Capítulo 38

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DIAS DEPOIS

Graças a Deus os terremotos não voltaram e nem tinham causado grandes estragos no nosso país. Eu continuava estudando para os concursos, Lucero me dava muito apoio para que eu chegasse ao meu objetivo. Minha outra mãe me ligava todos os dias e ficou muito feliz quando eu disse que iria visitá-la juntamente com Lu, claro. Elas até se falaram no telefone e se davam muito bem, para minha felicidade. Estava vendo televisão na sala quando o telefone tocou e Lu atendeu. Eu não prestei muita atenção na conversa até que ela se aproximou e me entregou o telefone.

− Amor, é para você. É do Brasil, deve ser importante. – Lucero me abraçou de lado.

INÍCIO DAS LIGAÇÕES

− Alô?

− Leti? Minha filha, aqui é a Neide. – dona Neide, minha antiga vizinha, falou com a voz embargada.

− Oi, dona Neide, tudo bem? Algum problema? – eu franzi o cenho, estranhando a ligação.

Dona Neide hesitou em falar e eu pensei na minha mãe. Eu tinha certeza de que algo tinha acontecido com ela.

− Não queria ser eu a te dar essa notícia, mas como você está longe, eu preciso te dizer. A sua mãe... – dona Neide começou a chorar. – A sua mãe enfartou.

− Meu Deus. – eu sussurrei em choque e Lu me olhou, assustada. – Como ela está? – eu perguntei com medo da resposta.

− Ela não está, Letícia. – dona Neide soluçou. – Ela morreu.

− Não! – eu gritei, o telefone caiu da minha mão e Lucero me abraçou com mais força.

FIM DA LIGAÇÃO

Eu estava em estado de choque. Minha mãe era tudo na minha vida, apesar de estar longe dela e mais perto da minha outra mãe, eu a amava e não seria tão injusta a ponto de não visitá-la frequentemente. O meu maior arrependimento era não ter ido vê-la enquanto era tempo, agora eu nunca mais teria seus abraços e seus conselhos.

− Calma, meu amor. – Lucero beijou minha cabeça e eu a apertei. – Jos! Filho! – ela chamou alto e Jos apareceu assustado. – Leve sua irmã para o quarto dela, por favor. – ele assentiu e me soltou da Lu. – Mamãe já está indo ficar com você, tenha calma. – seus olhos marejaram e ela pegou o telefone, voltando a conversar com dona Neide.

José Manuel me levou ao meu quarto e me sentou na cama. Eu não chorava, permanecia com a cabeça abaixada sem me mexer. Como eu iria viver sem a minha mãe? Eu tinha a Lucero, mas eu precisava das duas e nunca poderia tê-las no mesmo ambiente.

− O que houve com você? – Jos se sentou do meu lado.

− Minha mãe adotiva está morta. – eu falei baixo sem olhar para Jos.

− Eu sinto muito. – Jos falou e eu assenti.

Lucero entrou no quarto me olhando e Jos se levantou.

− Bom, acho que vocês precisam conversar, não é? – Jos suspirou. – Fica bem, maninha. – ele beijou minha testa, abraçou Lucero e saiu.

Lucero se sentou onde José Manuel estava antes e me abraçou com força. Só então eu consegui chorar tudo o que estava engasgado desde a hora que recebi a notícia.

− Desabafe, minha filha. – Lucero passava a mão levemente nas minhas costas. – Você já cuidou de mim tantas vezes, agora sou eu que devo fazer meu papel de mãe, não é? – a voz dela embargou. – Você não está sozinha, eu vou estar sempre aqui para cuidar de você.

− Eu estou me sentindo tão culpada. – eu solucei.

− Por quê? – Lucero segurou em meu rosto. – Não, meu amor, talvez a culpa seja minha. De certa forma eu exigi que você viesse ficar comigo, fui um pouco egoísta e só adiei sua ida ao Brasil.

− Não mesmo, eu que devia dar um jeito de dar atenção as duas sem largar nenhuma, as duas são minhas mães e precisam de mim. – eu soltei Lucero e ela limpou meus olhos.

− Mas não é você que sempre diz que Deus sabe o que faz? Então, por mais triste que seja, foi Ele quem quis assim e nós não podemos questionar Suas decisões. Seja forte, minha filha, sua outra mãe não gostaria de te ver assim.

− Você tem razão. – eu respirei fundo passando a mão no rosto. – Eu preciso ir ao Brasil. – eu suspirei. – Droga, eu estou me sentindo tão perdida. – eu voltei a chorar.

− Eu estou aqui para te encontrar quantas vezes forem necessárias. – Lucero me puxou para o seu colo. – Vai ficar tudo bem, eu prometo. Mesmo parecendo que não, você vai superar, afinal você é forte, meu amor. É você quem me puxa da escuridão, quem tira todos os meus medos e me mostra que eu também posso ser forte, por isso eu sei que você pode superar. – os olhos dela se encheram de lágrimas. – Eu vou ficar aqui até você dormir, certo? Depois vou resolver sobre as nossas passagens.

− Nossas?

− Sim, ou você acha que eu vou deixar você passar por esse momento difícil sozinha?

− Mas será que Alex, Ernesto e meus irmãos não vão... – eu perguntava preocupada, mas Lucero me interrompeu.

− Não se preocupe com isso, eu vou resolver tudo. Só quero que você descanse, tudo bem? – Lucero beijou minha testa.

Eu assenti e me ajeitei no colo de Lucero. Eu precisava dela mais do que nunca.

− Lu?

− Pois não, meu bem? – Lucero me olhou com atenção.

− Canta a minha música?

Lucero assentiu sorrindo e começou a cantar Filha Linda. Eu adormeci, ainda sentindo suas mãos contornando carinhosamente o meu rosto.

                                                                                           ~ * ~

Letícia agora só tem uma mãe :(

Meus amores, no primeiro dia do Enem, eu me esqueci de desejar boa sorte para quem estiver aqui que for fazer, então hoje serve para os dois dias. Que vocês façam uma boa prova, a primeira etapa já passou e vocês chegaram até aqui, então tudo vai continuar dando certo <3

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