Eu virei para o outro lado, mas parecia que a voz não era só imaginação.
— Mãe natureza dorme como pedra.
Nunca fiquei tão aliviada em ouvir alguém me chamar de mãe natureza.
— O que você quer aqui? Eu preciso dormir — eu falava tão baixo que quase não dava para ouvir.
— Eu preciso falar com você, mas ela não pode saber — Ele olhava para a Bab dormindo igual um urso quando hiberna.
— Tá bom, mas a gente precisa sair daqui. Calma, como você entrou se a porta estava… trancada?Saímos do quarto e fomos para a sala. Eu com meu pijaminha de dinossauros coloridos, morrendo de sono e quase tropeçando nas coisas. Quase derrubei um vaso de flores da vó Pat que com certeza tem mais de 10 anos.
— O que você quer mesmo? Eu tô com sono. Será que pode falar logo?
O Super nerd estava estranho, digo, mais estranho do que o normal. Ele ficava olhando para os lados com medo de alguém ouvir.— É melhor eu voltar para a cama.
— Não. Espera. Você lembra que eu era amigo do seu irmão, certo?
— É, eu lembro.
— Antes dele… — Ele não conseguiu terminar a frase.
— Morrer?
— Isso. Ele me pediu para te entregar uma coisa. Quando ele deixou comigo, ele disse que eu saberia a hora de te entregar. Acho que tá na hora.— Por quê?
— Ótima pergunta. Eu não tenho ideia. Só sei que ele disse que eu não podia mostrar para ninguém, só você podia saber.
— Mas o que é?Ele foi até o quarto dele e pegou um envelope médio, meio velho e amassado, me entregou e disse para eu abrir quando chegasse em casa.
— Eu só vou pra casa depois da aula… Vai demorar muito.
— Ele disse que só você pode saber. Acho mais seguro você abrir no seu quarto quando estiver sozinha.
— Vou colocar na minha mochila. Até mais Jogador nerdzã… — bocejei enquanto terminava de falar.Fui para o quarto e guardei o envelope. Deitei novamente na cama e pelo menos tentei dormir. Não conseguia parar de pensar sobre o que seria aquele envelope. Por que eu não poderia mostrar para ninguém?
Amanheceu.
Acordei exatamente na mesma hora que a Bab.
— Bom dia! — Ela parecia ter dormido tão bem.
— Bom dia…
— Nossa, parece que você nem dormiu.Talvez porque eu não tenha conseguido dormir realmente direito.
— Meu sonho foi muito estranho. A gente tava em um avião e do nada um cara vestido de palhaço fez uma mulher virar uma melancia e um menino teve…
Enquanto ela estava contando o grande e demorado sonho dela, eu fingia ouvir. Parecia que uma bomba explodiu em cima de mim. Fui escovar os dentes e tomar banho quase caindo de sono.
— … o cara pegou uma arma do tamanho da minha cabeça e explodiu o prédio que era uma laranja e depois…
Coloquei meu uniforme e fui tomar café da manhã. Mas sem querer derrubei suco na mesa inteira.
— Sabe vó? Aquele cara do parque tava medindo um urso rosa na frente de uma igreja… — ela continuava contando o sonho sem total sentido.
— JÁ ERA!
— Não se preocupa, a gente lava a toalha de mesa.
— Não é isso. Bab, o trabalho!
— Que trabalho? Ah, aquele trabalho.
— A gente precisa ir logo. Vamos chegar mais cedo e vamos fazer lá mesmo. Rápido, vamos!Peguei minha mochila e fui arrastando a Bab que estava com um pedaço de pão na boca.
— Era só a gente falar que o cachorro comeu as folhas…
— Você nem tem cachorro, Bab. Anda mais rápido!Quando chegamos, finalmente, fomos direto para a sala que ficava aberta antes de começar a aula. Não tinha ninguém, pelo menos isso. O trabalho era rápido, mas tinha uns negócios que podiam confundir.
— O que você está fazendo?
— Eu tô desenhando na lousa. Relaxa, Adi.
— Relaxar? Ai meu Deus, faltam cinco minutos para tocar o sinal.Tirei tudo de dentro da minha mochila, confesso que talvez tinha exagerado muito nas coisas que coloquei dentro dela.
— Faltam duas questões. Bab, faltam quantos minutos??
— Deixa eu ver… UM.Para a felicidade da Bab, o professor disse que podíamos fazer em dupla. Aquele era o último trabalho de ciências antes das férias e eu tinha feito ele em exatamente CINCO minutos.
— Tocou!
— Eu tenho que guardar tudo na mochila de novo. Me ajuda aqui.A gente começou a guardar tudo de qualquer jeito dentro da mochila toda estufada de coisas. As pessoas começavam a entrar dentro da sala.
— Pronto. Tá tudo dentro.
— Parabéns — Me virei para a Bab enquanto sentava na cadeira.
— Obrigada. Mas… mas pelo o quê?
— Por ser responsável pelo nosso desespero. A gente podia ter feito ontem de noite.
— De nada.
VOCÊ ESTÁ LENDO
DIÁRIO DE UM MUNDO VIZINHO
Teen FictionAdi Connor mora em um planeta não muito diferente do nosso, lá ela tem uma vida como qualquer outra garota da sua idade. Mas quando ganha um diário de sua avó, as coisas começam a mudar. Entra um garoto novo em sua sala e traz junto com ele muita co...