariamente se tratando apenas do romântico, experimentamos ao longo da nossa vida. Seja o próprio, parental, de amigos, irmãos, amantes. A morte, por outro lado, é um fim que temos ciência de sua vinda, mas nunca estamos preparados. E, claramente, é inevitável chorar quando o súbito --- ou não --- luto chega. Não queremos por um fim no que amamos. Somos seres intensos, infinitos. Na juventude, queremos tudo aqui, agora, do nosso jeito. Quando queremos, do jeito que queremos. Mas há duas coisas inevitáveis, afinal.

Renjun tinha total consciência de que não seria fácil. Tanto ficar longe dos seus namorados, quanto enfrentar sua família e ver a matriarca Hwang tão debilitada. Em todos os trajetos de carro que fazia do hospital para a mansão da família, pensava em como a vida é um sopro. Fazia anos que não via sua avó e, agora, nessas circunstâncias, se sentia culpado por não ter a dado mais atenção, mais amor, ter mostrado que se preocupava, sim, com tudo o que se resumia a ela. Ver sua mãe tão abatida também lhe causava certo desconforto, preocupação. Qual fora a última vez que conversara ou despendera tempo, de verdade, com ela? Nem ao menos conseguia se lembrar. Demorou menos do que ele esperava, mas aconteceu o que sabia ser inevitável.

O pequeno moreno vestiu o terno azul, seguindo a tradição dos velórios chineses. O caixão virado para o interior da casa, disposto sobre o belo jardim do casarão, pousava uma senhora de semblante suave. E, por mais que ela parecesse descansar enfim, Renjun não conseguiu evitar de chorar. Queria Jaemin ali, para lhe acariciar os cabelos e sussurrar um "tudo vai ficar bem", enquanto Jeno lhe esmagasse em um abraço apertado. Queria ser consolado, não ter que consolar. Queria poder chorar em paz, sem precisar encarar a face de todos aqueles que choravam com falsidade (óbvio que haviam exceções). Sentiu uma mão pousar sobre seu ombro, mas não conseguiu sorrir o mínimo para Sicheng. Encarou as velas, as comidas a serem oferecidas, os incensos se queimando e virando poeira. Seria uma longa noite e sabia disso. Felizmente, o céu estrelado não dava indícios de chuva. Conforme os parentes foram deixando a roda de acordo com a posição familiar, o jovem caminhou para um lado afastado. Leu, mesmo com dificuldade pelas lágrimas, as condolências que os namorados haviam mandado pelo chat. Quis suspirar de alívio, mas tinha total consciência de que havia muito mais pela frente. Não que se importasse com toda aquela baboseira de dinheiro e herança, mas sabia que alguns de seus tios não pensariam duas vezes antes de tentar prejudicar sua mãe nesse processo. 

A cerimônia fúnebre, ao seu ver, era a pior parte. Não havia presenciado tantas, por conta de ter passado boa parte de sua vida na Coréia e não ter ido a tantos velórios, mas não era algo que gostaria de passar novamente. Depois de cantigas, do monge presente, orações e súplicas, papéis “sagrados” brancos e amarelos foram colados no caixão para proteger o corpo de ser molestado por espíritos malignos e, durante o fechamento do caixão todos se viraram de costas, pois era considerado de "má sorte" assiti-lo. Com uma rápida olhada, Renjun se virou, uma última vez, e encarou a face pálida da avó materna, suplicando a qualquer entidade que houvesse para que a protegesse, no que quer que existisse após a morte antes de voltar a sua posição e inspirar com força o ar. Sentiu a mão de sua mãe apertar a sua e devolveu o toque, com o coração apertado. "Para todos os começos, fins e, para todos os fins, começos" lembrou do que sua avó disse, pouco antes dele e sua mãe deixarem a China.

“É, vovó, você tinha razão.” pensou, sorrindo triste. “Mas eu não estava pronto pra esse fim” completou, fechando os olhos.