Capítulo 3 - Fuga Para o Neon

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Jogo a mochila por cima do ombro quando abro as portas duplas do corredor e tento não me intimidar com o fato de que parece que o mundo inteiro me assiste. Só estou um pouco cansado, pois a noite passada foi meio que longa, resumindo, eu não consegui dormir, e, quando eu consegui ter alguns pequenos cochilos, meus sonhos foram milhares de flashes com Lorenzo.

Eu sinto muito a falta de Lorenzo, mas sinto mais falta ainda de Léo. Estou vendo meu irmão afundar lentamente em um lago de lama, e eu simplesmente não consigo salvá-lo sem me afundar também.

Ando pelo corredor e ignoro completamente cada sorriso que eu recebo, aperto ainda mais os óculos escuros contra meu rosto, pois a luz dessa manhã está tão forte que eu sinto que ela pode me cegar. Quando estou quase perto do meu armário recebo um forte encontrão em meu ombro.

- Foi mal - o garoto diz entre dentes, sua voz me chamou atenção, então eu meio que já sei quem é antes mesmo de olhar. Eduardo percebe que se chocou contra mim apenas quando ele me olha diretamente, sua expressão muda para o tédio rapidamente. - Ah... É você.

Fungo baixo e tento não demonstrar meu mal estar.

- Relaxa, você não me parece uma vítima perfeita para a surra de hoje - digo e me viro para o meu armário.

Giro a combinação para minha senha, pela visão de esguelha vejo que Eduardo abre o armário ao lado do meu.

- Isso é sacanagem - murmuro. - Até aqui?

Ele dá de ombros revirando os olhos tão profundamente que eu temo que eles não voltem mais ao normal, em minha cabeça eu imagino seus olhos totalmente brancos enquanto ele entra em desespero para revirá-los novamente. Seria uma cena bastante divertida que alegraria meu dia completamente.

- Eu não tenho culpa se essa escola está tentando nos aproximar - ele diz calmamente. - Por que os óculos escuros aqui dentro?

Pego meu livro de cálculo e bato meu armário com força, viro-me para ele e afasto os óculos dos meus olhos por alguns momentos. Eduardo franze a testa.

- Essas olheiras estão horríveis, é sério, sem falar na vermelhidão. Eu diria que você passou a noite acordado e chorando, ou, fumando maconha.

Balanço minha cabeça.

- Vai se foder antes de falar merda.

Ele bate a porta do armário com força depois de tirar seu livro de cálculo.

- Tenha um problema de verdade antes de mandar eu me foder, aí depois a gente conversa.

Eduardo mantém uma postura totalmente descontraída, levanta a mão e mostra o dedo do meio antes de sair andando.

- Babaca - sussurro.

Hoje as pessoas parecem mais animadas do que o normal, os alunos saltitam pelos corredores, os professores estão sorrindo a toa, até mesmo a secretária não está me olhando atravessado. Tento não tocar em ninguém enquanto caminho pelo corredor, pois um simples esbarrão pode fazer com que uma explosão ocorra dentro de mim. Tudo o que eu preciso agora é de um dia de praia sem fim, sem explicações, sem família e, com certeza, sem a porra da escola. Quero poder mergulhar na água salgada e depois me sentar sobre a areia e acender um cigarro.

Infelizmente a minha realidade está muito distante no momento.

O braço de Gus me puxa para junto de si quando eu o encontro no meio do corredor. Tento não me sufocar em seu aperto, mas ele não afrouxa o braço em torno do meu pescoço.

- O que você estava falando com aquele estranho?

Dou de ombros claramente não querendo falar sobre aquele cara.

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