Capítulo II

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POINT VIEW OF JÚLIA

Era para ser mais um dia normal na minha vida: acordar, ir para a faculdade, estudar. As coisas tem estado estranhas desde que ocorreu o acidente com os amigos do meu pai. Ambos morreram, a única sobrevivente foi a filha, Lara. Não consigo imaginar o quão assustador deve ter sido acordar em um hospital e descobrir que perdeu os pais.

É uma garota tão jovem, somente 17 anos, e já tendo que lidar com uma perda tão grande. Não que eu seja muito mais velha com meus 20 anos, mas é muita coisa para lidar sendo uma adolescente. Ela deveria estar aproveitando a vida, mas já tem um trauma tão grande. Além disso, a garota fraturou a coluna e está paralítica, esperamos que seja temporário. Vai ser um grande desafio.

Lara vai ter alta do hospital hoje, aliás a essa hora ela já deve estar chegando com meu pai e eu ainda estou me arrumando. Pelo que ele avisou, eles passaram no cemitério para que ela pudesse ver os pais e, finalmente, poder se despedir. 

Ainda assim, preciso correr contra o tempo, ou em vez de eu esperar a garota chegar vai ser ela a me esperar. Isso seria bem rude para um primeiro encontro. Eu estava terminando de me vestir quando ouço o barulho de motor, olho pela janela e é o carro do meu pai estacionando. Meu Deus, eles chegaram.

Termino de colocar minha camiseta as pressas, arrumo meu cabelo e desço para recebê-los. Lara estava abraçada a minha mãe.

— Seja bem vinda, querida - disse minha mãe.

— Obrigada . - disse a menina com um sorriso fraco no rosto, provavelmente envergonhada. Nossa, que sorriso fofo.

A garota é realmente linda, seus olhos castanhos tem um reflexo triste, mesmo que seus lábios estejam com um sorriso. Totalmente compreensível. Mesmo tentando esconder, é impossível. Nesse momento, sinto uma necessidade de ajudá-la, mesmo não sabendo como, quero muito.

Lara estava sentada em uma cadeira de rodas e seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo. Eu me aproximo deles para me apresentar a ela.

— Filha, quero que conheça Lara. Ela é a filha dos meus amigos, Luciano e Estela Duarte, que lhe falei. - disse meu pai.

— Olá é um prazer conhecer você, meu nome é Júlia. - falei me abaixando para cumprimentá-la. Quando ia beijar sua bochecha,  acabamos nos atrapalhando e sua boca tocou o canto da minha de maneira breve. Fique sem ação, surpresa e constrangida ao mesmo tempo, Lara pediu desculpa, mas não pareceu não ligar muito para o fato.

— É um prazer te conhecer, Júlia. - ela sorriu e eu devolvo o sorriso envergonhada.

— Espero que vocês se deem bem, vamos viver todos juntos a partir de hoje. - falou meu pai.

— Obrigada, não sei como agradecer pelo que estão fazendo por mim. - fala Lara.

— Eu e meu marido adorávamos seus pais, éramos grandes amigos. Eles gostariam que cuidássemos de você. -fala minha mãe olhando para a mais nova que agradece mais uma vez.

Depois disso meus pais pediram para que eu mostrasse a Lara seu novo quarto. Tínhamos ido em sua casa para buscar suas roupas, além de alguns objetos e fotografias que imaginei que ela poderia gostar de ter perto de si.

— Espero que não se incomode, fomos na sua casa essa semana e buscamos algumas das suas coisas. - falo ao notar que ela tinha ficado calada ao ver uma fotografia em que uma versão mais nova sua sorria ao lado dos seus pais.

— Eu agradeço por isso, eu não iria conseguir entrar lá agora. Aquela casa tem meus pais em cada canto, não estou preparada para voltar. - fala com pesar enquanto segura a fotografia.

— Escuta, você não precisa ir lá agora. Nem nunca, se não quiser. - me aproximo dela e sento na cama, ao lado de sua cadeira de rodas. - Mas se quiser ir, seja quando for, eu posso ir com você.

— Obrigada. Muito obrigada mesmo. Eu sei que estou parecendo um disco arranhado repetindo isso sempre, mas eu realmente estou grata pelo acolhimento de vocês e não sei como demonstrar, além de dizer essas palavras. - ela tenta explicar.

— Tudo bem, não precisa se preocupar com isso. - sorrio para a mais nova.

Minha mãe aparece na porta para avisar que a comida estava pronta, então fomos em direção a sala de jantar. O jantar ocorreu de maneira tranquila, Lara estava um pouco silenciosa, pensativa, resolvemos não pressioná-la demais.

Quando terminamos de comer, fui lavar a louça, enquanto minha mãe ajudava Lara a se acomodar no quarto. Ao terminar de guardar a louça, vou para o meu quarto, precisava dormir e descansar já que amanhã eu tinha que ir para a faculdade.

Após fazer a minha higiene, deito na cama, pronta para dormir. Entretanto, meus pensamentos estavam mais agitados do que de costume, minha mente não parava de pensar em tudo que vem acontecendo, no que Lara passou e ainda vai passar, sua recuperação, a fisioterapia. Como ela está? Quanto ela está sofrendo? Apesar de tudo, consigo ver o quão forte ela é e a admiro. Não é fácil, mas ela está se esforçando, consigo notar. Por isso sei, que um dia, ela ficará bem e então talvez eu consiga ver o seu verdadeiro sorriso, um sorriso alegre que chegue aos seus olhos.

Estou ansiosa por esse momento.


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