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"Muitas pessoas querem ser invisíveis. Talvez até pensem que podem fingir que são. Mas sempre alguém as vê"

- Michelle Falkoff




Alfie não a tinha escolhido pela sua beleza, apesar de a achar bela. Ele tinha-a escolhido pela sua confiança. A forma como ela andava de cabeça erguida, em passos largos e rápidos.

O seu cabelo preto, que ele podia jurar não ser a sua cor original, cortado logo abaixo da orelha, sempre impecavelmente penteado. E a constante ausência de qualquer maquilhagem na sua face.

Por muito tempo ele não percebia o porquê de ela usar sempre roupas pretas; inicialmente havia pensado que ela poderia ser viúva.


- Eras casada? - ele questiono-a, quando na segunda vez se encontraram e ela vestida a mesma palette de cores escuras, que no dia anterior.

- Não - ela respondeu simplesmente, de uma maneira que o fez crer nela.

- Então porquê vestir sempre de preto?

- Não sabia que era uma cor entredita - ela replicou, franzindo o sobrolho.

- Entendeste o que eu quis dizer.

- É a única cor que me fica bem.

Ele duvidava disso.


Mas depois de investigar o seu passado (ela poderia ter sido enviada pelo inimigo, todo o cuidado era pouco), descobriu que ela não tinha, de facto, perdido o marido. Nunca tivera a oportunidade de se casar com o amante com quem tinha fugido da sua vila, quando ambos tinham apenas 17 anos, pois ele havia morrido na guerra.

- Max! No meu gabinete agora - Alfie chama-a pela sua alcunha, derivada do seu último none 'Maxwell'.

Ela estava a passar instruções a um dos empregados. Alfie não fazia ideia de como ela conseguia fazer com que todos os seus homens  não só a respeitassem como obedecessem, sem qualquer questionamento. Ela fazia o seu trabalho como gestora parecer fácil, ainda mais tendo em conta o tipo de pessoas com quem lidava.

Max despede-se do homem com umas palavras que Alfie não consegue ouvir, seguido de um toque no seu ombro, para depois o seguir.

- Como te sentes, chefe - ela cumprimenta-o, enquanto ele entra no seu gabinete logo seguido por ela.

Ela não é simpática. Outro pró, que ele admirava. As mulheres tendiam a ser simpáticas, como se isso fosse ajudar no que quer que fosse. Max é prática, e sempre que parecia dizer coisas educadas, nunca o dizia com simpatia. Dizia-o com uma frieza mascarada de indiferença. E a forma como se dirigia a ele não era diferente. Dar graxa ao "chefe" não parecia ser sequer uma opção para ela.

- Senta-te - Alfie aponta para a cadeira à frente da sua enorme secretária, enquanto ele vai ao seu armário no lado oposto do gabinete, impossibilitando Max de ver o que ele lhe traz, ao obedecer à sua ordem, sentando-se.

Ele abre o armário com a sua chave e de lá tira uma garrafa de vodka. A melhor marca de vodka, e também a mais cara.

- O que é isso? - Max questiona-o, de testa franzida, quando Alfie pousa a garrafa por abrir, e com um laço vermelho à sua volta, em cima da sua mesa.

- Vodka - ele responde diretamente à sua questão mal formulada.

- Eu consigo perceber isso - ela faz uma pausa - Qual é a ocasião?

- Eu sei que é o teu aniversário. 22 anos, hein? - Alfie esboça se um semi-sorriso. 

- Fizeste a tua investigação - ela comenta, permanecendo impassível.

- Claro que fiz - ele confirma, fazendo deslizar a garrafa na sua direção - Sei tudo sobre ti.

- Duvido - ela comenta, suspirando ligeiramente, tocando na garrafa - É minha?

- Estava com esperança que me oferecesses um copo.

- O que é que te fez pensar que gosto de vodka?

- Nada, na verdade. Mas pareces o tipo de mulher que tem bom gosto.

- Prefiro o teu rum.

- Sério?

- Não.

- Esta deve ser a primeira vez que te ouço dizer a porra de uma piada - Alfie solta uma gargalhada.

Max continua imóvel, talvez com um pequeno brilho nos olhos, nota Alfie.

- Há sempre uma primeira vez - ela encolhe os ombros - Posso ir?

- Estás com pressa para ir a algum lado? - Alfie levanta uma sobrancelha, levemente curioso.

- Quero dizer, posso continuar o meu trabalho? Sabes aquilo que tu me pagas para fazer.

- Sabes, não devias falar com quem te paga o salário dessa forma - ele replica, conseguindo manter-se sério, com um certo esforço.

- Tecnicamente sou eu quem paga a toda a gente aqui. Inclusive a mim mesma - ela argumenta - Mas entendo o teu ponto.

- Estou a ver que é preciso esperar pelo teu aniversário para te ouvir dizer umas piadas.

- Então é melhor que não te esqueças de apontar esta data tão especial. Agora se me dás licença - ela levanta-se da cadeira, sem lhe dar tempo para dizer mais alguma coisa.

- E a garrafa? - ele questiona-a, elevando a voz para ela o ouvir.

- Podes ficar com ela - ela encolhe os ombros - Haveremos de ter motivos para celebrar e abrimo-la nessa altura.

Alfie sorri, mas ela já havia saído da sala.

- Raio da mulher - ele resmunga para consigo mesmo.

Tell Me It's Over | Peaky BlindersOnde histórias criam vida. Descubra agora