[AVISO: eu pouco ou quase nada sei sobre a primeira guerra mundial. Tudo o que irão ler aqui escrito foi com base na minha imaginação do que poderia ser sido a grande guerra. Então não levem a sério nenhuma suposta informação aqui exposta. É tudo ficção]
"Espero que sejas bom a guardar segredos
Diz que és bom a guardar segredos
Porque tu sabes que eu não confio em ninguém"- Trust Nobody (Cashmere Cat)
Alguns anos atrás
- Alguma vez deste pontos a alguém? - Max questiona Lance, virando-se para ele com a mão por debaixo da t-shirt a estancar o sangue.
- Aã... N-Não. Mas tenho a certeza que não será difícil. Senta-te aqui - ele diz claramente assustado com a ideia de ter de ser ele a fazer aquele trabalho.
Ela vai buscar a sua mochila, onde estão todos os materiais médicos.
- Espera. Deixa-me ajudar-te.
- Não sejas parvo, estás muito pior que eu - ela diz bruscamente, atirando a mochila para o seu lado.
Sempre agarrada à parte inferior da sua barriga, senta-se ao lado de Richardson.
- Deixa-me ver - ele pede e ela retira a mão de cima do ferimento aberto, puxando a t-shirt apenas um pouco para cima.
Ela sabe que está a adiar o inevitável. É impossível que ele não se aperceba da apertada ligadura que tem no peito, que impede os seus seios de serem evidenciados. A sua t-shirt é de um tecido fino e mesmo com a ligadura é possível notar que ela não tem um peito de um homem.
- Como é que isto aconteceu?
- Numa luta com um fritz (n.a.: apelido muito difundido entre os soldados britânicos para denominar os soldados germânicos, fritz é diminutivo para Friedrich) - ela explica, pensando numa maneira de não ter de revelar o seu verdadeiro sexo.
- Conseguiste matá-lo?
- Achas que estaria aqui caso contrário?
- Podia ter fugido.
- Não fugiu.
- Bom, eu não sei bem o que fazer.
- Eu explico.
- Espera, tu sabes o que fazer?
- A maioria prefere ignorar quando o médico está em ação. Eu não - ela explica.
Ele sorri, impressionado.
- Então deita-te e diz-me o que fazer exatamente.
Ela obedece, com alguma relutância. Será que não era melhor dizer-lhe logo? Era tão óbvio. Tão óbvio.
Ela puxa a t-shirt um pouco para cima, apenas para se ver a ferida.
- O que é que tens debaixo...? - ele questiona-a, reparando que alguma coisa não estava certa. Debaixo do tecido era visível um alto, será que era uma ferida antiga?
Max semicerra os olhos e respira fundo, preparando meticulosamente as suas próximas palavras.
- O meu nome é Eleanor Maxwell. Alistei-me sob o nome de Alexander Maxwell para puder lutar pelo meu país - ela fala monotonamente, encarando o céu escuro, coberto de estrelas. A sua mãe ensinou-lhe a ler as estrelas, mas agora só conseguia distinguir um punhado de constelações. A sua preferida sempre foi cassiopeia, pelo seu nome peculiar e forma simples.
- Espera, disseste Eleanor? - Richardson arregala os olhos, afastando-se para trás, como se acabasse de descobrir que Max está infetada com uma doença contagiosa.
- Sim, Eleanor Maxwell. Quando era criança ainda me chamaram muito Ellie, mas depois cheguei à conclusão que esse nome não se adequava, então só passei a responder quando me chamassem Max. Max como de Maximillian, o imperador. Só que no meu caso vinha de Maxwell - ela tagarela.
Max sempre que estava nervosa falava muito. Sobre factos idiotas sem grande profundidade.
- Na minha vila ensinavam todos de igual maneira. Todos aprendíamos a disparar, todos aprendíamos pelo menos duas línguas estrangeiras. Não importava o nosso sexo, cor de pele ou nacionalidade - ela continua - Por isso a maioria nunca se mudava dali. Em qual outro sítio poderíamos viver em tamanha igualdade?
Lance Richardson não podia acreditas naquilo que ouvia. Alexander Maxwell era uma mulher! Uma mulher havia salvado a sua vida. Uma mulher era dos atiradores mais bem sucedidos do exército inglês. Meu Deus, ela mandara-o parar a ele de choramingar.
Fazia todo o sentido. A sua cara era terrivelmente feminina e bonita. E a sua voz.... Era uma voz de mulher. Como é que ele nem sequer tinha pensado na possibilidade de Maxwell ser na verdade uma mulher?
- Mas eu e o meu irmão, Christopher, queríamos mais. Não queríamos ficar a viver o resto das nossas vidas escondido quando havia uma guerra a decorrer - ela explica - Éramos os dois demasiado novos, e eu ainda era mulher. Mas eu conseguia facilmente passar-me por homem. E assim o fiz.
- Agora gostaria muito que me ajudasses a não morrer por conta de um corte de uma navalha - ela muda de assunto, fazendo Lance voltar à realidade.
- É impossível que tenhas enganado toda a gente este tempo todo.
- Podes só vir ajudar-me ou não?Ele hesita antes de se aproximar dela, muito corado. Agora que sabia que ele era na verdade uma ela, estava muito desconfortável na sua presença. Não conseguia deixar de pensar em como foi um autêntico idiota por não ter percebido aquilo antes. A sua barriga era tão... feminina. E a cara. E todo o seu corpo.
- O que é suposto fazer? - ele pergunta-lhe, com as mãos trémulas de nervosismo. Já antes só a ideia de fazer um procedimento médico em alguém o deixava inquieto, mas então agora.
- Isto não muda nada, entendido? - ela agarra-lhe na mão com força. Ele anui com a cabeça, meio abananado.
- Mais ninguém precisa de saber. Fica só entre nós. Deve-me isso - ela fala com firmeza.
Ele assenta com a cabeça, sem muita certeza.
- Nunca ninguém descobriu...?
- Não.
Ele abre um pouco a boca, como que a querer dizer alguma coisa, mas volta a fechá-la imediatamente a seguir.
- Agora vai seguir exatamente o que eu disser.
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Tell Me It's Over | Peaky Blinders
FanfictionFanfiction da série Peaky Blinders, centrada a partir da segunda temporada, quando Alfie Solomons faz a sua primeira aparição. AVISO: A sucessão de acontecimentos não estará 100% de acordo com a série.