Segredos Revelados

Capítulo 16

LETÍCIA NARRANDO

Depois de um tempo, eu acordei com sede e me levantei para ir à cozinha. Quando passei pelo quarto de dona Lu, ouvi vozes lá dentro e estranhei mais ainda ao ouvir a voz embargada da Lucero. Eu sabia que estava fazendo errado, mas não pude deixar de me preocupar. Ela falava sobre uma filha que a mãe dela contou que estava morta, mas havia a encontrado e estava mais perto do que ela imaginava, até que ela disse com todas as letras "Letícia é minha filha". Eu chorava, não conseguia acreditar que minha mãe verdadeira sempre esteve tão perto. Ela saiu do quarto e se assustou ao me ver lá.

− Leti... – Lucero tentou falar, mas eu a interrompi.

− Desde quando você sabia? – minha voz soou mais fria do que eu queria.

− Meu amor, não era assim que você devia ficar sabendo. – Lucero soluçou com as mãos na cabeça.

− Eu te fiz uma pergunta. – eu falei entredentes já com as lágrimas queimando os meus olhos.

− Vamos para o seu quarto, lá podemos conversar melhor. – Lucero respirou fundo.

Eu assenti e quando Lucero foi pegar na minha mão, eu saí andando na frente, mas ainda consegui ver uma lágrima escorrer dos seus olhos. Eu não queria tratá-la assim, mas não podia pensar no que eu faria sem saber de toda a verdade e nem se ela não tinha mesmo me abandonado por vontade própria. Nós entramos no quarto e ela se sentou na cama, mas eu permaneci em pé.

− Agora eu já sei de quem é esse quarto. – eu quebrei o silêncio depois de alguns minutos.

− É, eu nunca deixei de pensar em você. – Lucero sorriu de leve.

Eu me segurei para não perguntar se Lucero pensava em mim por remorso ou por amor, mas prometi a mim mesma de que não faria nada para magoá-la até saber se ela merecia mesmo o rancor que eu guardei pela minha mãe biológica.

− Pois bem, estou esperando uma explicação. – eu cruzei os braços.

Lucero respirou fundo.

− Eu engravidei de você com 20 anos, confesso que foi por acaso, o acaso mais lindo da minha vida. – Lucero sorriu de lado. – Apesar de ser cedo, eu fiquei muito feliz, mas minha mãe caiu em cima, tanto que me fez pausar a carreira para que ninguém descobrisse minha gravidez, eu não entendi porque se de uma forma ou outra todos iriam te conhecer, não iria criar você trancada nessa casa a vida toda. Manuel me apoiou do início ao fim da gravidez, me prometendo ajudar a cuidar de você e assim podermos conciliar nossa vida de pais e artística, mas hoje eu descobri que até ele concordou em fazer isso com a gente. – ela esmurrou a cama, fechando os olhos com força. – Quando você nasceu, a médica falou que você tinha problemas respiratórios, mais uma mentira que minha mãe mandou inventar porque deu problema nos papéis de sua adoção. Por mais que eu achasse que você era forte para estar com esses problemas, resolvi não questionar, afinal ela era a médica, então sabia o que estava dizendo. – Lucero deu de ombros e eu assenti. – Uma semana depois, elas me deram a notícia de que você havia "morrido". – ela fez aspas com as mãos e voltou a chorar. – Minha vida acabou naquele momento, Letícia. Eu sei que segui minha vida, tive seus irmãos, mas eu juro que eu nunca te esqueci, tanto que deixei seu quartinho como estava e somente eu entrava aqui por ter saudades de momentos que nunca existiram. – Lucero enfatizou, soluçando. – Deus sabe o quanto eu te quis, o quanto eu sofri quando te perdi e eu não posso permitir que isso aconteça de novo.

Nós nos encaramos em silêncio por alguns minutos enquanto só se ouviam nossos soluços. Lucero falava a verdade, ela não era capaz de mentir.

− E quando você descobriu que eu sou... – eu não consegui falar, mas Lucero entendeu.