3%

500 45 6
                                    



"Não nos lembramos de dias, lembramo-nos de momentos"

- Cesare Pavese




Max havia escolhido para o look daquele dia, peças de rouba não muito comuns. Apesar de se ter habituado desde muito tempo a usar calças, raramente o fazia em público pela repercussão que teria nas pessoas. Mas acordara com um sentimento renovado de coragem e pensara para si própria "porquê não?". Todos a respeitavam, talvez até mais que respeito, talvez gostassem dela. Não tinha dúvidas que ninguém iria encara-la se forma diferente. Talvez fosse ter uns segundos olhares, e provavelmente o questionamento por parte de Solomons. Mas nada mais. E ela estava farta das benditas saias, que achava assentarem-lhe tão mal no seu corpo.

E por isso, ali estava ela, com calças largas, perfeitamente assentes na sua fina cintura, e uma camisola de gola alta justa ao corpo. Como sapatos optara pelos habituais saltos altos em bico. Habituara-se a usá-los, depois de lhe terem torturado os pés nas primeiras vezes, e gostava do som que faziam quando batiam no chão, para além do novo balanço que tinha para se equilibrar. Não era confortável de todo, mas ela gostava de não se sentir igual à sensação de usar botas.

Quando Max está a caminho da "padaria", tomando o percurso pedestre de sempre, vai contra um homem, que ia em passo acelerado, não se apercebendo da sua presença.

- Desculpe - o homem desculpa-se, sem muita amistosidade na voz, algo que Max já estava habituada por parte dos seres do sexo masculino que a viam apenas como uma jovem mulher em idade casatoria.

- Não tem mal - Max replica em modo automático, recusando a sua mão estendida para a ajudar a recompor o equilíbrio.

Ele retira a sua mão, mas não recomeça a caminhar, encarando-a com atenção. Ela faz o mesmo, e quando os seus olhos se atentam nos dele, ela pensa em como nunca tinha visto olhos tão bonitos quanto aqueles azuis muito claros.

- Thomas Shelby - ele volta a estender a sua mão, agora para a cumprimentar.

Max hesita antes de apertar a sua mão, num gesto forte.

- Eleanor Maxwell - ela usa o seu nome completo - Tenha atenção para não voltar a ir contra outra pessoa.

E com aquilo retoma o seu caminho, tentando não pensar muito em como aquele seria talvez um dos homens mais bonitos que já viu em toda a sua vida.

Demorou apenas mais cinco minutos até chegar ao seu local de destino, onde foi recebida por Ollie logo à entrada.

- Chegaste cedo, Ollie - ela comenta, estranhando. Ela costuma ser a primeira a chegar, de manhã cedo.

- Mary e eu vamos casar - ele fala com excitação na voz, e talvez algum nervosismo.

Max sorri automaticamente com aquela notícia. Era provavelmente a primeira vez que Ollie a via sorrir com felicidade.

- Parabéns, Ollie. Fico muito feliz por ti. Mas não posso dizer que esteja surpresa - ela cutuca no seu ombro, amigavelmente.

Há uns meses ele tinha lhe vindo pedir por conselhos, fazendo-a quase rir. Ela não era claramente a pessoa mais adequada para responder a questões românticas. Mas ao que parece os seus conselhos não foram assim tão maus.

Tell Me It's Over | Peaky BlindersOnde histórias criam vida. Descubra agora