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"Por onde tu andaste?
Pra onde tu foste?
Aquelas noites de verão
Parecem ter sido há tanto tempo"

- Old Money (Lana Del Rey)



Alfie andava estranho naquele dia. Primeiramente ele estava muito bem disposto, mas depois, de repente, sem ela conseguir entender porquê, o seu humor mudou por completo. Não que estivesse mal disposto, mas estava distante. Era como se não estivesse ali com ela.

Max tenta localizar o tempo da sua súbita mudança de atitude, mas não nada lhe vem à mente.

- Temos de estar na estação pelas 9 horas - Max informa Alfie, enquanto arruma as últimas coisas na sua mala de viagem - Alfie?

Ele não estava a ouvi-la. Agora parecia estar irrequieto.

- Alguma coisa errada? - ela questiona-o.

- Preciso de fazer uma coisa antes de irmos - ele anuncia, saindo do seu transe - Depois podemos ir jantar fora. Não devo demorar muito.

- Mas onde é que vais?

- Um pequeno detalhe. Só um pequeno detalhe - ele apenas diz, muito vagamente, saindo em seguida da sua casa, sem dar tempo a Max para replicar o que quer que fosse.

Max ponderou segui-lo, mas não queria passar a sensação de estar a invadir o seu espaço pessoal, pelo que o deixou ir sem mais perguntas.

Depois de uma hora alguém bate à porta e ela apressa-se a ir atender, esperando encontrar Alfie, apenas para dar com caras com alguém que não via há muito tempo.

- Como é que me encontraste? - é a primeira pergunta que ela faz. Aquelas palavras saíram quase espontaneamente da sua boca, e soaram ridículas depois de ela as repensar mentalmente. A sério que era aquilo que ela perguntava primeiramente a ele depois de tudo o que passaram juntos?

- Não acho que vás gostar muito da resposta - ele confessa, depois de alguma hesitação e engolir um seco.

Ela analisa-o. Ele está muito melhor do que quando o vira da última vez, há uns anos atrás. Aparenta estar alimentado devidamente, e parece que cresceu uns centímetros tal a sua postura forte e firme. Com roupas caras e o cabelo bem cortado, tinha o aspeto de um homem rico de negócios. Na verdade, ela pensa, é muito provável que seja o caso de Lance.

- Devias pagar o dobro daquilo que o teu detetive te cobrou - ela comenta, não precisando de insistir que ele lhe desse uma resposta à sua questão.

- Porquê? - Lance pergunta franzindo as sobrancelhas, confuso e surpreso por aquele comentário.

- Porque eu deveria saber que havia alguém a recolher informações minhas - ela esclarece e em seguida dá espaço para que ele entre no seu apartamento. Ele percebe a sua deixa e entra.

- Contratei-o por ser discreto - ele diz, olhando em volta, sem saber o que fazer a seguir. Max fecha a porta e depois aponta para o sofá. Ele senta-se, mas ela permanece em pé.

Max questiona-se como é que nenhum dos capangas de Alfie Solomons não se teria apercebido de um detetive. Alfie ficaria furioso se soubesse que algo assim passou-lhe ao lado.

- O que é que ele te disse acerca de mim?

- Não te vais sentar?

Max abana a cabeça, observando atentamente toda a linguagem corporal de Lance Richardson. Ele parecia nervoso. Muito nervoso, na verdade.

- Bom, eu queria saber onde te poderia encontrar. Como tu estavas.

- Isso não responde bem à minha pergunta - ela replica, com neutralidade.

Ele hesita antes de voltar a falar.

- Sei que estás a trabalhar numa... - ele faz uma pausa - Padaria.

Ela semicerra os olhos, já a ficar impaciente.

- O que é que queres, Lance?

- Queria ver como estavas.

- Porquê agora? - ela questiona-o com calma, disfarçando a irritação que sentia de facto por ele. Há anos que não se viam e desde aí que ela não sabia mais nada dele.

- Sempre fui o mais cobarde.

Ela não diz nada e Lance assume que ela anuiu silenciosamente com ele. Na verdade, ela nunca o considerou como cobarde. Talvez ela tivesse tomado ações mais corajosas em muitas situações, mas isso não o tornava cobarde.

- Vim aqui para me desculpar.

- Já o fizeste - ela replica, com neutralidade e um suspiro. Estava incomodada com a sua presença. Ela lembrava-a de momentos terríveis da sua vida, que preferia deixar esquecidos. Mas agora eles iam voltar à tona e deixá-la incapaz de ter noites de donos decentes pelo menos nos próximos dias.

- Já vi que a minha presença não é bem-vinda - ele levanta-se do sofá - Desculpa por te incomodar.

- Não vieste aqui para me pedir desculpas, Lance - ela fala, e ele fica imóvel.

- Vieste aqui para ter o meu perdão.

Ele engole um seco.

- Eu perdoo-te, Lance Richardson - ela continua - Não que precisasses disso, sabes. Quem sou eu? Apenas uma pessoa a quem mentiste. Não precisas do meu perdão precisas de pensar se é esse tipo de homem que desejas ser no futuro. Se estás bem contigo próprio, é o que importa. Se não, faz por mudar.

Ele esboça um sorriso fraco.

- Sempre gostei disso em ti - ele diz - A tua percepção do mundo. Tão pragmática.

Ela não replica nada de volta.

- Estás feliz aqui? - ele questiona-a, com seriedade.

- Sim - ela diz apenas, com sinceridade - E tu? Estás feliz?

- Sim.

Tell Me It's Over | Peaky BlindersOnde histórias criam vida. Descubra agora