Sakusa - toc

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Aquele era o meu dia de ser encarregada pela limpeza e organização da minha sala, então logo que as aulas acabaram e o sinal soou pelos corredores avisando que estávamos dispensados, me dirigi até a armário da faxina para pegar tudo o que precisaria para minha tarefa. Quando voltei, a sala já estava vazia, as carteiras estavam desocupadas, quase todos já haviam saído, apenas ele estava lá, em pé curvado sobre sua mesa esfregando-a meticulosamente com uma flanela azul.

- o que faz aqui?? - perguntei ao me surpreender com sua presença - hoje é o meu dia de limpar... - se virou bruscamente para mim após levar um susto com o meu ato repentino

- eu...só...só estava me certificando de que estaria bem limpo - gesticulava como se não fosse nada demais - nunca se sabe com certeza se a pessoa que vai fazer a limpeza será competente - me senti ofendida e o encarei insatisfeita - não que eu esteja dizendo que você não faz o serviço bem...é que...é...você entendeu...

- sim entendi, agora pode se retirar pra eu poder fazer o meu trabalho de modo competente?? - respondi rudemente apontando o caminho da porta

- eu vou te ajudar!! - se ofereceu prontamente - ouvi que sua parceira de limpeza teve um compromisso urgente e não pode ficar pra te ajudar

- não pedi a sua ajuda, sr. fiscalizador de competência - ele me ignorou pegando um dos baldes da minha mão evitando chegar muito próximo de mim

Passamos boa parte do tempo em profundo silêncio, apenas se ouvia os barulhos dos objetos que manuseávamos, cada um limpando um lado da sala, imerso em sua própria mente e pensamentos. Certas vezes eu parava para observá-lo, o via limpar os mesmos objetos e lugares repetidamente, até se sentir satisfeito e ir para o próximo, o que demorava alguns bons minutos. Olhá-lo fazer aquilo era de dar aflição, era claramente perceptível sua fixação por deixar tudo impecavelmente limpo, seus movimentos eram mecânicos e repetitivos, era torturante apenas de olhar. Ele parecia pedir ajudar para sair de seu próprio colapso, como se gritasse de agonia, como se  implorasse por alguém o impedisse de enlouquecer.

- já que está me ajudando, gostaria de poder te recompensar e tentar te ajudar com seu problema - interrompi o longo silêncio

- que problema?? Eu não tenho problemas... - respondeu um tanto nervoso

- sério?? Eu acho que tem...você tá há meia hora esfregando o apontador de lápis - apontei para o objeto preso na parede que parecia brilhar de tão limpo

- ah...- fingiu surpresa - eu nem tinha notado...

- você tem TOC não é?? - perguntei indo direto ao ponto que queria chegar

- o que?? Do que você tá falando?? - indagou como se a ideia parecesse estúpida

- as pessoas acham que é só uma mania estranha de limpeza...mas eu te observo o suficiente pra saber que é mais sério do que isso - admiti olhando-o com seriedade

- você tem coragem de assumir que me observa?? - mudou de assunto furtivamente - isso é bizarro!! - desdenhou de mim

- não é como se eu fosse algum tipo de psicopata!! - me defendi rindo do ar cômico que ele havia dado ao assunto - é que você sempre fica quieto no seu canto, fica mais fácil de visualizar poses para os meus desenhos... - evitei seu contato visual após ter revelado aquilo a ele

- isso é ainda mais bizarro - acrescentou em tom irônico

- não mude de assunto - eu mesma estava fugindo do assunto para que ele não perguntasse sobre os desenhos - você tem TOC, não tem??

- acho que sim...mas não é da sua conta - seu tom rude permanecia presente

- perguntei porque me importo com você, Sakusa - suspirei frustada

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