Tell Me It's Over | Peaky Blinders

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"Num minuto eu segurava a chave
No outro as paredes estavam fechadas contra mim
E eu descobri, que os meus castelos se apoiavam
Sobre pilares de sal e pilares de areia"
- Viva La Vida (Coldplay)

[AVISO: eu pouco ou quase nada sei sobre a primeira guerra mundial. Tudo o que irão ler aqui escrito foi com base na minha imaginação do que poderia ser sido a grande guerra. Então não levem a sério nenhuma suposta informação aqui exposta. É tudo ficção]

Alguns anos atrás

Max refugia-se por trás do sofá, com o coração muito acelerado. Ela tenta focar-se em coisas importantes.

- Tu sabias. Tu sabias - Lance sussurra-lhe, ao lado dela, com os olhos vidrados no sangue que lhe escorre pela perna, do ferimento de bala que a atingiu na coxa direita.

Sabia...? Ela não diria tanto. Tinha um pressentimento que as coisas naquele sítio estavam demasiado calmas, mas aí até saber que iriam ser emboscadas implacavelmente por um grupo de alemães ia uma grande distância.

- Cala. A. Boca - ela sussurra-lhe irritada com o seu ataque de pânico. Ela é que devia estar em pânico, mas nem isso se podia dar ao luxo dada a fragilidade do tenente que lhe calhou.

Lance engole um seco, obedecendo-lhe. Ela faz-lhe sinal para ele se aproximar dela.

- Eles estão à nossa procura - ela diz num murmúrio, quase imperceptível por Lance, mesmo à mínima distância entre ambos - Não vão parar.

Ele abana a cabeça, concordando com ela.

- Então temos de atacar.

- Não temos armas.

- Aprendemos como atacar sem armas - ela relembra-o.

- Estamos em desvantagem numérica. Os franceses se não estiverem mortos estão a milhas daqui - ele fala com urgência, elevando demasiado o tom de voz. Ela pressiona a sua mão na sua boca, como sinal para ele falar baixo.

- A tua ferida.... - ele relembra-a sussurrando contra a sua mão. Ela retira-a.

- Acho que foi só um estilhaçado.

- Temos de o tirar.

- Não há tempo.

- Não podemos arriscar e deixá-la aí.

- É só um estilhaço.

- Pode infetar.

Um barulho humano surge a pouca distância do esconderijo deles, no exterior daquela casa.

- Cabrões dos alemães - Lance pragueja com a voz muito baixa.

- Ok, tira-me o estilhaço - Max pede abruptamente, quando se apercebe que não quer ficar com um pedaço de munição nem mis um segundo dentro da sua perna.

- Com a minha faca?

- A não ser que o consigas fazer de qualquer outra maneira neste momento... Sim, com a tua faca.

- Ficas má quando estás stressada.

- Melhor que ficar estúpida - ela replica mas depois apercebe-se do que disse - Desculpa.

Lance esboça um pequeno sorriso, abanando a cabeça. Max não sorri de volta.

Lance pega na sua faca e Max desenrola o pedaço de tecido amarrado à ferida, já ensopado com o seu sangue.

- Temos de cortar o tecido - ele diz.

- Só um pouco. Com a faca - Max instrui-o.

Ele assim o faz, com excessivo cuidado.

- Não temos o dia todo - ela replica baixinho.

Ele acelera um pouco o ritmo, e mesmo não se apressando o suficiente segundo a vontade de Max, ela não diz mais nada.

Ela dá por só a desejar ter uma garrafa de alguma bebida alcoólica, preferencialmente vodka. Gostava de vodka.

Quando Lance começa a operação de retirar o pequeno estilhaço da sua carne Max quer gritar de dor. Ele tenta ao máximo poupá-la de dor desnecessária, mas não consegue extrair o pedaço de chumbo da sua perna com aquela faca. Depois de várias tentativas galhadas, consegue tirar aquilo que reza para que seja o único pedaço de metal dali.

- Já está.

- Foda-se. Foda-se - Max pragueja ao sentir pontadas ainda maiores de dor depois de ele parar de espetar-lhe com a ponta da faca. Lance volta a colocar o pedaço de tecido à volta da ferida, apertando-o com força.

- Está bom assim?

Ela anui silenciosamente com a cabeça, de dentes cerrados.

- Achas que consegues andar?

Ela quer chorar e dizer que não, em circunstância alguma conseguiria colocar-se de pé. Ao invés acena com a cabeça confirmativamente.

- Vamos matar aqueles filhos da puta - ela diz.