3- INEJ

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Inej estava desacostumada com a vida na cidade. Depois de tantos meses tendo apenas o balanço das águas e o úmido ar salgado como realidade, aquele mar de prédios de tijolos e fumaça envolvendo-a causou uma sensação de claustrofobia.

Além disso, achava que naquele ponto já teria esquecido como se locomover pelas vielas estreitas de Ketterdam, o que se provou o contrário: parecia que era instintivo cada virada e desvio que tomava. A garota não sabia se ficava feliz ou consternada sobre isso... Esse instinto significava que as ruas daquela maldita cidade haviam ficado marcadas fundo na sua alma, como se com ferro quente.

Subitamente, sentiu uma imensa falta de seus pais. Ela os havia deixado em Ravka, em um lugar seguro para viverem, pelo menos por enquanto. Depois de passarem um tempo juntos se conhecendo novamente, ela explicou a eles o que teria que fazer. Seus pais a compreenderam completamente e de seus olhos transbordava orgulho.

É claro que eles estavam preocupados com a segurança da filha, contudo eles tinham plena confiança de que ela era capaz de se defender sozinha assim como tinha feito por toda a vida.

Ela não conseguia parar de pensar que Kaz havia tornado aquele reencontro possível. Aquele mesmo Kaz do qual todos tinham medo e que era chamado de Mãos Sujas. Ela se lembrou do dia em que ele conheceu seus pais... parecia um jovem normal de dezessete anos, exceto pela bengala de corvo e o vestuário. Ela não pôde impedir de sua mente voltar para aquele momento.

"Inej! Minha filha!" Seu pai clamava, abraçando-a. Logo em seguida, sua mãe entrou no abraço. Esse era o primeiro abraço em grupo que Inej havia recebido em muito tempo.

Kaz observava-os, de uma certa distância, mas em seu rosto havia um semblante compassivo. Inej nunca tinha visto uma expressão tão serena em seu rosto antes. Ela se perguntava se ele se lembrava de como era ser amado por uma família.

"Mamãe, papai, esse é o Kaz." Ela apontou para ele. "Ele é o responsável por isso tudo ser possível"

Seus pais pareceram incrivelmente entusiasmados, apertando a mão pálida de Kaz energicamente. Kaz ficou extremamente surpreso, tanto que parecia não ter ficado enjoado com o toque de pele contra pele. Seus pais agradeciam a ele com tanto carinho e afeição que Kaz exibia um largo sorriso. Não parecia que estavam conhecendo uma das pessoas mais perigosas daquela cidade.

Aquele mesmo menino do qual se lembrava caminhava ao seu lado naquele entardecer enevoado. Ele parecia o mesmo de seis meses atrás, apenas mais cansado. Assim como naquela lembrança, ele encontrava-se sem as luvas. Eles continuaram dirigindo-se à mansão Van Eck em um silêncio embaraçoso.

"Me conte mais sobre sua viagem", ele começou, olhando em seus olhos.

Inej achou divertido o jeito que Kaz se referiu a caçar traficantes de escravos como uma viagem.

"Encontrei muita gente disposta a ajudar. Primeiro, entrei em contato com as meninas do Menagerie e elas concordaram em juntarem-se a mim. Ajudei-as a escapar da servidão e por um tempo éramos uma tripulação de dez meninas."

Eles viraram na esquina da Aduela Leste. Suas vozes misturavam-se ao murmúrio das pessoas que compravam na feirinha da rua, cavalos galopando com seus donos montados e, ao longe, os navios de carga que aportavam nas docas.

"Conseguimos apreender o nosso primeiro navio de traficantes. As meninas se saíram perfeitamente, e logo soltamos os grishas que estavam acorrentados. Muitos deles quiseram juntar-se a nós, e os que não quiseram desembarcaram e seguiram suas vidas". Ela olhou cautelosamente para Kaz. "Eu sei que você não poderia ir, mas eu desejei muito que tivesse."

A Sombra do Passado - Uma história de Six of CrowsOnde histórias criam vida. Descubra agora