Cap 52 - Mundo Cinza

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~ Amber ~

Minha mãe não quebrou a promessa. Eu fiz a mala na mesma madrugada em que ela foi no meu quarto me implorar de joelhos para me permitir ser ajudada. Não sei para onde vou, mas também não faz diferença. Eu aceitei por não querer brigas ou por indiferença mesmo. Estar em casa ou fora dela não vai surgir o efeito que Diana espera que surja comigo longe dessa casa que eu sinto pelos meus ossos que sim, está sugando toda a minha energia. Não sei o que fazer, e me sinto culpada por também não querer mudar as coisas. A indiferença está gritante, e eu estou apenas aceitando essa voz crescente dentro de mim.

Fui o caminho todo em silêncio, e as músicas que antes me fariam gritar e dançar no banco do carona como já fizeram muitas vezes, não surgiram efeito, não fizeram surgir absolutamente nada, e é como se nem estivesse tocando realmente. Permaneci quieta, encarando a rua que estava passando pelo vidro do carro em um piscar de olhos. Achei que minha mente ia inundar de lembranças, só que, mais uma vez, não tinha nada. Um borrão preto ficou parado na minha cabeça, e eu não me importei.

Minha mãe tentou puxar alguns assuntos aleatórios, que eu só respondia com um acenar de cabeça ou um sorriso sem mostrar os dentes. Depois de notar que não faria diferença ela continuar falando, Diana também se calou. Notei a inquietação das suas mãos a apertarem o volante, porém, não tive o que dizer. Pelo menos ela não tocou no nome proibido, que sim, é o dele. Talvez seja o único nome - e a única coisa - que desperte algo dentro de mim, no meio de tanto vazio, e é por isso que estou justamente o evitando.

Não sei quais sensações e sentimentos virão se eu falar ou imaginar Dener, então prefiro não descobrir.

Quando o carro parou em uma rua simples porém nem tanto, eu reconheci exatamente o lugar. Mais precisamente, a casa onde vou passar os próximos dias até sei lá, as aulas voltarem.

  - Ela sabe? - Perguntei sem expressar nada.

  - Sim

Dei uma última olhada para Diana antes de sair do carro em silêncio e pegar a minha pequena bagagem no porta-malas. Observei a casa média em tons pastéis desbotados. Faz tanto tempo assim?

  - Vamos, sua vó está esperando lá dentro.

Entramos, fazendo apenas alguns ruídos. Abrimos a pequena portinha do quintal, vendo um jardim mal cuidado. Olhei em volta com cuidado por alguns segundos, mas apenas abaixei a cabeça e continuei a andar até chegar na porta principal que da para a sala. Diana bateu uma, duas e três vezes. Não demorou muito e a mesma mulher de cabelo curto e grisalho do aniversário da minha mãe apareceu, com um cigarro na mão direita e um copo de café na esquerda. Ela observou sua filha por um tempo, e quando seu olhar caiu sobre mim, Nathalina ergueu uma sobrancelha e me encarou de cima a baixo, sem dizer nada ou expressar.

Saiu do caminho, deixando eu e Diana passarmos na direção da casa. Fui arrastando a mala de rodinha pelo carpete de madeira até a sala. Esperei minha mãe sentar no sofá grande, de frente para o pequeno que Nathalina sentou. Fiquei ao lado da mulher mais jovem, esquadrinhando as coisas com cuidado. A casa continua da mesma forma que eu me lembro.

  - Vejo que as coisas estão indo bem naquele lugar que você chama de casa - Minha avó disse, tragando o cigarro.

Diana se mexeu desconfortavelmente no sofá, pigarreando.

  - As coisas saíram um pouquinho do controle no último mês... - Passou as longas unhas vermelhas na lateral do rosto.

  - Para as coisas saírem do controle, elas precisavam estar no controle, o que nunca aconteceu lá - Respondeu com desdém.

Meu "Babá"? (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora