Capítulo 15 - Seiva

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O silêncio pode ser uma série de infinitas sensações que se misturam. Pessoas costumam transar em silêncio, chorar em silêncio, sofrer em silêncio, até mesmo gritar em silêncio. Algumas morrem em meio a um cercado de silêncio, como estar em alto mar, mas sem o som das ondas ou do vento ou de gaivotas.

O mundo está em silêncio agora; as árvores se movem em silêncio, não há um farfalhar de folhas emitindo qualquer som, não há uivo de vento ou canto de pássaros.

O mundo jaz em total silêncio.

Tudo se tornara um imenso túmulo. Escondido entre árvores, frio e sem emoção.


***

Fazem sete dias desde que eu fora encurralado no estacionamento. Naquele dia, lembro de estar no hospital, em um momento eu estava deitado no banco de trás do carro de Foster, e no outro eu estava deitado sobre uma cama de hospital.

Quando meus pais chegaram, lembro do olhar incomum da minha mãe. Ela estava aterrorizada. Apesar de ter relutado em dizer a verdade, eu estava cansado e com dores pelo corpo. Dizer a verdade sobre Jonas foi a única coisa que fez meus pais, Foster e Eduardo me deixarem em paz.

Não foi difícil adivinhar o porquê de Jonas não estar no colégio hoje.

Acabei também não contando para Eduardo sobre o ocorrido com Gus e Davi, porque eu sei que Ed tem um forte senso de moralidade que não me colocaria em risco de me tornar a nova fofoca da cidade.

O impulsivo e problemático André Rey, filho da juíza da cidade, membro de uma comunidade conservadora – o que é só um nome bonito para reacionário – e descendente de um dos primeiros colonizadores da cidade, não passa de uma bicha escondida por trás de uma capa de garoto durão.

As pessoas daqui adoram falar, isso só daria para eles assunto pelo resto da vida. Sei o quanto Ben sofre por isso, apesar de sempre demonstrar alegria, Ben também guarda o sentimento de ser excluído de uma cidade. O que é uma babaquice por parte desses filhos da puta.

Não demoraria muito para os “Anjos do Lar” se sentirem na liberdade de criar uma assembleia de merda para mim também. Eduardo pode tentar evitar isso a qualquer custo.


***

Gus está se esforçando ao máximo para evitar qualquer passe de bola para mim, é como se eu estivesse na quadra apenas para ser um número que completa o time.

O som da bola batendo repetidas vezes pelo chão ecoa na quadra inteira, apesar de basquete não ser o meu forte, sempre gostei de me esforçar nas aulas para ter ao menos nota no final do semestre.

Devo estar fazendo um papel ridículo de pássaro estranho no meio da quadra. Até mesmo Eduardo parece ter notado que Gus está evitando qualquer tipo de contato corporal comigo. Se eu pudesse escolher, teria escolhido fazer parte do time adversário junto com Eduardo.

Mesmo com o professor gritando várias vezes sobre eu estar livre, Gus prefere perder qualquer chance de fazer uma cesta.

Já deu pra mim.

- Imbecil – murmuro baixo de dentes cerrados.

Abandono a quadra na metade da aula sob os protestos do professor exigindo que eu volte. Entro no vestiário e tomo o banho mais rápido que eu posso. Sento sobre um dos bancos enquanto procuro minhas roupas em minha mochila.

Disforia - InícioOnde histórias criam vida. Descubra agora