III.

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Nora Willians.

Após o término da aula, corri para a lanchonete do Mark. Eu trabalhava meio expediente lá, o que me ajudava com uma grana extra e com a quantia que eu guardava pra faculdade.

— Atrasada... – Mark disparou assim que eu entrei pela porta.

— Aula! – eu disse, passando por ele. Mark riu e cerrou os olhos.

— Vai se trocar! – ele disse e sorriu amigável.

Mark era um chefe muito bom. Ele sabia que eu precisava dividir meus horários entre estudar, cuidar de minha mãe, trabalhar e, quando podia, treinar. Eu era garçonete, então nos momentos sem trabalho eu estudava um pouco.

Uma mulher que ía na lanchonete todos os dias, sempre me dava uma gorjeta bem generosa. Eu adorava atender ela, ela era muito simpática e alegre. Eu estava apenas esperando que ela entrasse pela porta com aquele perfume doce que marcava bem por onde ela estava.

E não deu outra. Minutos depois, ela entrou em cima de saltos e com vários banners na mão. Seu cabelo estava preso em um coque e ela usava uma roupa elegante, como sempre.

— Boa tarde, mocinha. – ela disse e se sentou na banqueta em frente do balcão.

— Boa tarde... o que a senhora vai querer hoje? – perguntei, amigável.

— Ah, hoje nada. Eu vim apenas distribuir isso. – ela escorregou um papel pelo balcão e eu o peguei.

— Uma competição de patinação? Nossa... como vai funcionar? – eu perguntei, curiosa.

— É aberta pra quem quiser se inscrever. Depois haverá um teste e selecionarão os 20 melhores. Os 20 irão competir entre si em fases, e cada fase diminuem os participantes. Até que os dois primeiros terão que competir um contra o outro e quem vencer ganha um prêmio de 10 mil dólares. Pessoas do país inteiro vão competir. – ela falou, me olhando fixamente.

— Você devia participar... – Mark apareceu por trás de mim. — Você é talentosa.

— Você patina? – a loira perguntou.

— Não... bom... sim, mas não tão bem. Eu nunca passaria para as fases e eu também não tenho treinador ou algo assim... sei lá, é loucura. – balancei a cabeça negativamente e afastei o papel.

— Bom, pense sobre isso. – ela se levantou e mexeu na bolsa dela. — Se você quiser se inscrever, o site está no banner. Esse é meu cartão. Se tiver qualquer dúvida, me ligue. – ela sorriu, amigável, e me entregou um cartãozinho. Seu nome era Danielle. Eu peguei o cartão e sorri fraco, vendo ela saindo pela porta.

— Você devia tentar. – Mark se apoiou no balcão, me olhando. — O prêmio é bom... e você sabe... te ajudaria muito.

— Mark... eu sei... mas... – fiz uma pausa e respirei fundo. — Olha eu não tenho nem treinador, não tenho aonde treinar... É loucura!

— Você não precisa de um treinador... você é boa o suficiente sozinha. – ele sorriu. — E quanto ao lugar... se você quiser, eu conheço os donos do ginásio aonde o time de hóquei treina. São meus velhos amigos. Eu poderia falar com eles para conseguir que você treine lá depois do expediente.

— Eu te agradeço muito Mark... mas não. Não vou fazer isso. É loucura. – eu disse e sorri fraco.

— A proposta fica em pé. – ele se afastou do balcão. — Pense nisso, Nora. Seria uma grande oportunidade. – ele sorriu e saiu andando para a cozinha.

Tudo bem, era uma oportunidade única. Seria uma oportunidade maravilhosa para mim... mas eu tinha medo. Medo de acabar me decepcionando comigo mesma. Medo de errar.

Passei o dia todo pensando naquilo. Ao fim do expediente, minha cabeça só conseguia pensar na frase "O ganhador leva dez mil dólares".

Assim que cheguei em casa, tomei um banho e lavei meu cabelo. Coloquei um pijama confortável e desci para a cozinha, aonde minha mãe preparava batatas assadas.

— Nem vi você chegar. – minha mãe disse, tirando as batatas do forno.

— Cheguei antes de você e fiquei no quarto estudando. Tinha alguns deveres pendentes. – respondi, já pegando os pratos no armário.

— Você estuda tanto... Aliás, como foi seu primeiro dia de aula? – mamãe falou e colocou a forma na mesa.

— Foi ótimo. Só um garoto esbarrou comigo no corredor, mas nada demais. – ri fraco e dei de ombros. — E o seu de trabalho? Como foi voltar ao banco? Muitas pessoas novas?

— Foi divertido. Meg está trabalhando lá ainda. O resto são praticamente todos bancários novos. Vou me acostumar. – minha mãe respondeu enquanto colocava as batatas nos nossos pratos.

— Vai ter uma competição de patinação no gelo... – eu falei, como quem não quer nada. — Mark disse que eu devia participar. O prêmio é de dez mil dólares. Me ajudaria a pagar a faculdade. – disse cabisbaixa.

— Nora... – ela suspirou. — Se você quiser participar, não vou te proibir. Mas participe porque você gosta de patinar, não pelo prêmio. – mamãe colocou a mão sob a minha. — Eu prometo que nós daremos um jeito na faculdade. Se você quer participar dessa competição, eu te darei todo o apoio possível.

— Mãe... eu te amo muito.

— Eu também te amo meu amor. – ela falou serena.

Terminamos o jantar relembrando de quando eu era menor e passava literalmente o dia patinando. Lembramos do meu pai, o que acabou apertando a saudade. Ele faz muita falta.

Minha mãe ficou responsável por lavar a louça e guardar tudo. Dei um abraço e um beijo nela e subi para meu quarto.

Abri o notebook e fiquei olhando para o site das inscrições. Será que eu realmente deveria fazer aquilo?

Eu fiz. Enviei a ficha de inscrição. Agora não tinha mais volta. Eu estava inscrita.

cold as ice ⌗ daniel seavey.Onde histórias criam vida. Descubra agora