6.611km até você (V/BTS) - Parte II

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- Vamos, S/a, a chuva está aumentando. - Thierry tenta me puxar de novo e dessa vez puxo minha mão. Penso por um momento.
- Não. - digo baixo. Minha cabeça está a mil. As palavras de Ingrid se misturam com tudo o que sinto quando estou com ele.
- Que?
- Não vou! - a chuva aumenta e eu tenho que gritar. Thierry continua me olhando sem entender - Eu gosto da chuva e vou ficar aqui! - gesticulo com as mãos para que ele entenda.
- Mas... - ele dá um passo em minha direção. Sua voz também é alta. Como sempre, ele está arrumado e tenta proteger o cabelo à todo custo, em vão.
- Pode ir se quiser! - me viro e vejo Taehyung correndo na chuva, em nossa direção. Não consigo conter minha empolgação e surpresa.
- S/a, o que foi? - Thierry abre os braços em impotência.
- Eu... - me viro de volta para ele e suspiro - Sempre pergunta porque não posso ficar com você. Quer mesmo saber?
- Claro. - sua atenção está toda voltada para mim. Ele desiste dos cabelos e cruza os braços.
- Você é uma ótima pessoa. - ainda estamos gritando por causa da chuva e minha voz falha - É uma ótima pessoa, mas me sinto presa quando estamos juntos!
- O que? Por quê?
- Você gosta de tudo certo do jeito que tem que ser, tudo planejado! Não gosta de fugir das regras! As vezes é preciso fugir das regras, Thierry!
- Do que está falando?
- Você não se permite viver o momento, está sempre focado em fazer e cumprir seus afazeres! Todas as vezes que saímos nesses últimos meses, tudo o que fez foi programado. Não posso ser eu mesma ao seu lado! Não me sinto eu mesma ao seu lado...
- Mas você disse que gostava de sair comigo!
- E eu gosto! Você é um bom amigo! Mas não posso suportar ter de fazer as vontades de alguém em um relacionamento. Não posso ficar seguindo tudo à risca - paro de falar, minha garganta está cansada de gritar.
- Você não está pensando direito, S/a! - sua expressão não é de raiva ou irritação, mas de tristeza. Dou um passo em sua direção e o abraço. Eu realmente gosto muito de Thierry, mas simplesmente não consigo viver seguindo um cronograma.
- Desculpe. - digo em seu ouvido e ele me abraça forte.
- S/a! - ouço mais uma vez a voz de Taehyung e me solto de Thierry. Ele está parado bem à minha frente. Ficamos nos encarando por um tempo, sem dizer nada. Expectativa preenche o espaço entre nós - Quer correr na chuva? - ele diz e ri. Tenho certeza de que também está lembrando da última vez que fizemos isso juntos, um dia antes de eu entrar naquele avião e sumir.
- Tae... - começo a andar animada em sua direção, mas meus pés param. Ver seu rosto me traz muitas lembranças e então me lembro o porquê de sentir tanto sua falta. Meu sorriso some por completo quando lembro da carta - O que... está fazendo aqui? - encaro meus pés, tentando lembrar exatamente o que tinha na carta.
- Precisava falar com você. Você me ignorou por um ano, não tive outra saída.
- Ah. - trechos do que escrevi surgem na minha mente.
"...sou uma covarde. Não consegui dizer isso pessoalmente...", "...apaixonada por você desde que nos conhecemos...", "achei melhor guardar para mim, ninguém além de nós sabe sobre isso.", "Por favor, não me procure. Não estou pedindo para entender. Eu só não consigo mais continuar assim...". Droga. Passo as mãos pelos cabelos, sem acreditar que escrevi tudo em uma carta e fugi.
- Eu... - desisto de falar. Não tenho o que falar. Nunca imaginei que ele fosse aparecer, quando devia estar há 6.611km daqui.
- S/a, o que está acontecendo? - me assusto com a voz de Thierry. Ele ainda está aqui?
- Nada, tudo bem. Podemos conversar depois? - sorrio sem graça para ele.
- Ahn... okay. Vou te ligar mais tarde. - ele olha desconfiado para Taehyung, coça a cabeça e vai embora depois de me abraçar.
- Ele é seu namorado? - meus olhos ainda estão focados nos meus tênis, agora encharcados. Ótima primeira pergunta, Taehyung.
- Não, ele só... - levanto os olhos para a Torre Eiffel, depois observo pessoas correndo com as mãos protegendo as cabeças e, com um suspiro, volto a admirar meus tênis.
- S/a, olhe para mim por favor. - ele me segura pelos ombros, me obrigando a olhá-lo e me assusto. Ele parece um pouco pálido. Seus cabelos estão grandes, cobrindo os olhos. Gosto quando está assim, ele fica mais bonito.
- Como me achou? - encontro seus olhos e vejo uma angústia contida. Ele suspira e joga o cabelo para trás.
- Ingrid. - me sinto traída, mas agora não adianta de nada - Ela atendeu minhas ligações. - sinto o sarcasmo em sua voz.
- Eu troquei de número. - digo o óbvio.
- Te procurei logo depois que li a carta. Passei meses tentando falar com você, te mandei e-mails, pedi seu número para todos, mas ninguém tinha também. Você foi para outro país, trocou de número e não disse para ninguém.
- Desculpe. - tento voltar a olhar para o chão, mas não consigo.
- Sabe como suas amigas estão? Alguns minutos antes de você entrar naquele avião, disse que nunca as esqueceria e logo depois sumiu. Entende o que fez? - a culpa me consome, mas a irritação é mais forte. Ele veio do Canadá para me dar uma bronca? Era melhor nem ter...
- Desculpe, está bem?! - me afasto dele e coloco uma mecha do cabelo atrás da orelha. Estou completamente encharcada e nervosa. Os desfile foi completamente desmontado e não parece ter mais ninguém na rua. A chuva virou tempestade e eu nem percebi. Me viro e começo a fazer o caminho de volta para minha casa.
- Vai fugir de novo?! - Taehyung vem atrás de mim. Ouço seus passos mesmo acima do barulho da chuva.
- O que você quer de mim? Por quê não diz logo? Vou fugir, sim! Vou fugir, porque é o que faço quando estou envergonhada e encurralada! - continuamos andando rápido.
- Eu vim até aqui e você vai me ouvir! Não pode falar tudo o que quer num pedaço de papel e não me dar direito à resposta!
- Eu fiz isso exatamente porque sabemos sua resposta! Não queria que a gente brigasse e mesmo assim aqui estamos nós! - acelero mais o passo. Estou quase correndo, mas a perna de Taehyung é maior e mesmo que eu não olhe para trás, sei que ele não está com problemas para me alcançar. Estamos andando tão rápido que falta pouco para chegar em casa.
- S/a, qual é! Você guardou isso por sete anos! Tem noção disso? Sete anos!
- Não diga como se soubesse como me sinto! Não preciso que sinta pena de mim.
- Meu Deus, S/a, ouça o que está falando! - ele segura meu braço e paramos repentinamente. Meu coração está acelerado e minha respiração entrecortada. Tento me controlar.
- Desculpe. - puxo minha mão de volta com certa força - Mas você me deixa louca, caramba! - Prendo meu cabelo em um rabo de cavalo. A blusa branca de Taehyung está colada em seu corpo por causa da chuva, que começa a diminuir. Desvio o olhar.
- Vamos conversar, por favor. Civilizadamente. - ele coloca as mãos na cintura e depois balança a cabeça para expulsar a água. Também está ofegante e direciona toda a intensidade do seu olhar à mim.
Nesse momento, percebo que um ano não diminuiu 1% do que sinto por ele. Fugir e me afastar não adiantou de nada. Respiro fundo e engulo em seco. Concordo com ele e andamos o caminho que falta para a minha casa em silêncio. Temos tanto à dizer, mas ao mesmo tempo não conseguimos. Quando chegamos no prédio, o porteiro nos cumprimenta preocupado por estarmos molhados e nós subimos. Moro no sétimo andar com Ingrid e quando abro a porta, ela está jogada no sofá com um balde de pipoca nas mãos.
- Chegaram cedo. - ela diz sem nem olhar para a porta, mas parece se lembrar de algum coisa e se levanta correndo - Quer dizer, Taehyung! O que está fazendo aqui? - ela apoia o balde de pipoca na mesinha de centro e nos olha sorrindo.
- Corta essa. - reviro os olhos e vou para o banheiro, buscar toalhas.
- Eu contei à ela. - ouço Taehyung dizendo.
- Eu disse que não era para contar! Ela vai me matar agora, muito obrigada. - ela sussurra alto e eu reviro os olhos mais uma vez. Acho que vou mesmo matar Ingrid hoje. Ela nem sabe dos meus sentimentos, como...?
- S/azinha, guardei bolo para você, quer?
- Com você eu converso depois. - jogo uma toalha e Taehyung pega no ar - Tome um banho, depois conversamos. Imagino que tenha alguma roupa nessa sua mochila, já que vocês combinaram tudo isso. - sinto o sarcasmo na minha voz, mas não posso evitar.
Deixo que Taehyung use o banheiro do corredor e tomo banho no banheiro do quarto. Demoro, sentindo a água quente escorrendo pelo meu pescoço, numa tentativa de relaxar. Em parte funciona, mas o fato de saber que Taehyung está na minha sala, não me abandona. Ouço Ingrid tagarelando no quarto, mas não respondo e ela se cala. Aprecio o momento sozinha, mas ele dura menos do que eu gostaria.
Quando saio, Taehyung está de pé na sala, esfregando uma toalha com força na cabeça. Não vejo Ingrid em lugar algum. Pigarreio para chamar a atenção de Taehyung e ele se vira.
- Ah, oi. Quase não saio do banho, a água estava tão quentinha. - ele ri e passa a toalha pelos ombros.
- É. Sabe onde Ingrid está? - dou uma olhada rápida em volta.
- Ela fez chocolate quente e disse que precisava comprar alguma coisa no mercado. - ele dá de ombros, inocente. Aham. Fizemos as compras do mês ontem. Ingrid é rápida. Suspiro.
- Tae, precisamos conversar.
- Precisamos. - ele está de moletom cinza e seus cabelos ainda estão molhados, completamente fora de ordem. Minhas mãos coçam para ajeitá-los, mas as coloco nos bolsos do casaco.
- O que realmente está fazendo aqui? - me sinto um pouco desconfortável e até grossa.
- Eu... - ele dá um passo em minha direção e apenas olho para cima, em seus olhos. Ele parece em conflito. - Fiquei muito pensativo depois de ler sua carta. - meu corpo inteiro estremece à menção da carta.
- Olha, me desculpe. Eu não devia ter feito isso. Para começar, quem escreve uma carta hoje em dia? - rio sem graça - E... quer dizer, foi muito dramático, eu devia ler menos. E desculpe também por ter sumido do nada, vamos fingir que aquilo não existiu, está bem? Você esquece qualquer palavra que tenha lido nela e então nós podemos... - em apenas um movimento, Taehyung puxa minha cintura contra a sua e estamos nos beijando.
O tempo para e minha cabeça dá um branco. Não sei o que pensar ou mesmo fazer. Apenas retribuo o beijo que esperei por tanto tempo e já tinha desistido. Em um movimento atrasado, tiro minhas mãos dos bolsos e passo os braços pelo pescoço de Taehyung. Ele apenas junta mais nossos corpos. Nos separamos e eu me afasto como se tivesse levado um choque.
- S/a... - ele dá outro passo em minha direção e eu viro de costas. O que foi isso?
- Por quê...? - coloco a mão na boca e tento controlar a respiração. A dele não está muito diferente, posso ouvir mesmo de costas - Por quê fez isso?
- Eu... - ele começa e eu me viro, procurando seus olhos.
- Não faça isso por pena. Não vou aceitar e não posso suportar, não de você. - digo em um rompante e não entendo sua expressão. Ele segura meus ombros com força e não consigo me mexer, meus olhos estão fixos nele. Em seu desespero interno.
- Me escute, está bem? - apenas concordo com a cabeça - Como eu disse, pensei muito depois de ler sua carta. - abro a boca para dizer alguma coisa, mas ele me silencia com um dedo e eu o encaro surpresa - Fiquei por semanas com aquilo tudo na cabeça. Então resolvi te procurar. Te liguei e mandei várias mensagens. Muitas mensagens.
- Eu sei. - digo rápido, antes que ele me silencie de novo.
- O que?
- Eu troquei de número, mas meu chip antigo ainda está no celular. Ele está funcionando, eu só não uso. Recebi todas as mensagens. - engulo em seco. Devia ter ficado quieta.
- Mas... que ótimo, me ignorou de propósito. - ele revira os olhos.
- Desculpa.
- Te mandei e-mails também, mesmo sabendo que você nunca olha o seu. Não custava tentar. As meninas disseram que tinham perdido o contato com você, então só me restou Ingrid. Não fique bravo com ela, fui recusado várias vezes antes de ela atender alguma ligação. Meses.
- Hum. - cruzo os braços com certa dificuldade. Ele ainda está segurando meus ombros.
- Enfim, isso tudo não importa. A questão é que comecei a te procurar, porque depois de ter pensado tanto, percebi que também gosto de você.
- O-o que? - ele me silencia mais uma vez com o dedo, mas estou supresa demais para reclamar.
- Não vou dizer como nos filmes, que gosto de você desde que te vi ou coisa do tipo. Seria mentira. Mas gosto de você agora e é isso que importa. Não sei quando nem como isso aconteceu, mas... - dessa vez sou eu que o surpreendo com um beijo, e para falar a verdade, também me surpreendo.
Enrolo as mãos em seus cabelos macios e molhados. Suas mãos seguram firme minha cintura e eu me deixo levar por um tempo. Sem fôlego, paro o beijo, mas ainda o seguro no lugar. Suas mãos também não me soltam. Olho em seus olhos e sorrio. Não parece real, apenas uma alucinação da minha doce imaginação. Ficamos assim por alguns segundos, um olhando o outro com sorrisos nos rostos e uma respiração ofegante, aos poucos se tornando calma.
Percebo que não me sinto calma assim há algum tempo. E mesmo morando com Ingrid, sinti falta de um abraço familiar, além do dela. Ambos nos assustamos com um miado e nos afastamos por impulso. Olho para o lado e lá está ele, meu gatinho malhado sentado no sofá, nos observando.
- Não sabia que gostava de gatos. - Taehyung joga o cabelo para trás.
- Prefiro cachorros, mas ele apareceu com fome e depois que dei comida ele não foi mais embora. - rio e pego o gato no colo, me sentando no sofá. Taehyung se senta ao meu lado, observando o gato - Mas o Yoongi é fofo, né, amor. - falo com o gato, que mia em resposta e eu rio.
- Espera, o nome do gato é Yoongi? - Taehyung está com uma expressão engraçada e eu rio. Talvez eu esteja com vontade de rir.
- Sim. - dou de ombros.
- Por quê? - ele me olha como se eu fosse estranha.
- Ele tem cara de Yoongi, não acha? - coloco o gato ao lado do meu rosto e faço uma pose. Taehyung ri.
- Você conhece algum Yoongi? - ele cruza os braços, com deboche.
- Não. - coloco o gato no chão e ele corre para sua comida.
- Então como pode saber que ele tem cara de Yoongi?
- Eu não sei, ele tem cara de Yoongi, então é o nome dele. - cruzo os braços com impaciência, o encarando.
- Senti sua falta. - Taehyung ri e me abraça de lado - Muito. - ele deixa um beijo no topo da minha cabeça e eu me viro para olhar em seus olhos. Parecem sinceros.
- Eu também. - aprecio seu sorriso por um instante - Mas eu vou ter uma conversa séria com você e dona Ingrid. - digo séria e ele cai na gargalhada.
- Justo.

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