CAP. 25 - ENVELOPE MISTERIOSO

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  Eu virei para o outro lado, mas parecia que a voz não era só imaginação.

   — Mãe natureza dorme como pedra.

  Nunca fiquei tão aliviada em ouvir alguém me chamar de mãe natureza.

   — O que você quer aqui? Eu preciso dormir — eu falava tão baixo que quase não dava para ouvir.
   — Eu preciso falar com você, mas ela não pode saber — Ele olhava para a Bab dormindo igual um urso quando hiberna.
   — Tá bom, mas a gente precisa sair daqui. Calma, como você entrou se a porta estava… trancada?

   Saímos do quarto e fomos para a sala. Eu com meu pijaminha de dinossauros coloridos, morrendo de sono e quase tropeçando nas coisas. Quase derrubei um vaso de flores da vó Pat que com certeza tem mais de 10 anos.

  — O que você quer mesmo? Eu tô com sono. Será que pode falar logo?
 
   O Super nerd estava estranho, digo, mais estranho do que o normal. Ele ficava olhando para os lados com medo de alguém ouvir.

  — É melhor eu voltar para a cama.
  — Não. Espera. Você lembra que eu era amigo do seu irmão, certo?
  — É, eu lembro.
  — Antes dele… — Ele não conseguiu terminar a frase.
  — Morrer?
  — Isso. Ele me pediu para te entregar uma coisa. Quando ele deixou comigo, ele disse que eu saberia a hora de te entregar. Acho que tá na hora.

   — Por quê?
   — Ótima pergunta. Eu não tenho ideia. Só sei que ele disse que eu não podia mostrar para ninguém, só você podia saber.
   — Mas o que é?

   Ele foi até o quarto dele e pegou um envelope médio, meio velho e amassado, me entregou e disse para eu abrir quando chegasse em casa.

  — Eu só vou pra casa depois da aula… Vai demorar muito.
  — Ele disse que só você pode saber. Acho mais seguro você abrir no seu quarto quando estiver sozinha.
  — Vou colocar na minha mochila. Até mais Jogador nerdzã… — bocejei enquanto terminava de falar.

   Fui para o quarto e guardei o envelope. Deitei novamente na cama e pelo menos tentei dormir. Não conseguia parar de pensar sobre o que seria aquele envelope. Por que eu não poderia mostrar para ninguém?

  Amanheceu.

    Acordei exatamente na mesma hora que a Bab.
  — Bom dia! — Ela parecia ter dormido tão bem.
— Bom dia…
— Nossa, parece que você nem dormiu.

  Talvez porque eu não tenha conseguido dormir realmente direito.

   — Meu sonho foi muito estranho. A gente tava em um avião e do nada um cara vestido de palhaço fez uma mulher virar uma melancia e um menino teve…

  Enquanto ela estava contando o grande e demorado sonho dela, eu fingia ouvir. Parecia que uma bomba explodiu em cima de mim. Fui escovar os dentes e tomar banho quase caindo de sono.

  — … o cara pegou uma arma do tamanho da minha cabeça e explodiu o prédio que era uma laranja e depois…

  Coloquei meu uniforme e fui tomar café da manhã. Mas sem querer derrubei suco na mesa inteira.

  — Sabe vó? Aquele cara do parque tava medindo um urso rosa na frente de uma igreja… — ela continuava contando o sonho sem total sentido.

  — JÁ ERA!
  — Não se preocupa, a gente lava a toalha de mesa.
  — Não é isso. Bab, o trabalho!
  — Que trabalho? Ah, aquele trabalho.
  — A gente precisa ir logo. Vamos chegar mais cedo e vamos fazer lá mesmo. Rápido, vamos!

    Peguei minha mochila e fui arrastando a Bab que estava com um pedaço de pão na boca.
 
  — Era só a gente falar que o cachorro comeu as folhas…
— Você nem tem cachorro, Bab. Anda mais rápido!

  Quando chegamos, finalmente, fomos direto para a sala que ficava aberta antes de começar a aula. Não tinha ninguém, pelo menos isso. O trabalho era rápido, mas tinha uns negócios que podiam confundir.

  — O que você está fazendo?
  — Eu tô desenhando na lousa. Relaxa, Adi.
  — Relaxar? Ai meu Deus, faltam cinco minutos para tocar o sinal.

  Tirei tudo de dentro da minha mochila, confesso que talvez tinha exagerado muito nas coisas que coloquei dentro dela.

   — Faltam duas questões. Bab, faltam quantos minutos??
  — Deixa eu ver… UM.

    Para a felicidade da Bab, o professor disse que podíamos fazer em dupla. Aquele era o último trabalho de ciências antes das férias e eu tinha feito ele em exatamente CINCO minutos.
 
  — Tocou!
  — Eu tenho que guardar tudo na mochila de novo. Me ajuda aqui.

   A gente começou a guardar tudo de qualquer jeito dentro da mochila toda estufada de coisas. As pessoas começavam a entrar dentro da sala.

  — Pronto. Tá tudo dentro.
  — Parabéns — Me virei para a Bab enquanto sentava na cadeira.
  — Obrigada. Mas… mas pelo o quê?
  — Por ser responsável pelo nosso desespero. A gente podia ter feito ontem de noite.
  — De nada.

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