Capítulo 4

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NO OUTRO DIA

Eu acordei como sempre ao som da minha ídola, agora patroa. Me levantei rápido, tomei um banho e me vesti apresentavelmente. Eu tomei café da manhã em tempo recorde, já que minha geladeira estava toda abastecida. Como ainda estava com tempo, fui arrumar o escritório para receber a Lu e sem pensar muito coloquei um porta retrato com a foto dela sobre a mesa. As horas se passaram e Ernesto bateu na porta do escritório, colocando a cabeça para dentro. Eu tremi, Lucero já havia chegado para me conhecer.

− Bom dia. – Ernesto sorriu e eu retribuí nervosa, sem conseguir falar.

Ernesto se afastou e a Lu entrou aparentemente nervosa segurando as duas mãos abaixo do colo. Eu não pude deixar de sorrir ao vê-la, mas ao ver seu estado, me assustei. Lu estava pálida, com olheiras, magra e com os olhos inchados. Definitivamente não era a mulher cheia de vida que eu conhecia.

− Vou deixá-las a sós. Depois eu volto para te buscar, Lu. Até depois. – Ernesto saiu rápido.

Lucero e eu nos encaramos por alguns minutos, mas eu me dei conta de que aquilo ali não era uma convivência com fã, eu tinha que ser profissional.

− Bom, sente-se. – eu apontei a cadeira à minha frente, sorrindo.

Eu percebi que havia deixado o porta retrato com a foto de Lucero em cima da mesa e com medo que ela visse, joguei-o rapidamente dentro da gaveta torcendo para que ela não estivesse notado nada e por sorte, ela estava bastante concentrada no meu rosto para ver outra coisa.

− Eu te conheço de algum lugar? – Lucero perguntou baixo, me olhando com atenção.

Seria impossível Lucero me reconhecer, afinal mesmo sendo ativa nas redes sociais, eu não usava fotos minhas nos perfis e nem participava das dinâmicas de fotos e vídeos que ela criava para os fãs, talvez por falta de tempo ou simplesmente porque o meu amor por ela ia muito além de reconhecimento. Eu sabia quem ela era, eu a amava incondicionalmente e isso era o bastante.

− Acho que não. – eu sorri de leve. – Mas teremos muito tempo para nos conhecermos, se você quiser, é claro.

− É claro que eu quero. – Lucero sorriu.

Pela primeira vez desde que eu estava ali e pelo que Ernesto contou, desde muito tempo, Lucero abriu um sorriso verdadeiro. Era óbvio que eu conhecia cada um dos seus sorrisos e o significado de cada um deles, então eu sabia que havia feito ela sorrir de verdade e estava feliz por isso.

− Que bom. – eu retribuí o sorriso. – Como você está? – eu voltei a ficar séria, colocando minhas mãos sobre a mesa e mexendo em uma caneta.

Lucero respirou fundo, olhando para as próprias mãos e eu aguardei o seu tempo pacientemente.

− Mal. – Lucero por fim falou e suspirou. – Sabe, por mais que eu, meus filhos, meu irmão, minha mãe, meu namorado e meus amigos estejam bem, eu me sinto muito triste pelo que as pessoas estão passando.

− Entendo. Mas eu vi na Internet que você e várias outras pessoas vêm ajudando, doando alimentos, roupas, lençóis, certo? – eu perguntei e Lucero assentiu. – Então, o que você pode fazer já está fazendo, sem falar na oração que é a melhor ajuda que eles podem receber.

− Sim, mas eu me sinto como se estivesse no lugar deles, sabe? – Lucero começou a chorar. – Eu não sei o que eu faria se perdesse uma das pessoas que eu amo.

Lucero soluçava e pela primeira vez na minha vida, eu não sabia o que fazer. Na faculdade, os professores ensinavam que não era recomendado o psicólogo ter vínculos emocionais com os pacientes porque os problemas deles também poderiam afetar-nos, eu não pensei nisso quando aceitei trabalhar com a Lucero e para ser sincera, mesmo se estivesse pensado, teria aceitado, pois estar com ela era o que eu mais queria na vida. Eu resolvi fazer totalmente o contrário do que minha profissão indicava, mas que meu coração pedia mais do que tudo desde que ela entrou naquela sala, ou melhor, desde que ela entrou na minha vida há muito tempo atrás. Me levantei e arrodeei a mesa que nos separava. Eu me pus de joelhos e a abracei com toda a força que pude. Ela me abraçou da mesma forma e chorou mais ainda.

− Vem aqui. – eu me levantei ainda abraçando Lucero e a levei para o sofá que havia no escritório, sentando e fazendo-a deitar com a cabeça no meu ombro. – Desabafa, eu tenho certeza que vai te fazer bem. – eu comecei a acariciar o cabelo dela.

− Eu estou com medo. – Lucero soluçava se apertando a mim.

− Não precisa ter. Você sabe que por mais triste que seja, isso é normal de acontecer por aqui. Vai ficar tudo bem, confia. – eu retribuía o abraço de Lucero com força.

Nós passamos horas naquela posição, ela me abraçava como se dependesse daquele abraço e eu nem sabia explicar o que eu sentia, parecia que finalmente eu estava em casa, como se ela fosse o meu lar. Lucero se acalmou, mas só me soltou depois que parou de soluçar.

− Obrigada... Por isso. – Lucero falou e passou a mão no rosto.

− Não precisa agradecer, estou aqui para isso. – eu sorri.

− Sabe, eu sinto como se já te conhecesse. – Lucero olhou em meus olhos.

Eu também sentia como se o nosso contato estivesse muito além daquele momento ou de quando a vi pela primeira vez, eu sentia que já havíamos estado juntas há muito tempo atrás mesmo isso sendo totalmente impossível. Abracei Lucero novamente, tão forte quanto antes, sem poder dizer o quanto a amava, afinal ela era para ser só minha paciente, ou pelo menos era isso que eu achava.

                                                                                            ~ * ~

O encontrooooooo <3 

Lucero e Letícia sentindo como se já se conhecessem, hum??? Quem será que descobre a verdade primeiro?

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