Ilhados (JR/Nu'est) - Parte III

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Acordo com dor nas costas. A claridade é grande e não consigo abrir meus olhos de primeira. Puxo a coberta sobre meu rosto e aprecio a sombra. Sinto cheiro de perfume masculino e percebo que a coberta é uma blusa. Me sento rápido demais, surpresa por estar com uma das blusas de JR, e fico um pouco tonta. Forço a visão algumas vezes até conseguir distinguir um borrão azul à minha frente. O mar. Estava deitada no chão. Na areia. A areia é fofa, mas é dura, vai entender. Estico os braços, algo estala e me sinto confortável, mas ainda com um incômodo nas costas. Me levanto e inspiro profundamente o ar salgado. Sim. Salgado. Noto que os sequestradores estão amarrados à uma árvore ao lado da barraca. A fogueira foi apagada e JR não está por perto.
Amarro sua blusa em minha cintura e começo a olhar em volta, preocupada. Caminho em direção à uma pedra que esconde uma pequena piscina natural. Vimos ontem, na nossa volta pela ilha. Ando para lá com a intenção de lavar o rosto, mas vejo Junior e paro. Rio do que vejo. Ele está do outro lado da piscina natural, com um pedaço de madeira na mão e tenho certeza de que está tentando pegar um peixe. Não imaginei que veria esta cena, mas precisava ver. Me aproximo, ainda rindo.
- Bom dia! - grito e ele se vira, assustado. Diminuo o espaço entre nós - O que está fazendo? - não consigo não rir.
- Não sabia que era tão difícil pescar com uma lança. É impossível. Estou aqui há muito tempo. Quando acordei dei uma volta na praia e achei bananas. Tomei liberdade de pegar seu celular e buscar sinal pela ilha. Nada. Ah, e ele descarregou - ele tira uma banana do bolso e me entrega - Sinto muito, só tenho isso.
- Está bem, me deixa ver. - aponto para a madeira em sua mão e ele me entrega. Não acho que ele consiga alguma coisa com isso, de qualquer forma - Primeiro - jogo a madeira no chão e caminho até ele - Levante a barra da calça jeans - faço uma bainha improvisada e ele parece surpreso pela aproximação. Faço o mesmo com a minha - Agora, acho que se quisermos peixe, teremos que pegar com as mãos.
- O que? - ele arregala os olhos e eu rio.
- Sabe, uma lança precisa ser afiada. Você não vai conseguir nada com aquilo. - aponto.
- Mas... eu nunca fiz isso. - ele abre os braços. Parece agitado.
- Nem eu. Venha, tudo tem uma primeira vez - caminho para longe da piscina natural. Ali não teria peixes, não sei o que ele viu. Paro novamente em direção à barraca e entro no mar.
Tentamos várias e várias vezes. Fiz pose de durona, mas a verdade é que o peixe escorrega nas mãos e eu tenho um nojinho. Junior também não teve sucesso em nenhuma das tentativas. O sol está forte e isso me deixa estressada com maior facilidade. Odeio calor. Me jogo na areia de olhos fechados, deitada na beira do mar. Não me importo que a onda molhe até a metade da minha blusa, o sol tem que servir de alguma coisa. A água respinga em mim quando JR se joga ao meu lado. Mas diferente de mim, ele parece feliz.
- Do que está rindo? Por quê... não se estressa? - reclamo, ainda de olhos fechados.
- Estamos em uma situação de puro estresse, mas veja pelo lado bom, estamos na praia. Vamos curtir nem que seja um pouco. - ele fica quieto por uns segundos e eu abro os olhos. Ele está me encarando, o braço cobrindo o sol dos olhos. Ele ainda sorri - Não acha?
- Não sou muito fã de calor - estou na mesma posição que ele.
- O que está fazendo em Cancun, então? - ele ri e eu reviro os olhos.
- Boa pergunta. - viro a cabeça para o céu novamente e fecho os olhos.
- Vamos ficar só com a banana? - ele sugere e eu rio sem força.
- Por favor. - me sento e abro os olhos. O encaro e ele está de olhos fechados e sorrindo. Realmente acordou de bom humor.
O encaro por um tempo maior que o necessário e quando percebo desvio o olhar para o mar, que brilha como se tivesse luz própria. A natureza até que é bonita. Mas convenhamos, é muito mais bonita se você estiver limpa, entre conhecidos e sem fome. Sem sequestradores, de preferência. Brinco com a areia molhada perto das minhas pernas. Nunca consegui fazer um castelo de areia. Sinto que a água sobe mais a cada onda e ouço um barulho que me faz desligar completamente do castelo mal feito. Levanto a cabeça e vejo a imagem dos meus sonhos.
- Ei, Junior. - o chamo sem desviar os olhos do mar.
- Hum.
- Acho que vou precisar de mais que uma banana. Estou delirando. - esfrego os olhos e prendo novamente os cabelos em rabo de cavalo. Estão cheios de areia e molhados.
- O que? Por quê? - posso ouvir a risada na sua voz e sinto sua aproximação quando ele senta. Posso sentir sua respiração na minha nuca. Ele não percebe que está tão perto, porque não se afasta - Espera. Aquilo é um...?
- Navio. - falo no automático e arregalo os olhos quando percebo - Um navio! Junior, um navio! - a essa altura, já estamos os dois em pé, pulando e fazendo sinal para o navio que parece perto - Vamos sair daqui! - o abraço e ele congela. Me afasto rápido - Desculpa. - me viro e volto a acenar para o navio.
Eis o que aconteceu. Estávamos naquela ilha, sim. Mas não era uma ilha deserta. Não exatamente. Todo dia de manhã aquele navio trazia turistas para fotografar. Era uma ilha que ficava em meio à sua rota, mas a parada era rápida, realmente apenas para fotos. Isso quer dizer que os sequestradores não pretendiam manter a gente preso por muito tempo, afinal de contas. Significa também que, como sempre, fiz drama demais à toa.
O navio nos levou de volta para o centro em que estávamos, que era seu destino de qualquer forma. Os sequestradores foram denunciados e direto para a delegacia local. Eu e Junior tivemos de prestar depoimentos e passamos alguma parte do dia lá. Mas pelo menos eles tinham comida. Pelo que entendi, fui sequestrada porque acharam que eu era namorada de JR por estar com ele e, bom, ele é cantor, foi sequestrado por ter dinheiro.
Quando saí da delegacia, JR já tinha ido embora. O delegado disso que um carro havia o levado de volta ao hotel e ouviu que o show seria repensado. Os membros do grupo precisavam ser protegidos. Fiquei triste por não poder me despedir. Se não fosse por ele, eu teria surtado desde o momento em que acordei naquela barraca.
Quando cheguei ao quarto do hotel em que estava hospedada, liguei para minha mãe e conversamos por um longo tempo. Ela perguntou se não era melhor que eu voltasse ao Brasil. Disse que ia pensar e depois conversávamos. Precisava de um banho e um bom descanso em uma cama limpa e longe de areia ou barulho das ondas batendo.
**
O resto da minha semana foi maravilhosa. Aproveitei tudo de uma forma melhor, não estava mais irritada comigo mesma. Estava finalmente aproveitando minhas férias. Passei a maior parte na piscina do hotel. Sei que disse que não gosto de calor, mas tudo muda quando você tem uma piscina daquele tamanho à sua disposição. Também fui novamente à feira. Mais do que gostaria de afirmar. Comprei presentes para familiares e amigos e uma blusa florida. Duas, na verdade. Lembrei do Ren sem nem conhecê-lo. Deve ser legal. Nesses dias também experimentei pratos típicos. Uma das coisas que adoro em viagens, é a mudança de cultura.
- Está bem, agora vou desligar. Vou pegar um sol na piscina do hotel. - sorrio para a câmera do celular, para minha irmã.
- S/n, qual é o seu problema? Se fosse para ficar em piscina de hotel, era só se hospedar aqui na esquina. Qual é, você está em Cancun, mana. Vai pegar um sol na praia, pelo amor! Conhecer gente nova. Fez alguma amiga? Tenho certeza de que não, qualquer pessoa de senso está na praia. - ela cruza os braços parecendo irritada e eu rio. Minha irmã tem 19 anos e queria ter vindo comigo, mas ficou em reavaliação na escola.
- Para sua informação, a piscina fica lotada todo dia. - sorrio vitoriosa.
- Vai fazer amizade na praia, te imploro. - ela cruza as mãos na tela e eu rio - Juro que também não vou reclamar se você chegar aqui com um namorado mexicano. Um muy guapo, por favor. - ela não agüenta e começa a rir. Eu reviro os olhos, mas rio também.
- Okay, você venceu. Vou à praia. Vou desligar.
- Ei, quero fotos para provar. - ela levanta uma sobrancelha.
- Você é muito chata. Te amo. - desligo a ligação e suspiro.
Só aquela pirralha para me fazer andar até a praia nesse calor. Não é que seja longe. Realmente não é, mas eu sou preguiçosa, admito. Passeio um pouco pela galeria do celular. JR tirou fotos na ilha. Não acreditei quando vi pela primeira vez. Tem fotos do mar, da praia, de peixes, dele e muitas, muitas selfies dele sorrindo enquanto eu dormia toda amassada no fundo, na areia. Tiro uma selfie e mando para minha irmã. "Indo para a praia porque me forçaram". Me levanto da cama e guardo algumas coisas na bolsa. Um saco de biscoitos, câmera, caderninho, protetor solar, canga, carteira, óculos na cabeça e celular no bolso. Abro a porta do quarto e pego o cartão para trancá-la, mas paro quando meu celular notifica uma mensagem.
- Estou indo - resmungo enquanto desbloqueio a tela e abro a mensagem - Essa garota não devia estar estudando?
- "Número desconhecido: Quer dividir uns nachos com uns amigos?".
Rio. E não é pouco. A mensagem vem acompanhada de uma foto de JR e mais quatro garotos, todos de blusa florida e chapéu típico de turista ao lado da barraquinha de nachos. O senhor, dono da barraquinha, também sorri para a foto.
- "Como me encontrou?" - digito, sorrindo.
- "Estou com fome, venha logo".
Termino de trancar a porta do meu quarto e caminho cantarolando pelo corredor. É, maninha, parece que a praia vai ter que esperar mais um pouquinho.

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⏰ Última atualização: Dec 24, 2020 ⏰

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