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"Peço desculpa por tudo aquilo que fiz
Parece que desde que nasci que tenho uma arma carregada e eu atiro, atiro, atiro em tudo aquilo que amo"

- Shots (Imagine Dragons)




Max observa com atenção distante todos os homens de Thomas Shelby alinhados na sala mais ampla da destilaria. Está em pé, no meio ao lado de Alfie e Ollie. Shelby está uns passos  ao lado mais afastado deles, prestes a falar com todo o seu pessoal.

- Muito bem, rapazes, estão todos registados como padeiros na Aerated Bread Company de Camden Town - ele começa, dando uns passos em frente, na direção deles.

Todos eles estavam efetivamente registados como trabalhadores da padaria. Quem fizesse perguntas, teria como resposta o comprovativo escrito em como eles exerciam a função de padeiros pela Aerated Bread Company.

- Se alguém perguntar é isso que vocês fazem. São padeiros. Os polícias de Camden Town estão do nosso lado, mas a norte e a sul, mostram-lhes esse papel. Digam que vieram do norte à procura de trabalho, para furar greves. Digam-lhe que são fascistas, se tiver de ser - ele continua - Estamos à procura de alojamento para vocês mas por agora vão dormir aqui na padaria. Mas não toquem no pão, é provável que expluda. Perguntas?

Um homem, na faixa dos cinquenta anos, ergue a mão.

- Sim? - Shelby faz sinal para que ele faça a sua questão.

- Eu não vi pão nenhum - ele diz fazendo uma onda de risadas ecoar pela sala.

Max desvia o olhar por milésimos de segundos para o chão. Porquê é que os homens tinham de ser tão idiotas? Não podiam simplesmente acatar as coisas sem chinfrim?

Alfie Solomons dá uns passos em frente, dirigindo-se ao dono da "piada".

- Tens sorte que estou num bom humor. Sabes o que aconteceria se não estivesse? - ele faz aquela questão com tal firmeza ameaçadora que o homem sabe que não é uma pergunta a ser respondida.

Alfie quase encosta a sua testa à dele, para depois se afastar e falar em voz muito alta e clara para todos ouvirem.

- Aqui há regras. Sim, aqui há regras por um motivo. São simples e têm de ser obedecidas. Está certo? - ele faz uma pausa para todos assimilarem as suas palavras - Regra número um: a distinção entre pão e rum não é discutida. Regra número dois: qualquer coisa que os vossos superiores vos diga não é discutido! Regra número três, quatro, cinco, seis, não quero saber. Obedecem a todas elas até ao fim das vossas vidas miseráveis, certo?

- Mulheres judias. Não se aproximam delas porque as mulheres judias estão fora do vosso menu. Acho que é justo - ele prossegue, depois vira-se para Max, olhando-a diretamente - Esta é Max. Ela pode ter uma cara bonita, mas não vão querer meter-se com ela. Claro que podem tentar, adorava ver.

Ele faz uma pausa, virando-se de novo.

- Ela é a Gerente desta merda toda. Tudo o que ela disser é obedecer. O mesmo se aplica a Ollie, o formoso que está ao lado dela.

- Muito bem é isso. Perdoa-me, interrompi-o - Alfie desculpa-se para Thomas, que anui com a cabeça quase imperceptivelmente.

Shelby aproxima-se de um dos seus homens, falando com ele individualmente.

- Ponham-se a andar e põe isto funcionar - ele instrui o líder, que assenta com a cabeça.

- Não esperem! É suposto serem soldados! São uma desgraça! Vão! - o líder do grupo de Shelby grita aos restantes, que o seguem dali para fora.

Logo depois Max sai dali para ir para o exterior da destilaria fumar um cigarro.

- Falei com o seu amigo, Lance Richardson - a voz de Thomas Shelby ecoa.

Ela olha para o seu lado e vê-o a fumar o seu próprio cigarro. Ela consegue manter o rosto impassível à menção daquele nome conhecido.

- Temo não conhecer ninguém com esse nome - ela mente. Gostaria de saber como é que ele havia conseguido aquele nome, mas ele já o sabia de qualquer jeito, mas valia fazer-se desentendida e não incentivar conversas.

- Mente bem - ele comenta, enquanto fuma - Se não soubesse a verdade acreditaria em si.

- Talvez apenas ache que sabe a verdade - ela franze o sobrolho, numa tentativa de instalar a dúvida.

- Talvez - ele anui com a cabeça - Mas acontece que tenho fotos. Prova irrefutável, não?

- O que é que quer? - ela apaga o seu cigarro contra a parede exterior do edifício e deita-o ao chão.

- Porque é que acha que quero algo?

- Deixe-se de merdas - ela sobra, com um suspiro de impaciência.

- Sei o que fez - ele começa - Também sei que é graças a si que este sítio prospera. Poderia usar alguém assim na minha empresa.

- Está a oferecer-me um trabalho, Mr. Shelby? - ela ergue a sobrancelha, semi-perplexa. Não estava à espera daquilo.

- Claro que não. Eu e Mr. Solomons somos aliados, jamais tentaria roubar-lhe a gerente. Mas se alguma vez se fartar disto - ele faz um sinal com a mão - Talvez tenha um lugar para si na Shelby Company Limited.

- Obrigada - ela agradece, sem qualquer entusiasmo - Vejo-o por aí.

E volta para dentro, deixando-o ali.



(...)

- Não devias ter feito aquilo - Max começa a falar assim que se encontra sozinha com Alfie, no gabinete deste.

- Aquilo o quê?

- Tratares-me daquela maneira - ela lança-lhe um olhar irritado - Com condescendência.

- Condescendência? Achas que aqueles homens te iam respeitar? Eu ajudei-te, devias era agradecer-me.

- Não é assim que se ganha respeito de alguém. Tenho de ser eu mesma a ganhar respeito. - ela replica, elevando o tom de voz - Porra, Alfie. Nunca mais me faças isso.

- Tudo bem. Depois não venhas chorar quando algum deles tentar algo.

- Por favor, como se eu não me pudesse defender. Tu deverias saber isso mais que ninguém.

- Bom, eu estava a tentar fazer com que eles nem tentassem. Mas ao que parece deves gostar disso então não me volto a meter - Alfie ergue os braços em jeito de rendição, bruscamente.

- Se me visses como igual não pensarias dessa maneira.

- Não somos iguais, pois não?

Ela cerra o maxilar.

- Não precisei da tua ajuda para que os teus homens me respeitassem. Achas que eles eram melhores do que estes de Birmingham? Não sou uma criança. Só porque sou melhor não significa que sou inferior - ela engole um seco - Pensava que já sabias isso.

Alfie permanece em silêncio. Max ainda o encara directamente por longos momentos, à espera de uma reação da sua parte, mas ele continua calado e ela simplesmente vai-se embora.

Tell Me It's Over | Peaky BlindersOnde histórias criam vida. Descubra agora