Capítulo 25

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− Pode chorar, meu anjo, desabafe. – eu sussurrei. – Não vou sair do seu lado nunca, está bem? – eu continuei acariciando os longos cabelos loiros de Lucero.

Lucero passou mais uns minutos daquele jeito e mesmo parando de chorar, ainda soluçava. Ela me soltou um pouco para passar a mão no rosto e segurou minha mão, me levando para o quarto em que dormíamos e deitando. Eu fiz o mesmo e ela me abraçou novamente tão apertado quanto antes.

− Está mais calma? – eu perguntei baixinho e coloquei o cabelo de Lucero atrás da orelha.

− Estou. – Lucero suspirou. – Sabe, eu não devia ser assim. – ela falou depois de um tempo.

− Assim como? – eu perguntei confusa.

− Tão sensível. Eu devia aprender a pisar nos sentimentos das pessoas, exatamente como fazem comigo. – Lucero desviou o olhar.

− Jamais repita isso. – eu enfatizei. – Você não pode mudar seu jeito de ser por causa dos outros. Você mesma diz sempre que a bondade e a sensibilidade são as maiores virtudes de um ser humano. Eu te amo desse jeitinho que você é e por mim ninguém nunca te machucaria. Infelizmente eu não posso impedir que você caia, mas posso estar aqui sempre para te levantar e te fazer feliz de novo.

Lucero se virou de frente para mim e me abraçou com mais força, apenas derramando mais lágrimas. Eu retribuí o abraço e esperei pacientemente que ela se acalmasse.

− Se meu pai estivesse aqui nada disso teria acontecido. Ele não teria deixado ninguém tirar você de mim. – Lucero se virou encarando o teto, mas segurando minha mão.

− Posso te perguntar uma coisa? – eu falei e Lucero assentiu. – Promete que não vai chorar de novo?

− Prometo tentar, você sabe que eu não me controlo. – Lucero forçou um sorriso. – Mas pergunte, meu amor, eu irei responder o que você quiser.

− O que houve com o meu avô?

− Ele tinha problemas de coração, mas ninguém sabia. Quer dizer, não sei, talvez ele soubesse e não quis contar... – Lucero suspirou. – Até que quando eu estava no final da sua gestação, ele simplesmente... Enfartou. – ela fechou os olhos com força.

− Meu Deus, imagino como deve ter sido difícil pra você. – eu apertei a mão de Lucero.

− E foi. Depois que engravidei, ele, Toño, Alex e Ernesto eram os únicos que não me olhavam com desgosto. Ele estava feliz pela primeira neta, fazia mil planos incluindo nós duas e chegou a dizer que cuidaria de você se eu quisesse voltar a fazer show, acredita? – Lucero e eu sorrimos de leve. – Mas infelizmente ele não chegou a ver você e nem a viver todos os planos que tinha conosco. – ela derramou uma lágrima e eu enxuguei suavemente. – Eu fiquei muito mal quando ele se foi, mas sabe quem me deu forças? Você que estava bem aqui. – Lucero colocou a mão na barriga e me encarou com os olhos marejados. – Deus havia levado meu pai, mas deixou você para mim como consolo, muitas vezes eu chorava sem ninguém para me abraçar ou me escutar e eu falava com você. Parecia que você me escutava porque se mexia como se dissesse "mamãe, eu estou aqui, você não está sozinha" e quando eu via, já estava sorrindo porque apesar de tudo que estava acontecendo na minha vida, eu tinha você que estaria para sempre comigo. – ela acariciou meu rosto. – Aí eu te perdi. – Lucero sussurrou.

Nessas alturas até eu já chorava com as palavras de Lucero, mas ela continuou e eu deixei que ela desabafasse. Talvez conversar comigo aliviasse toda aquela tristeza.

− Depois disso, eu fiquei dez vezes pior. – Lucero deu uma pausa soluçando e me abraçou mais uma vez. – Eu havia perdido as duas pessoas que eu mais amava na vida em menos de um mês. Dei uma pausa na carreira dizendo que estava cansada, por sorte meus fãs acreditaram e não notaram minha tristeza. Casei, tive seus irmãos e percebi que se continuasse trancada em casa eu iria afundar cada vez mais na minha dor e isso não traria vocês de volta, então resolvi fazer o que eu mais amava e sabia fazer. Meti a cara em vários projetos e assim fui vivendo, até me separar, mas essa parte você já sabe. – ela me encarou e eu assenti. – Quando eu te vi pela primeira vez, eu senti que já te conhecia há muito tempo, tanto que me senti confortável em desabafar com você e aquele abraço que você me deu foi o melhor que recebi em todos esses anos. – Lucero me apertou. – Eu sentia necessidade de te proteger, cuidar de você como fazia com Jos e Lucerito e quando descobri que você era a minha menina, senti um misto de alegria por saber que você está viva e tristeza por saber que perdi os melhores anos da sua vida, afinal você já é uma mulher feita, formada e não precisa mais de mãe te dizendo o que fazer.

Por um momento não consegui dizer nada que aliviasse sua dor, eu sabia que uma hora ou outra, Lucero falaria sobre ter me encontrado já adulta, pois toda mãe sonhava em ver os primeiros passos, as primeiras palavras, a primeira janelinha, os primeiros dias na escola e ela teve tudo isso arrancado dela de maneira brutal. Até que senti que havia chegado a hora de contar toda a verdade a ela. Eu me sentei e beijei sua testa, fazendo ela me olhar sem entender. Abri o guarda roupa e tirei uma caixa enorme de cima, colocando na cama em frente a ela e voltando a me sentar.

− O que é isso? – Lucero continuou me olhando, confusa.

− Abra. – eu sorri, limpando minhas lágrimas.

Lu deu de ombros e abriu a caixa, olhando o que tinha dentro e abrindo a boca, surpresa. Ela puxou milhares de DVDs, CDs, revistas, porta retratos e cartinhas de toda a carreira dela. Nem eu sabia porque havia levado tudo aquilo para o México, mas cada coisinha daquela era como um tesouro para mim e naquele momento eu entendi que eu precisei levá-las para mostrar no momento certo. Eu a olhava sorrindo enquanto ela lia uma das cartas.

− Isso... É seu? – Lucero gaguejou e eu assenti. – Então você era... – ela falava devagar, mas eu a interrompi.

− Sua fã? Na verdade, ainda sou. Eu te conheço há anos, desde a época que Laços De Amor passou no Brasil e posso dizer que eu te amo desde esse dia.

− Por que você nunca me contou isso?

− Porque eu tive medo de não quererem me contratar e lá se ia minha chance de ficar perto de você. – eu suspirei, abaixando a cabeça. – Me desculpa por te esconder isso por tanto tempo, é que aconteceram tantas coisas, você descobriu que sou sua filha e... – eu falava alvoroçada e ela me interrompeu.

− Eu entendo, minha vida, Ernesto é meio chato com isso mesmo. – Lucero coçou a nunca. – Mas por que resolveu me mostrar isso hoje?

− Agora chegamos ao ponto que eu queria. – eu sorri e afastei as coisas, me aproximando de Lucero e acariciando seu rosto. – Você disse que não esteve presente em minha vida e com isso, eu provo que você sempre esteve. Mesmo sem imaginarmos que tudo isso aconteceria, nós sempre estivemos juntas. Quando eu estava triste, doente, estressada, eu só me acalmava quando te ouvia cantar ou assistia algum vídeo seu. Quando tive a primeira decepção amorosa, você não imagina o quanto eu quis deitar no seu colo e como estávamos longe, eu lia todos os seus conselhos e frases que pareciam ser enviadas diretamente para mim, parecia que você sabia o que acontecia comigo, assim como eu sempre soube de você. Quando você ficava triste, meu coração ficava apertado mesmo que eu não soubesse o motivo, eu conheço desde sempre cada olhar e sorriso seu ou quando você tenta fingir que está bem sendo que tudo que mais precisa é de um abraço. Não pense que é só por convivermos muito antes de sabermos de tudo, eu sempre senti uma ligação forte entre nós duas, sempre te admirei como pessoa e ídola, você sempre foi meu maior exemplo, então sim, você esteve comigo mesmo quando não sabia.

Ela me olhou chorando novamente e eu sentei em seu colo, a abraçando com força. Eu já devia ter me acostumado com esse jeitinho sensível da Lucero, mas pelo menos dessa vez ela chorava de alegria e emoção, pelo menos era o que eu esperava.

− Eu te amo tanto, filha. Você sempre sabe o que dizer para fazer eu me sentir melhor. – Lucero falou ainda com o rosto no meu pescoço.

− É o que uma filha deve fazer, não é? – eu sorri emocionada. – Olha para mim. – eu segurei no rosto de Lucero e enxuguei todas as suas lágrimas com carinho. – Eu juro que vou te dar todo o amor que te roubaram esses anos e que eu sempre guardei somente para você.

Suas lágrimas desciam incontrolavelmente e Lucero voltou a me abraçar com força enquanto soluçava.

− Desculpa chorar desse jeito, você sabe que eu sou sensível. – Lucero falou entre soluços.

− Eu entendo e já disse que amo esse seu jeitinho. – eu sorri. – Você sempre vai ter o meu colo quando quiser desabafar, descansar ou qualquer outra coisa. Mas procure se acalmar, certo? Nós estamos juntas e tudo vai dar certo.

Nós passamos mais alguns minutos naquela posição até Lucero se acalmar e depois dela me contar as histórias de cada foto que havia naquela caixa, nós adormecemos. Algumas histórias eu sabia de cor, afinal via tudo pela Internet, mas deixei que ela me contasse, fazendo uma expressão interessada e admirando seu jeito empolgado de me contar tudo sobre sua vida.

                                                                                                   ~ * ~

Para mim, esse é o capítulo mais emocionante de toda a história :( <3

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