O Clube do Corvo estava completamente lotado. Jesper passou pela familiar porta de madeira escura que dava as boas vindas a qualquer viajante desafortunado que acabasse naquele covil de trapaça. Ele caminhava devagar, olhando ao redor, lembrando-se de cada momento que passara ali até então, bom ou ruim.
Por mais que sua vida fosse consideravelmente mais tranquila, vivendo com Wylan em sua mansão, não conseguia impedir a maré de saudade que o invadia por dentro. Foi lá que ele se tornou parte do que era hoje. Foi com aquelas pessoas que sua vida tomou um rumo muito diferente...
Meses haviam se passado, e as vidas de todos mudaram drasticamente. A dele, em específico, tornou-se maravilhosa de um jeito que nunca havia imaginado que seria possível. Wylan e ele estavam mais próximos que nunca, seu pai estava reformando a fazenda e os havia convidado para passar lá o próximo verão e, além disso, trocava cartas frequentemente com seus amigos... com exceção de Kaz.
Inej estava em alto mar caçando traficantes de escravos, algo que Jesper achou muito nobre. Com certeza a Espectro aterrorizava cada um deles. Talvez até dessem um nome sofisticado para ela... O terror dos mares... não, parece nome de tubarão... Justiceira dos mares! Pior ainda...
Jesper balançou a cabeça, sorrindo. Sem dúvida mandaria uma carta a ela chamando-a por um desses nomes.
Nina havia voltado para Ravka, após enterrar Matthias na costa de Fjerda. Voltou a ver Nikolai, o rei o qual os havia ajudado há alguns meses, Zoya e Genya. Nas cartas, a grisha parecia estar lentamente superando a morte do namorado. Jesper havia perdido sua mãe e sabia muito bem a dor do luto de uma pessoa tão querida. Todos eles conheciam essa angústia. Era como uma sombra que encobria tudo de positivo.
Era com Kaz que ele se preocupava. Ele poderia ser o maior babaca que existia em Ketterdam, mas ainda assim era um dos seus melhores amigos. Não teve nenhuma notícia dele, algo bem típico dele, ser todo misterioso e difícil. Provavelmente ele mandava cartas para a Inej, por mais que tentasse disfarçar que não a amava. Era algo óbvio.
Jesper passou pelas fileiras de mesas abarrotadas de pessoas bebendo, jogando cartas e gritando. No meio do caminho, encontrou Dyjae, um antigo membro dos Dregs. Ele parecia assustado.
"JESPER! Ainda bem que você chegou!" Dyjae deu um tapinha em suas costas "Kaz está lá em cima, ele está... furioso".
"Obrigado pelo aviso..." Ele percebeu que não seria uma visita fácil.
Subindo as escadas, ele ouviu o som da familiar voz rouca, que soava calma e baixa; isso significava perigo.
"Se você não fizer seu trabalho direito, vou usar o seu sangue para pintar as pared..."
Para poupar o pobre coitado dessa vigente ameaça, Jesper entrou no quarto. Uma cadeira quebrada se encontrava em um canto. O olhar furioso de Kaz, que antes estava direcionado a um homem troncudo imensamente abalado, se dirigia a ele agora. Jesper se arrependeu de ter interrompido.
"O que você quer." A pergunta soava mais como uma afirmação.
"Nada de "Oi, querido e amado Jesper, como você está?"?'
"Fora.", ordenou Kaz ao infeliz sujeito, que escapou rapidamente.
Kaz Brekker mancou até uma mesa de carvalho escuro e passou a mexer em uma gaveta, despreocupado. Sua bengala de cabeça de corvo se encontrava pousada na superfície dela.
"Kaz, vim aqui visitar você..."
"Não preciso de visitas, Jes" ele continuava mexendo em papéis e documentos, o que estava tirando Jesper do sério.
"Pode parar com essa enganação de que não liga para ninguém e que não precisa de ninguém, porque eu sei que você tem sentimentos lá no fundo desse seu coração! Se é que você tem um", brincou Jesper.
"Estou ocupado. Fale logo ou saia"
"Eu quero saber se você está bem"
Por um momento, Mãos Sujas pareceu surpreso. A expressão, porém, desapareceu tão rápido que Jesper pensou que havia apenas imaginado.
"Nada que alguns milhões de kruges não resolvam", admitiu Kaz.
Jesper duvidou muito que isso fosse verdade. Kaz parecia mais pálido que o costume, além de haver um resquício de olheiras em seus olhos.
"Humf...", bufou Jesper.
"Aproveita que está sem fazer nada de importante, não que eu esteja surpreso, e compre uma cadeira nova, aquela ali quebrou" Kaz continuou com a papelada.
Jesper mostrou o dedo do meio para Kaz, o que resultou em um vestígio de um sorriso no rosto do outro.
"Quando admitir que está com saudade de mim e do Wylan, pode ir à nossa casa quando quiser." Ele saiu antes que o outro pudesse responder, mas não antes sem dar uma espiada nos papéis. A maioria eram cartas trocadas com Inej. Jesper não conseguiu conter um sorriso.
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A Sombra do Passado - Uma história de Six of Crows
AdventureMeses depois do final de Crooked Kingdom, os Dregs estão tomando rumos diferentes em suas vidas. Quando uma provável nova ameaça de Van Eck surge, eles se juntam novamente. O que eles não esperam é encontrar a chave para conhecerem uns aos outros co...