12-INEJ

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Assim como prometido, o garoto dos cachorros mecânicos esperava por Jordie perto da pequena cafeteria perto do Mercado. Mal sabia ele que Inej, Jesper, Wylan e Nina observavam tudo a uma distância cautelosa. Era uma casa grande, de dois andares imponentes. Clientes entravam e saíam pelas brilhantes portas de vidro, que faziam um alegre plim quando eram abertas ou fechadas. Inej secretamente adorava quando elas se abriam, já que um cheiro adocicado de pães doces sempre escapava. Isso a fazia sentir falta das tardes preguiçosas com a trupe muitos anos atrás.

Jordie aparentemente conseguira o emprego. Por muitos dias, ele entrava e saía da cafeteria, sempre com um orgulhoso sorriso no rosto. Isso só piorava as coisas. Inej sabia um pouco da história de Kaz, e não podia deixar de reconhecer o que desenrolava diante de seus olhos. Filip, o garoto simplório que conheceram, os atrairia para a armadilha de Jakob Hertzoon, que era Pekka Rollins, um dos maiores gênios do crime de Ketterdam.

Ela olhava para o garoto que havia levado Jordie para aquela ratoeira e uma mistura de sentimentos a inundou como um barco que naufragava desamparadamente em alto mar. Ao mesmo tempo que um repúdio surgia por ele ajudar Pekka a arruinar vidas inocentes, um pesar contraia seu estômago pelo que Kaz faria com ele no futuro. Ela lembrava da raiva impiedosa que Kaz demonstrou quando a contou que o havia torturado por dois dias e deixado o garoto sangrando em um beco. Inej engoliu em seco.

Jordie oficialmente começou a trabalhar como mensageiro, o que levou o grupo espectador a decidir turnos de vigília. A cada quatro horas, dois deles seguiam Jordie, outro espreitava na área da cafeteria, analisando a rotina de Jakob, agora desmascarado por Inej como Pekka. O último tentava captar informações de funcionários e clientes do café. À noite, eles descansavam no quarto de hotel que agora se encontrava frequentemente vazio.

"Jesper, Wylan, vão atrás de Jordie. Vejam se ele não os leva em direção à alguma pista de alguma máquina do tempo", Inej demandou, olhando para o céu que escurecia gradativamente. "Nina, acho melhor você me ajudar com as pistas na cafeteria. Acho muito estranho Pekka ainda não ter mudado de disfarce..."

"Eu não o julgo. Imagine ficar o dia todo em um lugar que tem biscoitos polvilhados de açúcar saindo do forno a todo momento!", Nina exclamou entusiasmada. Jesper e Wylan soltaram grunhidos afirmativos em uníssono.

Inej não conteve a risada. Ela ficou extremamente contente pelos amigos estarem confiando nela, seguindo seus planos sem pestanejarem uma única vez. Ela não podia contar a eles tudo o que sabia, ainda não conseguia. Ela não conseguia se desprender do sentimento de que ela traía a confiança de Kaz, mesmo tudo sendo necessário para eles voltarem para casa. Era como pequenas agulhas que a espetavam de pouco em pouco, até se tornarem, inesperadamente, um tormento profundo.

Eles se despediram rapidamente e seguiram para o trabalho. Inej e Nina se locomoveram discretamente pelo enorme novelo de lã que era as ruas da cidade. Ruas tortuosas e vielas de pedra se atrelavam quando se era menos esperado. Se não as conhecessem tão bem, sem dúvida se perderiam. E se perder em Ketterdam era perigoso. Turistas perdidos acabavam de frente de uma arma enferrujada.

Pouco antes de chegarem, Nina e Inej se separaram, a grisha indo na frente. Não queriam demonstrar que se conheciam. Em frente à cafeteria luxuosa, Inej esperou a amiga adentrar, mas hesitou. Algo dizia em seu íntimo que deveria checar os andares superiores, onde não se encontrava um único lampião aceso. Vazio. Perfeito para entrar silenciosamente pela janela dos fundos. Ela não hesitou.

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Subira sem nenhum esforço. Inej apreciava que quando a última pincelada laranja do pôr do sol se esvaía, as ruas se tornavam desérticas repentinamente. Ninguém queria ficar à mercê do crime sorrateiro que decorria durante a noite, quando era escuro demais para alguém perceber que um pano aperta-se contra seu rosto ou uma faca deslizava por sua garganta. Inej sabia exatamente como era pois aproveitava-se disso assim como os mal intencionados.

A Sombra do Passado - Uma história de Six of CrowsOnde histórias criam vida. Descubra agora