Você não é livre só porque pode ver o mar. O cativeiro é uma mentalidade. É uma coisa que você carrega com você.
- The OANos restam muito mais
Presentes por abrir
Moedas que, ao girar
Descobrem um perfil
E começa em celofane
E acaba em eco- Vetusta Morla (Los Días Raros)
Calmo.
Eu acordei calmo de um sono repleto de sonhos. Memórias da minha vida se passando infinitamente pelos meus olhos. Eu não sabia que estava sonhando, parecia ser real, tenro, como se eu tivesse o poder para parar o tempo. Me pergunto ainda hoje se morrer deve ser assim, em um momento você tem sua vida na ponta de seus dedos, no outro, ela se esvai lentamente, como se você fosse carregado pela correnteza fria de um rio invisível. Então uma conexão de sinapses é desligada e por um momento, um momento sem tempo, você não vê mais nada; não sente mais nada.
E as memórias brotam logo depois, infinita e claramente. Linda, perigosa, doce.
Só sei que se eu pudesse escolher, se eu soubesse o que aquilo significava, eu preferia ter ficado lá. Não havia dor, tristeza e nem solidão. O sentimento não chegava a ser neutro, mas chegava a plenitude de me fazer sentir algo a mais. Algo belo.
Acordei daquele sonho bem no momento em que o sol estava se pondo, os raios laranjas atravessando as janelas e acertando meu rosto com suavidade. Mamãe estava sentada do meu lado, a cabeça meio tombada para o lado enquanto dormia. Lembro de olhar em volta e me perguntar onde eu estava.
Me dei conta que era um quarto de hospital, mas ainda continuei a me questionar como eu havia parado ali.
Mamãe acordou quando eu me movimentei para sentar sobre a cama, com surpresa, seus olhos se encheram de água.
Duas semanas se passaram desde então, eu tive tempo o suficiente para me atualizar de cada notícia que havia circundado Monte Azul.
Primeira: Jonas fora atrás de Ed no colégio Santa Cruz.
Segunda: Ed o matara com sua própria arma.
Os programas e jornais locais mostram repetidas reportagens sobre o caso de Jonas, sobre como ele invadiu o terreno da escola e me ameaçou e quando não conseguiu o que queria, foi atrás de Eduardo como um tipo de vingança. As notícias eram sempre as mesmas, a imprensa fazia as mesmas perguntas o tempo inteiro: quem era Eduardo? De onde ele viera?
As imagens se revezavam em cada canal local, um monte de borrões escuros, sirenes e policiais acompanhando Ed com calma para fora do colégio.
Mesmo já sendo repetitivo, sempre que eu as revejo é como notar um detalhe novo, algo que eu deixara passar na primeira ou na segunda vez, algo do tipo sobre como ele estava assustado, machucado, como seu lábio tremia, como ele se assustara com os flashes de luzes em seu rosto, as cores vermelho e azul se moldando ao seu rosto com um brilho intenso, seu cabelo desgrenhado, os arranhões em seus braços... cada novo detalhe me faz ter ainda mais ódio de Jonas.
Sei que não é certo, e sei que provavelmente eu irei negar se alguém me perguntar, mas ainda eu consigo sentir raiva de Jonas. Não só por Saito, mas pelo gatilho emocional que fez um garoto doente mentalmente atacar pessoas inocentes. Sinto raiva por ele ter assumido os assassinatos de adolescentes inocentes, seguindo um padrão como um serial killer, buscando garotos loiros que na maioria das vezes viviam na parte onde se concentra grande parte das pessoas não privilegiadas, e pensar nisso faz com que eu queira pôr para fora toda comida que eu comi.
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Disforia - Início
Ficção Adolescente"Ele está lá. Parado, rígido, seguro, confuso, obscuro. A metade de um tudo. A expansão do universo. A estrela colapsada em outra estrela. Balanço a cabeça sentindo raiva. Trinco o maxilar tão forte que chega a doer, avanço para cima dele com toda...