32. Tudo que nunca teve.

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Aurora não tinha experiência com mulheres grávidas

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Aurora não tinha experiência com mulheres grávidas. Nenhuma de suas tias que lhe eram próximas teve filhos mais novos que ela. E durante toda a gravidez de Celeste, Aurora estava em Forks. Fora o que havia estudado, e os filmes, Aurora sabia muito pouco do comportamento real de uma mulher grávida. E ela duvidava que fosse viver isso pessoalmente.

E, bem, a primeira vez que convivia com uma dessas mulheres, não estava sendo exatamente convencional. Isabella não era uma grávida convencional. Tudo ali era estranho, e meio assustador se parasse para pensar. Tudo estava avançando muito rápido. Em apenas alguns dias, a humana parecia ter semanas de gravidez, sua aparência estava sofrível, a pele esticada e ossos saltados, ressaltando sua visível perda de peso, olheiras profundas, a fragilidade presente em cada pedaço de si, em cada palavra que ela dizia.

Sim, ela havia escolhido seguir com a gravidez, mesmo que isso estivesse matando-a. E isso estava torturando Edward.

Havia então, a silenciosa percepção de que não havia nada que pudessem fazer para mudar a decisão de Bella, até que Edward simplesmente se via cansado e torturado demais para tentar, resignado a assistir a esposa morrer lentamente. Nuvens negras pairavam sobre todos ali, que agora se viam obrigados a apenas observar.

Os nervos da família estavam notavelmente alterados, mesmo dos mais calmos. Jasper passava a maior parte do tempo tensionado, o rosto contorcido em uma expressão excessivamente séria. Aurora sabia que ele estava se cansando de controlar as emoções da família, tentando manter todos na linha.

Ela também estava. Na maior parte do tempo, Aurora perto de Rosalie e Bella, que agora pareciam uma coisa só de tão próximas, como se estivessem atadas por correntes. Por outro lado, Aurora se mantinha perto, mas silenciosa, cautelosa, o rosto inexpressivo, como se não sentisse nada. De fato, ela tentava não sentir, se concentrava apenas em manter a aura de Bella estável por quanto tempo ainda pudesse. Era mais fácil assim.

Preferia não pensar em como seria dali em diante, como lidariam com aquilo no futuro, ou se teria um futuro. Tudo o que Aurora queria a maior parte dos dias era andar pela casa até encontrar Jasper, e então se aninhar nos braços dele e não sair mais dali.

Não fez. Não queria que Jasper carregasse mais o peso de tranquilizar suas emoções. Ele já carregava muitas.

— Você e Esme podem ir. — Rosalie disse em algum momento, tocando gentilmente o braço de Aurora e despertando a irmã dos próprios pensamentos. — Quando você voltar eu vou. — Aurora assentiu levemente, levantando-se do sofá e caminhando até a porta.

Esme estava parada na varanda, observando a floresta. Aurora deu uma breve olhada no céu escuro da noite, as estrelas escondidas pelas pesadas nuvens de chuva.

— Vamos? — Esme a chamou, um sorriso amável pairando em seu rosto. Aurora assentiu, e em segundo estavam correndo pela densa floresta, seguindo para o norte através de seu lado da fronteira.

Caçar com Esme tinha muitas vantagens, a maior delas para Aurora era que a outra tinha um absurdo senso afetivo. Esme sempre sabia quando algo estava errado, mesmo quando Aurora não dizia uma palavra. Talvez esse fosse o problema, não dizer nada.

— Como estão você e Jas? — Esme questionou em algum momento da noite, enquanto Aurora se livrava de seus sapatos e do casaco sujos de sangue, jogando-os no riacho. A ruiva desviou os olhos para baixo, apertando os lábios de maneira hesitante.

— Eu não sei. — Admitiu em um sussurro, sentando-se na margem do riacho, afundando os pés na água.

— Foi uma briga? — Esme perguntou, sentando ao seu lado.

— Não exatamente. — Suspirou. — Foi mais como um esclarecimento de fatos. Nós dois deixamos claro o que pensamos sobre essa situação, e não eram exatamente ideais semelhantes. — Explicou, deslizando os dedos pelos fios ruivos e desmanchando sua trança lateral.

— Dificilmente todos os pensamentos de vocês serão, querida. — Esme a tranquilizou, acariciando suas costas. — Lembre-se que vocês são de séculos diferentes, e viveram vidas totalmente opostas. Jasper já lutou muitas guerras, já está calejado. Algumas batalhas ele já prefere não travar. Voce é jovem, e ainda nutre esse senso irrefreável de justiça, ainda tem fé até mesmo no que parece perdido. Não que isso seja ruim, porque ainda vão aprender muito um com o outro. — Aurora encarou Esme.

Não era exatamente a primeira vez que Aurora pensava naquele ponto de vista, mas era a primeira vez que outra pessoa lhe dizia. Não que antes ela achasse que seu relacionamento era perfeito, mas agora, tanto Aurora quanto Jasper, não apenas enxergavam, mas viviam as complexidades de uma união entre duas pessoas de tempos tão distantes.

Não que fosse um problema, ao menos não para ela. Aurora o amava o suficiente para saber que não seriam essas pequenas coisas que a fariam desistir.

Mas Aurora tinha medo. Talvez consequência de sua carência de afeto durante a infância, ou da cobrança por perfeição que desde cedo havia sido imposta sobre ela. Ela tinha medo de ser apenas uma farsa, de que, por baixo de toda a personalidade forte e a auto-confiança, a garotinha insegura ainda existisse. Ela não queria voltar a anular quem era para se encaixar na nova vida.

— Oh, querida, está tudo bem. — Aurora apenas percebeu as lágrimas em seu rosto quando Esme já as enxugava.

— Desculpe. — Ela murmurou, tentando secar o rosto com as mãos. Mas Esme as segurou.

— Não há problema em chorar, Aurora. — Lhe deu aquele sorriso que aqueceria até o coração mais congelado. — Alguns de nós dariam qualquer coisa para conseguir expressar o sofrimento assim. — Esme dizia com calma. — Só lhe vi chorar uma vez, em seu casamento, e foi de felicidade. — Sorriram juntas. — Mas eu nunca lhe vi sofrer, não desse jeito. Nem precisa me dizer, querida. Apenas deixe sair.

Suspirando pesado, Aurora mal pôde conter o soluço, sentindo suas lágrimas engrossarem. Esme deitou a cabeça de Aurora em seu colo, e a garota chorou como nunca havia feito, finalmente deixando sair todo o estrago que seus pais causaram em sua mente, finalmente se sentindo-se acolhida por um figura materna.

Então, ela entendeu que precisava daquilo, precisava apenas chorar no colo da única pessoa que podia chamar de mãe. Precisava daquilo que nunca teve.


 Precisava daquilo que nunca teve

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Eu fiquei com tanta dó gente.

Mas, enfim, um capítulo apenas para Aurora libertar a mágoa que carregava dos pais adotivos, e pra mostrar que até mesmo ela tem suas inseguranças. Eu senti que era o momento perfeito, com toda a tensão na família, e principalmente entre ela e Jasper; sela finalmente precisava lidar com seus traumas do jeito certo. E achei que precisava ser Esme ao lado dela: uma mãe que Celeste nunca foi.

Espero que tenham compreendido o que eu tentei passar nesse capítulo, e que tenham gostado.

𝐁𝐑𝐈𝐆𝐇𝐓 ¹ ࿐  ʲᵃˢᵖᵉʳ ʰᵃˡᵉOnde histórias criam vida. Descubra agora